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Quem nos representa? artigo de Patrícia Aparecida Pereira Souza de Almeida

 

Manifestação na Avenida Paulista dia 20 de junho de 2013. Foto: Marcos Santos/USP Imagens
Manifestação na Avenida Paulista dia 20 de junho de 2013. Foto: Marcos Santos/USP Imagens

 

[EcoDebate] Assistindo a tudo o que eu vi e li nos noticiários, eis a pergunta que não quer calar: Quem nos representa?

O discurso de nossa presidenta foi apaziguador e convincente para os mais desavisados. Mas como acreditar em um discurso de quem não considera legítimo o interesse dos índios?

Que em nome de um suposto Plano de Aceleração do Crescimento desconsidera direitos estabelecidos em nossa Constituição Federal?

Que descaracteriza a FUNAI como responsável pela demarcação das terras indígenas em nome de um pseudo-progresso que vai beneficiar grandes conglomerados a custo de muito sofrimento de um povo que não tem representatividade.

De um povo, que não oferece contrapartida de troca. Que não tem nada a oferecer, senão suas terras, seus recursos naturais, os quais são tomados sem o direito de reclamar, já que ninguém os representa.

E quando alguém ousa reivindicar algum direito difuso – caso do meio ambiente, direito de todos, sem um único e exclusivo dono-, como é o caso do Ministério Público, aí vem os parlamentares, e ainda querem, com a PEC 37, acabar com o poder de polícia do único capaz de defendê-los.

Não é novidade que o povo anda descontente, mas felizmente, a sociedade acordou.

Cansada de tanta negligência na saúde, na educação, pegou o bonde dos 20 centavos para demonstrar sua insatisfação.

Chega de farra com o dinheiro público!

Os altos impostos pagos por serviços que nunca chegam, nunca melhoram foram passados a limpo com os vultuosos estádios construídos para a Copa.

Afinal, tudo tem limite!

E se o Lula achou que ia vender o Brasil e calar a boca dos brasileiros com futebol…

Ledo engano!

É justamente o palco do futebol que levará a derrocada do PT.

Mas, não vamos perder o foco.

Quem nos representa?

Os interesses políticos, partidários, eleitoreiros falam mais alto frente aos grandes conchavos e interesses econômicos dominantes que se sobrepõem aos interesses sociais do bem comum (olha só “As tragédias dos comuns” de Gardin, novamente).

Mas não é só isso.

Aí fica fácil taxar como vândalos e baderneiros aqueles que sempre se sentiram alijados do sistema.

Será só isso mesmo?

Ou um reflexo daquele que sempre foi marginalizado pelo sistema. Não tem saúde, educação, saneamento, transporte, moradia digna e, muito pior, emprego que o faça se sentir cidadão dotado de direitos e deveres dentro de uma sociedade democrática de direito.

Resta a ele o quê? Quem os representa?

A grande massa de jovens cara pintadas, distribuindo flores aos policiais e clamando pelo fim da corrupção?

Movimento lindo e legítimo, não há quem possa dizer o contrário.

Mas atire a primeira pedra, se esses mesmos jovens sentem, de verdade, a mesma revolta dos “pseudo-cidadãos” que barbarizam pelas ruas, monumentos públicos e saqueiam lojas.

Que além do ódio e da revolta, nunca sentiram que em momento algum fizeram parte dessa aldeia global dominada pelo sistema capitalista de produção e consumo. A menos que seja, na clandestinidade.

Quem os representa?

Da mesma forma, quem representa os policiais que ganham salários baixos, vivem sob pressão, colocam sua vida em risco e, definitivamente, não foram treinados para conter jovens cabeças pensantes, clamando por um país mais justo, em uma democracia tão jovem e nem um pouco acostumada a estes arroubos de consciência. Talvez, a cada 10, 20 anos, apenas.

Então, chega um momento em que eles se confundem.

Jovens manifestantes protegem policiais encurralados em uma agência bancária e policiais atiram bombas em jovens estudantes manifestantes democráticos.

Ou seja, é a mais sincera demonstração de que ninguém sabe ao certo qual é o seu papel.

Mas uma coisa é certa, sabendo ou não, o movimento não pode morrer. A reivindicação é justa e carrega em si a legitimidade de uma sociedade democrática de direito e, por isso mesmo, mais transparente em suas negociações.

Cabe agora, aos nossos governantes fazerem o seu papel.

Qual seja?

Representando a sociedade pela qual foram eleitos. Cuidando de seu povo e zelando pelo bem comum. Afinal, são eles que deveriam ser os primeiros a impedir que os interesses de alguns se sobrepusessem sobre outros a ponto de se auto-destruírem.

Patrícia Aparecida Pereira Souza de Almeida é Bióloga, Mestre em Hidráulica e Saneamento, Doutora em Ciências da Engenharia Ambiental e professora-tutora da área de meio ambiente da FGV Online.

 

EcoDebate, 24/06/2013


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