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Famílias de baixa renda que recebem o Bolsa Família gastam mais com alimentos considerados saudáveis

 

legumes
Foto: Marcos Santos/USP Imagens

 

As famílias de baixa renda beneficiadas pelo Bolsa Família apresentaram maiores gastos com alimentos considerados saudáveis, como hortaliças e carnes frescas, revela pesquisa da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP. O estudo realizado pela nutricionista Ana Paula Bortoletto Martins a partir das informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) indica que a disponibilidade de calorias entre as famílias que recebem o benefício é maior do que entre aquelas que não recebem o auxílio. Não houve diferenças no consumo de alimentos industrializados prontos para o consumo, com maior quantidade de sal, açúcar e gorduras.

A pesquisa avaliou o impacto do Programa Bolsa Família sobre a aquisição de alimentos entre famílias de baixa renda no Brasil, a partir dos dados da POF de 2008-09, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “O levantamento registrou informações sobre 55.970 domicílios em todo o País”, conta a nutricionista. “A partir das respostas dos questionários sobre rendimentos, foi possível identificar 11.326 famílias com renda per capita inferior a R$ 210 reais por mês, das quais 48,5% são beneficiadas pelo Bolsa-Família”.

O benefício é concedido pelo governo federal a famílias com renda per capita inferior a R$ 70, ou com renda inferior a R$ 140 que possuam crianças, adolescentes, gestantes ou nutrizes (mulheres em fase de amamentação). “A pesquisa procurou agrupar domicílios que tivessem indicadores sócio-econômicos semelhantes, como renda e escolaridade, para permitir a avaliação do Bolsa-Família independente de outros fatores que influenciam as escolhas alimentares”, aponta Ana. O estudo é descrito em tese de Doutorado orientada pelo professor Carlos Augusto Monteiro, da FSP.

Entre as famílias beneficiadas, o gasto com alimentos foi maior, assim como foi maior a disponibilidade de calorias para o consumo. “Houve maior aquisição de alimentos in natura ou minimamente processados, como carnes, hortaliças, raízes e tubérculos”, destaca a nutricionista. “Também houve um aumento do gasto e, em consequência, da disponibilidade calórica de ingredientes culinários processados, como açúcar e óleo vegetal”.

Alimentos saudáveis
O Bolsa-Família não modificou as despesas com alimentos industrializados, prontos para consumo. “Apesar da concessão do benefício, por si só, não garantir uma melhora efetiva na qualidade da alimentação das famílias, é significativa a maior compra de alimentos considerados saudáveis, e não de doces, salgados e embutidos, entre outros produtos com grande densidade energética e com perfil nutricional desfavorável”, ressalta Ana. “Os alimentos prontos para o consumo devem ser consumidos eventualmente e em pequenas quantidades, porque possuem, em geral, alta quantidade de sal, açúcar e gorduras”

Os dados da POF indicam que a disponibilidade média de calorias por pessoa no Brasil é de 1.900 kilocalorias (kcal) por dia. Na população de baixa renda, o número de calorias disponível varia entre 1.100 e 1.200 kcal ao dia. “A recomendação de cosumo diário do Ministério da Saúde é de 2.000 kcal por dia para adultos. Entretanto, é preciso fazer a ressalva de que os números sobre disponibilidade calórica da POF não levam em contra alimentos comprados e não consumidos e nem aqueles consumidos fora do domicílio”, explica a nutricionista. “Ainda assim, o Bolsa-Família permitiu que as famílias beneficiadas possuíssem aproximadamente mais 100 kcal na disponibilidade de calorias diária por pessoa”.

A pesquisa não verificou uma diferença significativa entre a disponibilidade de arroz e feijão entre famílias beneficiadas e não-beneficiadas. “No entanto, entre a população de baixa renda, o consumo de feijão é superior à média de toda a população”, ressalta Ana. “O arroz com feijão é uma combinação tradicional na culinária brasileira e possui um perfil nutricional adequado, embora, infelizmente, o consumo desses alimentos venha apresentando uma queda gradativa na população em geral”.

Para a nutricionista, políticas públicas visando a melhoria da qualidade da alimentação devem ser intersetoriais e se estender a toda a população. “Inclusive no caso dos beneficiários do Bolsa Família elas devem ser aplicadas em conjunto”. Ana cita o exemplo de uma das condicionalidades do programa, que exige o comparecimento das famílias nas Unidades Básicas de Saúde (UBS). “Esse momento poderia ser aproveitado para agregar outras políticas para mudança dos hábitos alimentares e ampliar o acesso a serviços básicos de saúde a população mais vulnerável. Outra iniciativa de maior abrangência seria a concessão de incentivos fiscais para reduzir os preços de alimentos saudáveis, como frutas e hortaliças”.

 

Matéria de Júlio Bernardes, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 14/06/2013


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