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De nossas omissões, livrai-nos Senhor! artigo de Johannes Gierse

 

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[EcoDebate] Faz mais de uma semana que ele foi eleito e apresentado à Igreja Católica e à humanidade toda como o novo bispo de Roma. Desde então, muitos se encantam e reanimam com as palavras e os gestos do Papa Francisco que há muito tempo estávamos desacostumados a ver e ouvir de um pontífice.

Mas, também faz uma semana que não param os comentários a respeito do passado do padre jesuíta Jorge Mario Bergoglio durante a ditadura argentina: uns dizem que ele ajudou os presos e acolheu pessoas perseguidas, outros o denunciam de ter “colaborado” com o regime político daquele tempo, outros ainda, questionam que ele não confrontou e não denunciou suficientemente a ditadura e por isso teria se tornado omisso.

Meus pais vivenciaram do início ao fim a Segunda Guerra Mundial. O namoro destes dois jovens foi logo interrompido em 1939, quando o José (20 anos) foi obrigado a entrar no exército para fazer guerreia, primeiramente contra a França, em seguida, contra a Rússia donde voltou sem o braço direito (a maioria dos soldados nem voltou vivo!).

Mesmo assim, casaram-se em 1947 e lutaram para reerguer a vida – como todo povo alemão fez em pouco tempo; porém, as chagas deste passado sangram nunca estancaram. Tanto em casa como na sala de aula a nova geração dos filhos sempre levantou os mesmos questionamentos: Porque vocês deixaram o Hitler chegar ao poder? Porque o povo todo e a Igreja em especial não fizeram nada para derrotar o regime nazista? Porque vocês deixaram acontecer que os judeus sofressem o holocausto? Porque vocês se omitiram? – As respostas dadas nunca foram convincentes para nós…

Hoje estou convicto de que em vez de julgar as omissões ou culpas dos tempos e das gerações passados – “não relembreis coisas passadas, não olheis para fatos antigos” (Is 43,18) era a 1ª leitura do 5º domingo da Quaresma – devemos prestar muita atenção no que tange ás nossas omissões frente aos problemas atuais.

As críticas e questionamentos dirigidos aos passados sombrios devem nos sensibilizar lançando e comprometendo-nos para o futuro melhor! Deus nos livre a nos omitir, amedrontar ou acomodar de nossa responsabilidade diante dos gritos dos empobrecidos, injustiçados e da Mãe Terra que geme em dores de parto! Caso contrário, nossos filhos e netos nos perguntarão: “Porque não fizeram nada, tão pouco? Não sabiam? Mentira!”

Ao celebrar no primeiro dia do conclave (12/03) a Eucaristia numa comunidade, perguntei ao povo como gostaria que fosse o novo papa. As respostas foram diversas; acrescentei a minha: “Ele tem quer ser bem ecológico, como alguém que leva água viva ao mundo”. É que naquele dia as leituras falaram da água que saem das portas do templo e da piscina de Betesda, ao mesmo tempo em que o noticiário mostrou outra vez imagens chocantes da seca no Nordeste.

Os sinais que o papa Francisco realizou nestes primeiros dias confirmam minha esperança! Ele demonstra-se altamente sensível e não omisso á questão ecológica que será o norte de sua missão:

  • Dia 16 de março, diante dos jornalistas, ele disse: “E assim surgiu o nome no meu coração: Francisco de Assis. Para mim, é o homem da pobreza, o homem da paz, o homem que ama e preserva a criação; neste tempo, também a nossa relação com a criação não é muito boa, pois não?”

  • Na sua homilia na missa de inauguração o bispo de Roma interpretou a vida de São José desta forma: “…a vocação de guardião não diz respeito apenas a nós, cristãos, mas […] é simplesmente humana e diz respeito a todos: é a de guardar a criação inteira, a beleza da criação, como se diz no livro de Génesis e nos mostrou São Francisco de Assis: é ter respeito por toda a criatura de Deus e pelo ambiente onde vivemos. É guardar as pessoas, cuidar carinhosamente de todas elas e cada uma, especialmente das crianças, dos idosos, daqueles que são mais frágeis e que muitas vezes estão na periferia do nosso coração”.

Resumindo: Não importa (muito) o que o papa fez ou deixou de fazer no passado, importa o que pretende fazer daqui para frente. E nós, “guardamos com amor aquilo que Deus nos deu” (papa Francisco)?

Diante da aprovação recorde da pessoa (80%) e do Governo (63%) Dilma Rousseff que faz questão de realizar a qualquer custo o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e do recorde de vítimas da estiagem no Nordeste e das enchentes no Sudeste – especialmente no Rio de Janeiro –, tenho minhas dúvidas! Só não enxerga essa interdependência de fatos quem é omisso à questão do aquecimento global! De nossas omissões, livrai-nos Senhor!

Guardar Jesus com Maria, guardar a criação inteira, guardar toda a pessoa, especialmente a mais pobre, guardarmo-nos a nós mesmos: eis um serviço que o Bispo de Roma está chamado a cumprir, mas para o qual todos nós estamos chamados…: Guardemos com amor aquilo que Deus nos deu!” (Francisco, bispo de Roma)

Frei Johannes Gierse, franciscano, mestrado em missiologia, atualmente em Boa Vista-Roraima.

EcoDebate, 28/03/2013


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