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Aquecimento Global: Nas Filipinas, o preço da nossa inação,artigo de David Pilling

 

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[Valor Econômico] Na semana passada, Naderev Sano, principal negociador das Filipinas nas conversações sobre mudanças climáticas em Doha, rompeu em prantos. Enquanto delegados de todo o mundo estavam empenhados na discussão de sua não reação às mudanças climáticas, a terra natal de Sano estava sendo devastada por um tufão real. Ele não hesitou em vincular a catástrofe ao aquecimento mundial. “Eu apelo aos líderes de todo o mundo para abrir os olhos para a dura realidade que enfrentamos”, disse.

O tufão Bopha foi classificado como um supertufão de categoria 5. Isso significa que foi realmente grande. Matou mais de 700 pessoas ao atravessar a ilha meridional de Mindanao a uma velocidades de 260 km/h. Mais de 800 pessoas ainda estão desaparecidas. Supondo que nenhuma delas seja encontrada, em termos de vítimas humanas, o Bopha terá sido mais do que cinco vezes mais catastrófico do que o furacão Sandy, que chamou a atenção das pessoas em outubro, ao se abater sobre a costa leste dos Estados Unidos.

Embora as autoridades filipinas soubessem há dias que o Bopha atingiria seu país, não poderiam ter sabido especificamente para onde se dirigia. Normalmente tufões não se deslocam tanto para o sul, às proximidades do Equador.

As atividades empresariais estão vulneráveis. Em décadas recentes ocorreu uma migração da produção para a Ásia. O Sudeste Asiático é uma parte vital dessa cadeia de suprimentos muitas vezes associada ao rótulo “made in China”.

“Com as mudanças climáticas, é difícil descobrir quais regiões são propensas a ser alvos de tufões”, disse-me César Purisima, o secretário de Finanças, em Manila. Albert del Rosario, o secretário de Relações Exteriores, disse que seu país é um dos mais vulneráveis do mundo às mudanças climáticas.

É quase impossível relacionar um evento climático específico aos efeitos mais amplos das mudanças climáticas. Jean-Pascal van Ypersele, vice-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, buscou efetivamente estabelecer o vínculo no caso do furacão Sandy, tendo afirmado que o fenômeno foi provavelmente menos uma “coincidência” do que um prenúncio de futuros eventos climáticos mais extremos.

Predominantemente, estamos limitados a vislumbrar padrões de longo prazo. No caso das Filipinas, esses padrões parecem alarmantes. O número de inundações e tempestades severas que vêm afetando o arquipélago aumentou mais de cinco vezes desde 1960. O Sudeste Asiático, ao que parece, é uma das regiões mais vulneráveis no mundo. Lar de aproximadamente 600 milhões de pessoas, tem grandes litorais, densidades populacionais elevadas em áreas costeiras e forte dependência da agricultura para sua subsistência.

Mindanao é predominantemente rural. No entanto, em risco ainda maior para o Sudeste Asiático – e além dele, para a Ásia como um todo – estão as cidades populosas com alto risco de inundação. Em 2007, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) publicou um estudo sobre megacidades sob risco de inundações e supertempestades. Nada menos do que 15 das 20 principais ficam na Ásia, e todas as oito mais ameaçadas situam-se na região. São Bombaim, Daca, Cidade de Ho Chi Minh, Guangzhou, Xangai, Bangcoc e Yangon. Manila, grande parte da qual ficou debaixo d”água, em agosto, sequer foi incluída nessa lista.

As atividades empresariais estão vulneráveis. Em décadas recentes, ocorreu uma migração da produção para a Ásia. O Sudeste Asiático é uma parte vital dessa cadeia de suprimentos muitas vezes associada ao rótulo “Made in China”. Quando as inundações atingiram a Tailândia no ano passado, a produção de automóveis e de computadores foi paralisada em outros países. As inundações na Tailândia acabaram sendo uma das cinco mais onerosas catástrofes naturais para as seguradoras nas últimas três décadas.

Niall Ferguson, o historiador de Harvard, prevê uma recuperação na indústria de transformação americana. Ele cita a descoberta de abundantes fontes de energia baratas nos EUA, mas também refere-se a temores, na indústria, de interrupções na cadeia de suprimentos asiática, como resultado do clima volátil. “A América do Norte se sairá melhor do que o Leste Asiático”, escreve ele. “Desastres naturais vão ocorrer, sem dúvida, como nos lembrou o furacão Sandy. Mas ocorrerão em maior número do outro lado do Pacífico”.

As lágrimas de Sano resultam, em parte, da percepção da improbabilidade de os seres humanos agirem com suficiente rapidez para reverter a tendência. O Sudeste Asiático sozinho representa apenas 12% das emissões de CO2, e por isso poderia, na melhor das hipóteses, fazer uma diferença marginal, caso pudesse deter o desmatamento e adotar formas menos poluentes de geração de energia. Seja como for, o Bopha não será a última tempestade tropical devastadora a atingir as Filipinas.

Com isso, resta a opção de uma adaptação ao que parece cada vez mais inevitável. As Filipinas estão procurando melhorar sua aptidão para enfrentar desastres e criar sistemas de alerta antecipado. O país está produzindo mapas de áreas de risco e criando proibições ao desmatamento que terá dificuldades em impor. O país também está buscando reprimir a mineração ilegal, que pode agravar riscos de deslizamentos de terra. Não é muito. Mas, em vista de recursos limitados e de uma comunidade internacional que prefere falação em vez de ação, isso é tudo o que poderá ser, realisticamente, feito. (Tradução de Sergio Blum)

David Pilling é o editor de Ásia do Financial Times

Artigo no Valor Econômico, socializado pelo ClippingMP.

EcoDebate, 14/12/2012

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