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Artigo

A população do Haiti em 2100, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

A população do Haiti em 2100

 

[EcoDebate] O Haiti é o país mais pobre do Hemisfério Ocidental. O país ocupa cerca de um terço do lado ocidental da ilha Hispaniola (primeira terra das Américas visitada por Cristovão Colombo, em 1492), enquanto a Republica Dominicana ocupa o lado oriental da ilha. O Haiti foi o primeiro país a acabar com a escravidão (em 1794) e o segundo país das Américas a conquistar a independência (depois dos Estados Unidos). Mas os duzentos anos de independência não foram fáceis.

No século XX o país foi ocupado por tropas americanas entre 1915 e 1934 e administrado por vários governos ditatoriais nas décadas seguintes. Para complicar, em 12 de janeiro de 2010, um terremoto de grandes proporções, com magnitude de 7,0 na escala Richter, destruiu a maior parte da capital Porto Príncipe. Os desastres naturais aconteceram depois dos desastres políticos que retiraram toda a capacidade de governança estatal. O governo brasileiro tem mantido tropas militares de ajuda no território haitiano.

A população do Haiti era de 3,2 milhões de habitantes em 1950, cerca da metade do número de cubanos na mesma data. Em 2010, a população haitiana chegou a 10 milhões de habitantes e deve chegar a 11,3 milhões em 2020, ultrapassando o número da população de Cuba. Para 2050, a esimativa é de 14,2 milhões na projeção média, 16,3 milhões na projeção alta e 12,2 milhões na projeção baixa. Para 2100 a população do Haiti pode variar de 8,6 milhões a 23 milhões, dependendo do comportamento das taxas de fecundidade.

A taxa de fecundidade do Haiti caiu de 6,3 filhos por mulher em 1950-55 para 3,6 filhos em 2005-10. Mas o país ainda tem uma estrutura etária jovem e a atual taxa de fecundidade ainda é uma das mais altas da América Latina. O Haiti conseguiu reduzir a taxa de mortalidade infantil de 242 por mil em 1950-55 para 63,1 por mil e a esperança de vida subiu de 37,5 anos para 61 anos no mesmo período.

Mas a despeito da queda da mortalidade infantil e do aumento da esperança de vida o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Haiti estava 0,45 em 2010, pouco mais da metade do IDH de Cuba. Em termos ambientais, a pegada ecológica per capita do Haiti era de apenas 0,60 hectares globais (gha), porém a biocapacidade per capita era ainda menor 0,31 gha.

Desta forma, além de merecer a solidariedade internacional, o Haiti jamais poderá ser acusado de contribuir para o aquecimento global. Porém, mesmo com toda a ajuda estrangeira, no curto prazo o povo haitiano não deixará de sofrer as consequências da degradação ambiental provocada por pressões demográficas e econômicas que tem seus fundamentos no passado.

Evidentemente a pobreza do Haiti tem raízes históricas. Eduardo Galeano, por exemplo, considera que a tragédia do país tem causas estruturais e que falta apoio dos países ocidentais. Com certeza, o passado ajuda a explicar o alto grau de analfabetismo da população, a falta de emprego, as péssimas condições de saneamento e moradia, etc. A insegurança alimentar é enorme e o país em sido palco de constantes revoltas por causa da fome A população haitiana não tem acesso aos direitos básicos de cidadania e encontra-se em situação caracterizada como “armadilha da pobreza”.

A situação é agravada pela destruição da maravilhosa floresta encontrada intacta por Cristóvão Colombo, em 1492. Nas primeiras décadas do século XX, a floresta tropical do Haiti ainda cobria 60% do território nacional. Nos anos 1950 havia caido para 20% e hoje em dia restou apenas 2% da cobertura vegetal do país. A floresta haitiana foi arrancada, pedaço a pedaço. Segundo estimativas da ONU, cerca de 30 milhões de árvores foram cortadas a cada ano, nas últimas décadas. Como resultado do desaparecimento da vegetação houve redução da fertilidade do solo, aumento da erosão e da desertificação. Assim, as chuvas e os ciclones tropicais (comuns naquela região) aumentam as torrentes de lama e a esterilidade do substrato natural.

Para 2100, as estimativas da população apontam para algo entre 8,6 milhões e 23 milhões de habitantes. Evidentemente, quanto maior for o acesso aos direitos de cidadania menor será o número da população no final do corrente século. Na situação atual, o Haiti sozinho não tem forças para superar suas dificuldades. O mundo precisa ajudar o país a achar o caminho para a transição demográfica, o crescimento econômico saudável, o desenvolvimento humano e a sustentabilidade ambiental.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

EcoDebate, 26/10/2012

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