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Ser professor, por ofício, artigo de Nei Alberto Pies

 

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É muito natural que um filho aprenda a trabalhar ajudando o pai, com este a seu lado. Há muitas profissões e ofícios – digníssimos e necessários – que não se aprendem nos livros. A vida está cheia de tarefas que apenas se aprendem quando se trabalha nelas. (Paulo Geraldo)

[EcoDebate] Educar não é uma tarefa simples, mas um ofício que vamos aperfeiçoando ao longo de nossa vida profissional. O tempo que atuamos como professor, em sala de aula, nos garante certa experiência, mas é certo que, como ofício, educar sempre é um processo de permanente construção. Às vezes, determinadas experiências pedagógicas exitosas ou marcantes acabam imprimindo caráter de perpetuação de nosso jeito de ensinar. Por isso mesmo, sempre é importante separar, para compreender, os “ossos de nosso ofício” da dureza da realidade em que estamos a atuar, em nossas escolas. E semear esperança.

O dicionário de língua portuguesa define ofício como sendo “qualquer atividade especializada de trabalho; profissão; emprego; meio de vida”. Definir a especificidade de nosso ofício nem sempre é fácil, uma vez que o “produto” de nossos investimentos são as pessoas. O que define as pessoas é a capacidade de criar, de pensar e sua condição de liberdade. Certo é que nem sempre os conhecimentos que julgamos importantes batem com as necessidades, desejos e angústias das nossas crianças, adolescentes, jovens ou adultos. E nem sempre nos sentimos preparados para contornar os embaraços que estas situações provocam em nossa sala de aula.

De acordo com o que reza nossa Constituição, “a educação, direito de todos e dever do estado e da família, visa o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Os conceitos são abstratos, mas fundamentais para compreendermos o sentido de nosso ofício de educar. Trata-se de compreender que a educação invoca a integralidade, envolvendo todas as dimensões do ser humano. Neste sentido, educar significa construir as possibilidades de nos humanizar, de nos fazermos gente, sempre e em todo lugar.

Quem de nós trocaria de profissão? A maioria não trocaria, apesar de admitir a dificuldade de educar numa sociedade que educa na contramão da escola. Já a questão da realização pessoal de cada um e cada uma na escola tem a ver com as expectativas que construiu ao assumir a educação, como também com o grau de frustrações que acumulou ao longo de nossa vida profissional. Nem a escola e nem a família, sozinhas, mudarão o mundo se o mundo não decidir que é preciso mudar. Por isso mesmo, enquanto esta consciência coletiva não for majoritária na sociedade, nosso ofício de educar continuará árduo e penoso, não reconhecido.

O saudoso e querido educador Paulo Freire, ao se referir ao dia do professor, lembrou que “a data é um convite para que todos, pais, alunos, sociedade, repensemos nossos papéis e nossas atitudes, pois com elas demonstramos o compromisso com a educação que queremos. Aos professores, fica o convite para que não descuidem de sua missão de educar, nem desanimem diante dos desafios, nem deixem de educar as pessoas para serem “águias” e não apenas “galinhas”. Pois, se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda”.

Sejamos, pois, sempre portadores e agentes da esperança. E nos mantenhamos sempre dispostos a aperfeiçoar o ofício de ensinar pelo qual doamos uma vida toda.

Nei Alberto Pies, professor e ativista de direitos humanos.

EcoDebate, 15/10/2012

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One thought on “Ser professor, por ofício, artigo de Nei Alberto Pies

  • A profissão de professor está tão desvalorizada que sequer os telejornais falaram na data. Na BAND TV está passando um especial sobre a falta de educação dos jovens nas escolas; sobre as agressões que os professores sofrem. É inadmissível que ninguém tome uma atitude. Já trabalhei em escolas com certo grau de violência, mas os conflitos sempre foram resolvidos graças ao interesse da comunidade escolar (professores, pais, comerciantes, polícia, conselho tutelar). Todos as forças sociais devem ser chamadas para resolver os problemas da falta de educação. E os governos devem valorizar os profissionais com algo mais que palavras.

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