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Os desafios das disciplinas da área ambiental, artigo de Patrícia Aparecida Pereira Souza de Almeida

 

artigo

 

[EcoDebate] Hoje, é prática comum, todo mundo falar sobre meio ambiente. É politicamente correto pensar em desenvolvimento sustentável, mas como alcançá-lo?

Não é palavra mágica e atualmente, de tanto se falar, muitas vezes cai-se no discurso vazio que não produz reflexões profundas em seu modo de pensar, agir, produzir e, principalmente, consumir.

Afinal, hoje somos cerceados pela armadilha da propaganda enganosa que embute na cabeça das pessoas que quem compra mais é mais feliz. Ledo engano.

Isto apenas nos aprisiona neste imenso processo consumista onde sempre queremos mais e mais sem nem saber ao certo o porquê. Mas queremos comprar e trabalhamos mais para isso.

Tecnologias se tornam obsoletas e ficamos em casa com um imenso lixo tecnológico que, por comprar aparelhos novos, deixamos os antigos guardados em casa, não porque estão quebrados, mas por que possuímos outros melhores e infinitamente mais caros.

Então, como pensar em desenvolvimento sustentável? Quem é prisioneiro de quem?

O meio ambiente nos processos decisórios.

Até bem pouco tempo atrás, a equação do sistema capitalista de produção era Lucro = Receita – Despesas, como se o meio ambiente fosse um bem inesgotável e de possibilidades infinitas em que ninguém se preocupava nem com o antes e muito menos com o depois.

Só que desde a década de 60, o meio ambiente passou a impor limites ao processo produtivo, não mais apenas como um externalidade, mas como algo que deveria entrar na equação acima para que o processo produtivo pudesse continuar indefinidamente.

Para os economistas ecológicos seria a chamada internalização das externalidades negativas. Para os empresários a possibilidade de atuarem em um mercado globalizado, com consumidores mais conscientes e com menos riscos de processos judiciais, com condições especiais de financiamento e menos risco de uma imagem negativa na mídia, já que há toda uma tecnologia da informação para divulgar rapidamente qualquer imprudência, imperícia ambiental.

De outra forma, a percepção ampliada desta ação des (estruturante) dos processos econômicos sobre o meio ambiente levou à promoção de ideais de conservação e proteção e dois outros acontecimentos vieram enfatizar o questão ambiental na agenda dos problemas mundiais.

O primeiro foi a publicação do relatório denominado “Os limites do Crescimento” (Clube de Roma, 1971). O segundo, em Estocolmo, em 1972, na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano na qual, pela primeira vez, um número significativo de países se reuniu para discutir aspectos relativos ao meio ambiente e sua relação com o desenvolvimento.

Anos depois, como resultado da Conferência de Estocolmo foi aprovado uma proposta para que as Nações Unidas criassem um programa específico para o meio ambiente, bem como foi aprovada a Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano.

Como fruto do relatório do Relatório Brundtland entende-se que o desenvolvimento sustentável propõe a racionalização do uso dos recursos naturais de maneira a atender às necessidades da geração presente, sem comprometer as necessidades das gerações futuras.

Os limites seriam dados:
– pelos estágios da tecnologia;
– da organização social;
– da capacidade da biosfera em absorver os efeitos das atividades humanas;
– e a possibilidade de a gestão ambiental articular todos esses fatores.

A publicação Our common future (Nosso futuro comum), elaborada pela Comissão Brundtland em 1987, trouxe os princípios básicos para essa nova ordem.

Durante todo esse processo de amadurecimento e reconhecimento da interdependência entre meio ambiente, crescimento econômico e desenvolvimento, observou-se a amplitude global que os problemas originados por um mau relacionamento entre esses fatores poderiam ocasionar.

A destruição do habitat, a questão da biodiversidade e o efeito estufa, são exemplos da não observância da interdependência entre meio ambiente e desenvolvimento e também da amplitude global que os problemas atingem (Souza, 2000).

Com isso, fazendo uma releitura do texto Valéria Aranha “Que elemento ou elementos teriam que ser introduzidos ao capital social para gerar a sustentabilidade?”.

Neste texto diz que à medida que sejam efetivamente implantadas na sociedade, novas formas de conscientização e a incorporação da bioética, essas tenderiam a transformar atuais formas de ação depredadoras sobre o mundo físico e biológico, mediante a incorporação de três princípios básicos:
– a interdependência de todas as formas de vida;
– a complexidade e a diversidade dos ecossistemas como garantia de sua estabilidade; e
– o caráter finito dos recursos biofísicos como fator que limita a intensidade e a escala de sua exploração.

Ou seja, a partir de uma maior consciência da interdependência ecológica, os padrões de degradação e cooperação mundial serão modificados, dado que:
– os ciclos biogeoquímicos que se integram no funcionamento da biosfera nunca reconheceram fronteiras;
– epidemias, nem o fenômeno da poluição transfronteira não respeitam demarcações culturais nem as linhas divisórias político-administrativas.

Por fim, uma economia sustentável é o produto do desenvolvimento sustentável; ela conserva sua fonte de recursos naturais, mas consegue se desenvolver pela adaptação e pelo aprimoramento no conhecimento, na organização, na eficácia e, não menos importante, na sabedoria. ARANHA, Valéria Leite. Desenvolvimento e meio ambiente. Disponível em: <http://kplus.cosmo.com.br>. Acesso em: 06 jul. 2005.

Portanto, queria deixar claro que sustentabilidade equivale à ideia de manutenção de nosso sistema de suporte para a vida. Ou seja, ele se traduz em um comportamento que procura obedecer às leis da natureza. Basicamente, trata-se do reconhecimento do que é biofisicamente possível, em uma perspectiva de longo prazo. (Tolba, M. K. Susteinable development constrains and opportunities. Londres: Butterworth, 1987).

Por isso mesmo, a capacidade da Terra para manter os seres humanos não é determinada apenas por nossas necessidades básicas de alimentos, mas também:
– pelo amplo espectro de recursos que consumimos;
– pela quantidade de resíduos que geramos;
– pelas tecnologias que escolhemos;
– por nosso sucesso quando lidamos com grandes ameaças ao meio ambiente.

Desta forma, além da política dos 3Rs (Reduzir, Reciclar e Reutilizar) – que muito se adéqua na busca de uma sociedade mais sustentável – deve-se atentar também, para o fortalecimento da sociedade civil e a transformação das pessoas em agentes ativos e informados, como peças fundamentais para que as questões ambientais encontrem espaço e possibilidade de inclusão nas decisões sobre a produção na ótica capitalista.

Referência:
Souza, M. P. de. Instrumentos de Gestão Ambiental: Fundamentos e prática. São Carlos: Editora Riani Costa, 2000.

Patrícia Aparecida Pereira Souza de Almeida (bióloga de formação pela UFSCar, mestra em hidráulica e saneamento pela EESC – USP, doutora em ciências da engenharia ambiental pela CRHEA – EESC – USP e professora-tutora da FGV Online).

EcoDebate, 02/10/2012

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