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Rio+20: Rejeição da indústria em cortar emissões ameaça metas de economia ‘verde’ do País

 

Resistência da indústria ameaça metas de economia verde do País – A indústria brasileira resiste a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a expansão do consumo de etanol decepciona, obrigando o governo a rever as metas de combate ao aquecimento global, definidas há mais de dois anos. Às vésperas da Rio+20, negociações de bastidores mostram que há pedras no caminho para a economia verde no Brasil. Reportagem de Marta Salomon, em O Estado de S. Paulo.

É forte a resistência da indústria a cortar em 5% as emissões com base na quantidade de toneladas de carbono projetada para 2020, conforme proposta apresentada recentemente pelo Ministério do Desenvolvimento como detalhamento das metas brasileiras de combate ao aquecimento global para o setor. A indústria química e os setores de papel e celulose, cimento e alumínio serão os primeiros a terem de se enquadrar, a partir do ano que vem, em um quadro ainda nebuloso de regras.

“A minha maior briga no governo foi fazer decolar o Plano Indústria. Bati na mesa e saí frustrado”, contou ao Estado o ex-secretário de Mudanças Climáticas do Ministério do Meio Ambiente Eduardo Assad, que deixou o cargo em janeiro, depois de um ano de tentativas malsucedidas em obter um acordo com a indústria para cortar o lançamento de gás carbônico na atmosfera.

“Ainda vamos descobrir o impacto dessa meta de 5%”, ponderou Paula Bennati, gerente de Meio Ambiente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Por enquanto, não há um compromisso de adesão por parte das grandes indústrias. “Formalmente, não existe penalidade para o caso de descumprimento da meta”, completou. A indústria pede incentivos ao governo e alega que ajustes tecnológicos podem atrapalhar o já fraco desempenho do setor.

“A CNI fala por uma parcela consideravelmente forte da indústria, mas há empresas com visões diferentes. Temos de refletir sobre o nosso modelo de negócio, pois os desafios serão maiores depois de 2020”, contrapõe Jorge Abrahão, presidente do Instituto Ethos.

Mas é o aumento do consumo de gasolina no País o pivô da primeira revisão nas metas de redução das emissões de gases de efeito estufa, antecipou ao Estado o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. O aumento no consumo de gasolina no País vai na contramão do crescimento projetado do consumo de etanol, reconhecidamente uma fonte mais limpa de energia.

Frota. A previsão de produção de 73,3 bilhões de litros de álcool em 2020 foi reduzida em 10 bilhões de litros, ao mesmo tempo em que o governo estimula a venda de veículos no País e a frota não para de crescer.

Como o cultivo da cana-de-açúcar captura carbono da atmosfera, o governo apostou no aumento do consumo de biocombustíveis como importante instrumento para alcance das metas de corte das emissões. Mas o comportamento do mercado, provocado entre outros motivos pela resistência do governo em aumentar o preço da gasolina, com impacto na inflação, frustrou as metas de clima.

“Esse é o ponto que mais cria problemas. Estamos mapeando como compensar essa queda nas projeções do consumo do etanol e o aumento das emissões da gasolina. Uma taxa menor de crescimento da economia, de certa forma, tem efeito nas nossas projeções”, disse Tolmasquim, responsável pelo Plano Decenal de Energia, com as metas para o setor.

Ele também conta com o aumento do número de usinas eólicas e o fracasso do grupo Bertim em entregar usinas térmicas contratadas em 2008 como forma de equilibrar as projeções.

A meta oficial na área energética é reduzir as emissões entre 166 e 207 mil toneladas de carbono lançadas na atmosfera até 2020. O aumento do uso de biocombustíveis por cerca da terça parte dessa meta. “O ideal seria que o etanol crescesse um pouco mais”, calculou Tolmasquim.

Entre as metas estabelecidas para a área de geração de energia, o aumento do consumo de biocombustíveis só perde para a expansão de oferta de energia por usinas hidrelétricas.

Leilão. Para cumprir as metas lançadas antes da conferência do clima de 2009 e confirmadas por lei, o governo prevê o leilão à iniciativa privada da construção e operação de duas novas usinas hidrelétricas no Pará: São Luiz do Tapajós e Jatobá. A previsão é que a usina de São Luiz do Tapajós entre em operação em 2016, com mais da metade da potência da gigante Belo Monte, também no Pará.

Para apressar os empreendimentos, a presidente Dilma Rousseff editou medida provisória que reduz em 1.032 quilômetros quadrados a dimensão de cinco unidades de conservação na Amazônia, área que poderá ser desmatada para a construção dos lagos das hidrelétricas. A redução nessas áreas de floresta protegida equivale a quase 70% do tamanho da cidade de São Paulo.

Desmatamento. Por ora, o governo brasileiro ainda conta com os resultados do combate ao desmatamento na Amazônia como o maior trunfo na redução das emissões de carbono. O abate da floresta é a maior fonte de emissões de gases de efeito estufa no Brasil. E a redução do desmatamento responde por quase 70% da meta brasileira de enfrentamento das mudanças climáticas.

No ano passado, a Amazônia perdeu 6.238 quilômetros quadrados de floresta, o menor número desde 1988, quando os satélites do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais começaram a medir o avanço das motosserras, mas mais de quatro vezes o tamanho da cidade de São Paulo. Mas mesmo o combate ao desmatamento não é considerado uma estrada sem acidentes no caminho da economia verde.

EcoDebate, 31/05/2012

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