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Artigo

A decolagem do desenvolvimento econômico e seus impactos ambientais, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

 

consumo

[EcoDebate] Durante milhares de anos o ser humano foi dominado pela natureza e estava sujeito às intempéries do clima e das forças naturais. Porém, o jogo se inverteu após a Revolução Industrial e o início do uso das fontes fósseis de energia em substituição à força humana e animal no processo de produção.

O uso de carvão mineral, petróleo e gás acelerou o crescimento econômico, mas também aumentou a emissão de CO2, com o consequente aumento do aquecimento global. O crescimento econômico elevou o consumo de minerais, de madeiras, de papel e de água. O crescimento da população e da renda per capita aumentou o consumo de peixes, carnes e outros alimentos, tendo um grande impacto no desmatamento, na destruição das fontes de água limpa e na diminuição dos estoques de peixe nos rios, lagos e oceanos.

O crescimento da produção e do consumo significa o uso de mais insumos naturais e o maior descarte de lixo e resíduos na natureza. Uma casa típica hoje em dia possui fogão, geladeira, máquina de lavar oupa, telefone, bicicleta, moto, carro, computador, etc. Quem não tem quer ter. Assim, quanto mais cresce a economia, maior é o impacto negativo sobre o Planeta e a biodiversidade.

Segundo cálculos de Angus Maddison, o PIB mundial cresceu 6,2 vezes entre 1800 e 1950. Neste mesmo período a população mundial cresceu de 1 bilhão de habitantes para 2,5 bilhões de habitantes, aumento de 2,5 vezes em 150 anos. O crescimento da renda per capita foi de 2,5 vezes no período. Foi o maior crescimento econômico e populacional em relação à história anterior da humanidade.

Mas entre 1950 e 2011 o crescimento da economia e da população foi ainda maior, mesmo para um período de tempo menor. Entre 1950 e 2011 o PIB mundial cresceu 10,5 vezes, enquanto a população passou de 2,5 bilhões para 7 bilhões (aumento de 2,8 vezes). O crescimento da renda per capita foi de 3,7 vezes em 61 anos. Nunca o crescimento foi tão grande em tão pouco tempo.

A humanidade pode continuar crescendo desta forma?

Todos os indicadores mostram que não. As atividades antrópicas estão atingindo os limites da Terra e em diversas áreas já superaram em muito a capacidade de recuperação das fontes de recursos do Planeta.
Os positivitas acreditavam que o progresso seria uma estrada que levaria a humanidade ao desenvolvimento infinito das forças produtivas. Porém, hoje em dia, cresce a percepção de que o progresso pode significar aumento do consumo e até do bem-estar humano, mas implica em regresso das condições ambientais. E sem as bases naturais não é possível sustentar os avanços sociais.

O padrão médio da produção e consumo da comunidade internacional já é insustentável. Mas os países ricos querem continuar crescendo e os países pobres querem chegar perto do nível de vida dos países desenvolvidos. Porém, só temos um Planeta para retirar o nosso sustento. Não dá para fazer milagre.

Por tudo isto, seria fundamental que a Rio + 20 chegasse a um acordo para mudar os rumos do modelo de organização econômica excludente e poluidor. Empurrar os problemas “com a barriga” não vai ajudar. Procrastinar não é a solução. O primeiro passo é reconhecer os problemas para depois agendar as ações necessárias para efetivar um modo de vida humano que seja compatível com a diversidade e a riqueza da vida não-humana que, no passado, reinou soberana na Terra.

José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br

EcoDebate, 25/05/2012

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One thought on “A decolagem do desenvolvimento econômico e seus impactos ambientais, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • Prezado Doutor José Eustáquio Diniz Alves,

    Sou grande admirador dos artigos que você produz, e farei breve comentário sobre o último parágrafo deste que acabo de ler, o qual expõe claramente a condição de vulnerabilidade do Planeta Terra, incapaz de manter a superpopulação de seres humanos ( e crescente ) que o habita.

    Propor ou pretender ou esperar ou sonhar com medidas que sacrifiquem o “modelo de organização econômica excludente e poluidor” existente, denominado capitalismo, representa absoluta perda de tempo, seja na Rio+20 ou em qualquer outra ocasião ou circunstância.

    Todas as decisões em torno de todos os processos sociais, políticos e econômicos são tomadas e implementadas pelo próprio capitalismo ( os Estados capitalistas e as grandes empresas ). Portanto, não seria razoável que ele – o capitalismo – atentasse contra a própria existência.

    Um pequeno exemplo daqui mesmo: As grandes cidades brasileiras já se encontram congestionadas de veículos, sem condição de fluxo. Mas, esta semana, o governo brasileiro adotou medidas que incentivam a aquisição de veículos. E por que o governo age assim? Porque a ele interessa o fluxo do capital, o crescimento da economia. Se o trânsito para, se as pessoas não conseguem se locomover, isso não é importante.

    O Planeta, a humanidade, as outras espécies (fauna e flora ) estamos todos em situação crítica.

    Sou Arquiteto e Urbanista

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