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O desafio de entender – e combater – o bullying

 

O desafio de entender - e combater - o bullying

Na USP de Ribeirão Preto, grupo de pesquisa busca implementar ações contra atos de violência, discriminação e exclusão nas escolas

Um estudo do IBGE realizado em 2009 apontou que, dos 60 mil alunos do ensino fundamental entrevistados, cerca de 30% foram vítimas de violência ou bullying no ambiente estudantil nos 30 dias anteriores à pesquisa. Ainda, 13% deles relataram ter se envolvido em ao menos um episódio de briga durante o último mês.

Para a professora Marta Angélica Iossi Silva, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, tais números não revelam exatamente uma novidade – e nem dizem respeito só à última década. Na EERP, Marta lidera um grupo que desde 1985 investiga a violência doméstica e institucional, com ênfase nos casos de bullying. O Núcleo de Estudos, Ensino e Pesquisa do Programa de Assistência Primária de Saúde Escolar (Proase) conta com uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, enfermeiros e pedagogos investigando temáticas relacionadas.

Porém, mais do que buscar entender o fenômeno, o grupo se empenha na avaliação e implementação de um plano para intervenção, sendo responsável pela criação de redes de apoio e proteção à criança e jovem, além de estabelecer projetos de educação e promoção à saúde e sobre gravidez na adolescência, todos financiados pela Fapesp e CNPq. “Isso possibilita a ampliação do campo de pesquisa para a família, instituições de saúde, de educação e de acolhimento, além dos conselhos tutelares”, explica a professora da EERP.

Angústia – Não há, na língua portuguesa, uma tradução precisa que descreva o real significado do termo bullying. A palavra, vinda do inglês bully (valentão, brigão), compreende comportamentos com diversos níveis de violência, que vão desde atitudes inoportunas ou hostis até atos francamente agressivos, que incluem ofensas verbais ou violência física. Intencionais, esses atos acontecem repetidas vezes, sem uma motivação aparente, e causam nas vítimas sentimentos de dor, angústia, exclusão e discriminação.

“Acredita-se que o fenômeno bullying seja tão antigo quanto a própria existência da escola. Porém, ele era visto como ações características da infância e adolescência, pertencentes à fase de amadurecimento do ser humano e não havia nenhuma associação dessas atitudes com violência e, menos ainda, da representatividade desses atos na vida de pessoas que conviveram com esse fenômeno”, diz Julliane Messias Cordeiro Sampaio, uma das pesquisadoras do núcleo.

Julliane afirma que o bullying está presente em todas as escolas, independente de elas serem privadas ou públicas, de educação básica ou ensino fundamental, situadas em capitais ou em cidades do interior. E comenta: “De forma geral, as escolas não estão preparadas para enfrentar esse fenômeno. Percebemos que profissionais da educação – professores, diretores e coordenadores – possuem dificuldades para distinguir o bullying de situações de mera indisciplina”.

Ao avaliar essa falha, Julliane deu início à pesquisa que irá compor seu doutorado pelo Programa de Saúde Pública. O estudo vai elaborar uma estratégia de intervenção em uma escola de ensino fundamental na cidade de Ribeirão Preto.

Segundo a pesquisadora, nessa escola havia maior incidência de casos de bullying entre meninas e, em ambos os sexos, a manifestação mais comum era o uso constante de apelidos pejorativos. Além disso, diferentemente do que as pesquisas internacionais apontam, o recreio não era o momento em que mais ocorria o bullying: a sala de aula foi o lugar de maior manifestação.

A pesquisa ainda está em fase de desenvolvimento e, ao final do estudo, ações para combater o fenômeno serão implementadas de acordo com as características da instituição educacional e dos alunos envolvidos.

Violência – Outro trabalho desenvolvido no Proase estuda a associação entre os diferentes tipos de violência e as variáveis sociodemográficas que envolvem a população adolescente. O público estudado é de adolescentes matriculados entre 2011 e 2012 em colégios estaduais da região da Tríplice Fronteira, nas cidades de Foz do Iguaçu (Brasil), Ciudad del Este (Paraguai) e Puerto Iguazú (Argentina).

A pesquisa de doutorado em questão está sendo realizada pela enfermeira Elis Priotto e vai descrever as características predominantes que distinguem as vítimas dos agressores, identificando as opiniões desse público quanto à possibilidade de redução da violência. Entre outros pontos, será também analisada a prevalência de violência entre a comunidade estudantil e os fatores que a tornam vulnerável a essa situação. A ideia é que essas informações possam subsidiar o planejamento de práticas de prevenção.

Com os dados iniciais, já foi possível constatar que os adolescentes sofrem e produzem violência, seja física ou psicológica, nos diferentes contextos. “Observamos que esses atos estão presentes na vida e no cotidiano desses adolescentes de forma frequente. Apesar de serem países com leis e estruturas sociais diferentes, as tipologias de violências apresentadas são muito próximas nas três cidades estudadas. É possível perceber que os problemas sociais que envolvem essa faixa etária são muito semelhantes”, explica a pesquisadora.

Matéria de Patricia Golini, Especial para o USP Online e publicada pelo EcoDebate, 18/05/2012

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