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Artigo

A Lagoa da Pampulha: Crônica de Agonia Anunciada, artigo de Geraldo Wilson Fernandes

 

Há 12 anos publiquei um artigo neste jornal que denunciava o lamentável estado agonizante do maior símbolo de Belo Horizonte, a Lagoa da Pampulha. Perdoe-me os que preferiram a Serra do Curral como o símbolo maior do belohorizontino, mas ela não pode ser mais vista em nosso “triste horizonte”: perdeu-se por detrás do concreto e por meio da ação destruidora do fogo.

Mais de uma década após minha denúncia no jornal O Tempo, a Lagoa da Pampulha, inaugurada em 1938, continua em sua agonia. Quando reconstruída em 1957, após seu rompimento em 1954, ela tinha 260 ha, 18 milhões de metros cúbicos de água e 21 km de perímetro, além de uma profundidade média de 16 metros. Resultado de políticas públicas (ou da falta delas) equivocadas nosso maior patrimônio foi permanentemente descaracterizado. Lamentavelmente, ao invés de uma hoje temos pelo menos três lagoas! Três lagoas de muito pior qualidade e beleza.

Uma das “lagoas” tem sua orla para o turista ver, com fiscalização, limpeza e paisagismo. Nesta lagoa são dadas partidas às maratonas e onde os shows são realizados. É aquela onde se investe em obras, que é mostrada quando se faz propagandas da cidade. Mas ao mesmo tempo é onde se quer verticalizar. Outra é uma lagoa que não pode ser considerada como tal, pois foi descaracterizada pelo assoreamento, acumulo de lixo, ratos e plantas invasoras. Esta está abandonada à sua própria sorte e nunca é mostrada aos turistas. É a lagoa feia! Quando por ela passamos de carro ou bicicleta nunca paramos para apreciá-la, pois não é mais uma lagoa. Assemelha-se mais a um brejo sujo e malcheiroso e à noite fica entregue a escuridão e aos perigos da noite de Belo Horizonte. Esquecida, a cada dia se deteriora mais sem que haja quaisquer iniciativas para sua recuperação. A terceira, raramente percebida é a água que representa a alma da Lagoa da Pampulha. O tempo passa e hoje temos uma lamina fina e irrisória de água contaminada, suja e de cheiro desagradável. Uma alma apodrecida! Seu brilho reluzente e colorido ao final das tardes de Belo Horizonte não retrata seu conteúdo.

Para que haja o resgate e salvação do corpo e alma deste monumento maior de Belo Horizonte, não há necessidades de mais informações ou de reuniões politicamente inócuas. Há necessidade de ações concretas orquestradas por administradores competentes e de visão que entendam do Belo, e que consigam projetar para um cenário futuro uma Belo Horizonte onde se valha a pena viver. Ações isoladas ou mesmo urgentes não resolvem dada a magnitude do problema. Já se perdeu em Belo Horizonte quase tudo de que a cidade outrora orgulhou, que a deu este nome singular e que atraiu um povo feliz com sua cidade. Perdeu-se os horizontes da Serra do Curral e agora ampliam-se os impactos ambientais em vários pontos da cidade um deles o mais nobre, a Pampulha.

A nós cidadãos culpados pela má administração e inércia restará dividir um espólio: as três lagoas da Pampulha.

Dr. Geraldo Wilson Fernandes
Ecologia Evolutiva & Biodiversidade
ICB/Universidade Federal de Minas Gerais

Artigo enviado pelo Autor e originalmente publicado no jornal O Tempo (BH / MG), de 10/5/2012.

EcoDebate, 18/05/2012

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