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Notícia

Chuva no Sertão, por Paulo Gondim

 

“Enfim, a chuva chegou
Muitos sonhos renovou
Fez a vida renascer
A vida quase esquecida
Dessa gente desvalida
Que nunca deixa o sertão
Mesmo sabendo da luta
Da vil e cruel labuta
Por um pedaço de pão”

Primeira estrofe de meu poema “DESTA VEZ, FOI A CHUVA”, que escrevi em janeiro de 2002, depois que presenciei uma chuva forte, que caiu no dia 30 de dezembro de 2001, que arrasou parte da cidade de Brejo Santo, no Ceará. Dizem que essa chuva ultrapassou os 200 milímetros. Confesso que fiquei num misto de contentamento e de medo, pois o estrago foi grande e as pessoas iam ao povoado de São Sebastião, que ficou ilhado, para ver a água passando por cima da ponte. O canal de Brejo Santo transbordou e invadiu muitas casas. Nos sítios, parte da lavoura foi devastada pela força das águas. Coisas da natureza. Mas este ano, com dezembro seco e janeiro não muito amigo, felizmente, no finalzinho do mês, a chuva tão esperada deu o ar da graça e renovou as esperanças desse povo bom e trabalhador. Há quem diga que o nordestino não quer mais chuva, pois prefere os benefícios do governo.

Mentira!! Isso é desespero de pessoas que sempre tiveram mão de obra barata, quase escrava, ou pior do que escrava, a ponto de oferecer um dia de trabalho a troco de um litro de feijão furado. Quem trabalhou até 2002 sabe que era assim. Hoje, a liberdade reina e o pobre não precisa se humilhar para ganhar seu pão. As fortunas que foram feitas a custa do suor e do sangue dessa gente humilde, hoje reclamam porque não dispõem mais dessa mamata. Quer um trabalhador? Então pague o justo! Ouvi de um comerciante de Brejos Santo, do setor de armazéns, que estava perdendo dinheiro, porque não tinha homens para carregar os caminhões de milho. Daí, resolveu dobrar o preço e, hoje, carrega quantos caminhões quiser e na hora que quiser. Não falta quem queira trabalhar, pelo menos para ele.

Mas a chuva no Nordeste ainda é a melhor coisa que se possa ver. Não há som melhor para se ouvir do que a água caindo no telhado e acordar com os sapos fazendo festa. A natureza se renova e o homem, principalmente, do campo vai à roça, sim senhor, arar sua terra, com gosto, para ver com mais gosto ainda a colheita do milho, do feijão, do arroz e demais produtos do plantio. Com a chuva, não só o homem da roça fica feliz, mas os comerciantes, os profissionais da construção civil, as pequenas indústrias porque sabem que tudo melhora. Até o clima dá uma refrescada!!! Tem coisa melhor? Tem não!.

Então, se enganam aqueles que dizem que o nordestino não quer mais trabalhar. Bobagem! Depois da revolução social feita nos últimos nove anos, já tá provado que o nordestino trabalha mais, porque em grande parte da população, o básico de seu sustento está garantido pelos programas sociais. Isto se chama libertação! É claro que em todo projeto humano, parte dele não dá certo. Faz parte do risco de qualquer empreendimento. Mas temos de olhar para o que dá certo. Hoje, o Nordeste é outro! Vindo um bom “inverno” (a estação chuvosa), teremos muito que comemorar em 2012. Certamente, muitos filhos de pessoas pobres entrarão nas universidades públicas, antes território sagrado dos ricos. Muitos empregos irão surgir, vai haver muitos casamentos e muitas festas. Muitas famílias deixarão a pobreza. É assim que se muda um país para melhor. E pra concluir, uns versinhos:

E com chuva na terra de meu Ceará,
Não há quem não queira pra ela voltar.
Por isso, já penso, a mala arrumar
Voltar para a terra que me viu nascer
Que dela saí, assim, sem querer
Mas Deus me ajudou e posso falar
Que não foi em vão o meu viajar
Mas se por acaso não vá pra ficar
Ficarei assim: um pé lá, outro cá!

Paulo Gondim, um nordestino vivendo em São Paulo.

EcoDebate, 08/02/2012

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3 thoughts on “Chuva no Sertão, por Paulo Gondim

  • Muito bom artigo regado à poesia. Uma voz contra o preconceito aos nordestino com uma posição equilibrada não ufanista dos programas sociais direcionados aos necessitados.

  • Parabéns, Paulo. Seu lindo poema deve ser lido por todos pois leva à reflexão tão necessária no momento.
    Abraços

  • Paulo Afonso da Mata Machado

    Paulo Gondim, continue escrevendo seus poemas em cordel.
    São uma contribuição primorosa à cultura nordestina.

Fechado para comentários.