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À margem da COP17, o desastre tóxico, por Renato Godoy de Toledo

 

A poucos quilômetros do Centro de Convenções Internacional de Durban, na África do Sul, é possível encontrar uma situação de descaso com a emissão de poluentes e com a vida humana.

Na região sul de Durban, onde delegações de todo o mundo discutem as mudanças climáticas na COP 17, concentram-se duas refinarias de petróleo e uma indústria papeleira. Uma refinaria pertence à sul-africana Engen e outra é uma parceria entre a holandesa Shell e a inglesa British Petroleum (responsável pelo desastre ambiental no Golfo do México em 2009).

Em um evento chamado Toxic Tour, a Aliança Comunitária Ambientalista de South Durban levou delegados e observadores da COP 17 para tomar conhecimento de crimes ambientais e contra a comunidade do entorno das plantas destas transnacionais.

No mais recente desastre, em 10 de outubro, uma explosão na refinaria da Engen, empresa sul-africana, escureceu toda Durban. Na escola primária Settlers, professores e alunos sofreram problemas respiratórios graves. Cerca de 100 crianças foram hospitalizadas com náuseas, vômitos e desmaios. Na escola há um centro de monitoramento da qualidade do ar, que soa um alarme em caso de emissão de poluentes acima do normal. No entanto, no dia 10 de outubro ele estava desativado.

O professor Lawrence Vartharajulu afirma que atualmente exerce uma função que extrapola sua condição de educador: a de monitor da qualidade do ar. “Meu ofício é dar educação de qualidade às crianças, porém as empresas estão violando os direitos humanos e a constituição sul-africana. As crianças estão com olhos vermelhos, tossindo e com os uniformes sujos pela poluição. O nível de absenteísmo aumentou muito depois da explosão”, relata.

Na entrada da escola há um anúncio da Sapref (Refinaria de petróleo da África do Sul, na sigla me inglês) que ressalta o compromisso das empresas do entorno da escola com a educação e o respeito ao meio ambiente. No entanto, a “responsabilidade social” do setor petrolífero, segundo o professor, com parcas doações de computadores e material escolar, é irrisório perto do dano causado à comunidade.

Segundo a organização Aliança Comunitária de South Durban, a região conta com o maior índice de asma do mundo. Nas escolas do sul, 52% dos alunos sofrem da doença, enquanto no norte da cidade, o índice é de apenas 2%.

“A bela e a fera”

Em um ponto alto do sul de Durban, em um local de vista privilegiada para o Oceano Índico, chama a atenção o imenso parque de refinaria da Shell/BP, separado da costa sul-africana apenas por um morro de cerca de 200 metros de extensão. O coordenador do Aliança Comunitária de South Durban, Bongami Mthembo, ilustra aos participantes do Toxic Tour. “À esquerda do morro, temos a bela, à direita, a fera”.

Um córrego turvo que deságua no Índico passa ao lado da planta da Shell /BP. Em uma rara notificação do poder público sul-africano, as empresas foram multadas por emissão de poluentes na água, no valor de 10 mil rands, cerca de R$ 2,5 mil, valor considerado pífio por Mthembo.

O ativista denuncia que as empresas transnacionais adotam em solo estrangeiro uma prática diferente daquela executada em suas matrizes. “Queremos que eles usem a mesma tecnologia que adotam nas matrizes”, diz.

Monitoramento alternativo

A Aliança Comunitáriade South Durban, criada em 1995, desenvolveu um mecanismo alternativo para monitorar a qualidade do ar. Por não confiar nos índices divulgados pelo governo, a organização sem fins lucrativos recolhe por meio de uma bomba e um saco plástico as impurezas do ar.

Não há confiança também nos laboratórios sul-africanos, segundo a organização, ligados às grandes corporações responsáveis pelos poluentes. O material é enviado para análise na Califórnia, nos EUA. Por cada saco plástico analisado a entidade paga 8 mil rands. E o resultado é costumeiramente maior do que o divulgado por órgãos oficiais.

– Renato Godoy de Toledo é jornalista de Brasil de Fato

Artigo socializado pela ALAI, América Latina en Movimiento.

EcoDebate, 05/12/2011

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