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Pesquisa mostra que sintomas de distúrbios de ansiedade não estão relacionados com problemas cardíacos

 

Um dos mais comuns equívocos no diagnóstico de pessoas que procuram atendimento médico com palpitações, taquicardia e falta de ar, características de transtornos de pânico e de outros distúrbios de ansiedade, é o de associar esses sintomas ao Prolapso da Válvula Mitral (PVM), uma anormalidade cardíaca.

O resultado de uma pesquisa de mais de cinco anos na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP), publicada no início do mês no British Journal of Psychiatry pelos professores José Alexandre de Souza Crippa e Benedito Carlos Maciel, não encontrou qualquer associação entre essas condições.

Para esse resultado os pesquisadores usaram técnicas mais modernas de avaliação cardiológica e de diagnóstico psiquiátrico. Eles analisaram 232 indivíduos, sendo 41 com transtorno do pânico, 89 com fobia social e 102 controles saudáveis. “A importância desse resultado é que, ainda hoje, é bastante comum o atendimento de pacientes com transtorno de pânico ou fobia social que passaram previamente por avaliação cardiológica e foram diagnosticados com PVM”, diz o professor Crippa, do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da FMRP.

O professor explica que, se for feita uma avaliação cardiológica mais minuciosa nas pessoas que procuram os consultórios, com sintomas de transtorno do pânico ou fobia social, é provável que parte desses sujeitos não tenha o diagnóstico de PVM. “Mas só os sintomas já são o suficiente para validar de forma errônea o medo do paciente de ter um problema cardíaco. Isso pode retardar o diagnóstico e o tratamento do transtorno de ansiedade e aumentar a dificuldade do paciente em aceitar que tem um distúrbio psiquiátrico tratável”, avalia Crippa.

O professor diz que há mais de 30 anos essa associação vem sendo feita e que, hoje, é difícil encontrar livros e textos tanto de cardiologia como de psiquiatria que não mencionem o fato. “Mas os resultados publicados até aqui eram insuficientes para estabelecer ou excluir essa associação.”

Em mais de 40 estudos que avaliaram a anormalidade cardíaca com os transtornos, diz Crippa, nenhum usou critérios atuais mundialmente aceitos para o diagnóstico de PVM e, entre outros problemas, as amostras tinham pacientes em uso de medicação ou com outras doenças, além de serem pequenos os números de pacientes estudados.

Retardar o tratamento de transtornos de pânico ou de outros distúrbios de ansiedade pode levar à progressão da doença, explica o professor. Ainda segundo Crippa, pode haver aumento da frequência dos ataques/crises e das limitações na vida da pessoa, além do desenvolvimento de comorbidades psiquiátricas, como depressão e abuso de álcool e drogas, perdas financeiras e dificuldade de manter laços afetivos, vergonha e estigma, entre outras.

Deslizamento – PVM é a alteração mais frequente que acontece com o coração, sendo que a palavra prolapso significa um deslizamento ou deslocamento de parte de um corpo em relação à sua posição usual. “Na maioria das pessoas a causa é desconhecida, mas em alguns casos parece ser geneticamente determinada por uma alteração do tecido conjuntivo. Uma redução na produção do colágeno tipo III é outro fator identificado.”

O professor diz que muitos pacientes são totalmente assintomáticos do prolapso da válvula mitral, enquanto outros podem apresentar inúmeros sintomas. As queixas mais comuns são as palpitações e a síncope, devidas a distúrbios do ritmo cardíaco, falta de ar e fadiga, sendo esta última a mais comum. “A dor torácica é diferente da apresentada em outra doença coronariana, pois raramente ocorre durante ou após o exercício e não responde ao uso de nitratos. Possui curso geralmente benigno e sem sintomas. Quando sintomático, é controlado pelo uso de medicamentos e, nos casos mais graves, por cirurgia valvular. Cada vez mais precoce hoje em dia, a cirurgia é indicada, evitando-se assim as complicações. Os pacientes identificados como portadores de PVM devem ser monitorados regularmente por um médico”, observa.

Participaram do estudo, que teve financiamento do CNPq e da Fapesp, além dos professores Maciel e Crippa, Antonio Waldo Zuardi, também da FMRP, os doutores Alaor Santos Filho, Maria C. Freitas-Ferrari, Minna M. D. Romano, os alunos de pós-graduação Clarissa Trzesniak, Thiago F. Lascala, e os professores Antonio E. Nardi, da UFRJ; e Rocío Martín-Santos, da Universidade de Barcelona.

Reportagem de Rosemeire Soares Talamone, no Jornal da USP, publicada pelo EcoDebate, 26/09/2011

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