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Livro aborda impacto das transformações socioeconômicas sobre as águas da cidade de São Paulo

 

Domando águas – No fim do século 19, a cidade de São Paulo passou a vivenciar um ritmo de vida econômico e sociocultural que permitiu o incremento da urbanização e o seu adensamento populacional. Devido à riqueza gerada pelo complexo econômico cafeeiro, as águas da cidade se tornaram, gradativamente, obstáculos às formas de ocupação –reproduzidas até hoje – do tecido urbano.

A análise está no livro Domando águas: salubridade e ocupação do espaço na cidade de São Paulo, 1875-1930, que aborda as transformações sociais e econômicas durante o processo de urbanização da cidade e como seus habitantes foram afetados por elas.

O livro de Fábio Alexandre dos Santos, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em Osasco, é resultado de sua pesquisa de doutorado feito no curso de História Econômica do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Destinado a pesquisadores, profissionais e interessados no tema, o livro contou com o apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Publicações.

De acordo com o autor, o livro faz uma interface com diferentes áreas do conhecimento, com o objetivo de assimilar as transformações urbanas da capital paulista. “Ele tenta captar a cidade na sua interdisciplinaridade”, disse Santos à Agência FAPESP.

O processo de urbanização de São Paulo foi assinalado pela riqueza gerada pelo café, instauração da República, imigração em massa e a formação dos serviços públicos de saúde.

“Isso fez com que a cidade e seus administradores tentassem imprimir a ela um aspecto de modernização. Nesse sentido, era preciso dar a São Paulo, cuja população também crescia, uma cara de lugar habitável e que representasse todo o capital que afluía a ela”, contou.

Essas transformações passaram a ocorrer principalmente a partir de 1875, com pretensão das elites em modernizar e tornar a cidade civilizada. “São Paulo passou a ter um grande dinamismo urbano”, disse Santos. Nesse cenário, as questões relacionadas aos problemas de limpeza urbana, retificações e canalizações de rios, moradia, carência nos serviços de água e esgoto, valorização e especulação imobiliária passaram a convergir.

“As ações de empresas privadas (de serviços públicos e imobiliários) eram incentivadas ora pela omissão dos poderes públicos, ora por parcerias. Isso transformou a cidade em um espaço de ação e urbanização baseado na exclusão. Ainda hoje, muitas pessoas ocupam áreas de preservação ambiental ou de proteção, como é o caso do Jardim Pantanal, que sofre com as inundações causadas pelas grandes chuvas”, disse.

O marco temporal de Domando águas se encerra em 1930. Período em que se deu a consolidação do mercado imobiliário, resultado da capitalização do solo e da delimitação das áreas de moradia para cada faixa socioeconômica da população.

Segundo Santos, a valorização da terra urbana, de acordo com os serviços públicos ofertados, principalmente aqueles voltados à salubridade da cidade, levou à fixação dos limites.

Nesse momento, conta o autor, as águas da cidade foram “dominadas”, em processo que se deu por meio de afastamentos de cursos d’água, canalizações e retificações de rios, além da poluição das águas.

“O livro procura refletir uma São Paulo que tentou domar águas até onde lhe interessava, mas que não conseguiu resolver problemas seculares como o das enchentes, da falta de destino adequado dos resíduos domésticos – e, mais tarde, dos industriais – e dar conta de moradia para toda a sua população. Ou seja, uma cidade que hoje sofre as consequências da urbanização desigual”, disse Santos.

Domando águas: Salubridade e ocupação do espaço na cidade de São Paulo, 1875-1930
Autor: Fábio Alexandre dos Santos
Lançamento: 2011
Preço: R$ 56
Páginas: 320
Mais informações: www.alamedaeditorial.com.br

Matéria de Mônica Pileggi, da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate, 12/09/2011

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