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Desafio para os próximos 50 anos será produzir alimentos biofortificados em escala industrial

Produzir alimentos bioforticados em escala industrial, atingindo níveis de produção e produtividade dos produtos agrícolas convencionais. Esse é o principal desafio apresentado pelo pesquisador do Ciat (International Center for Tropical Agriculture) Wolfgang Pfeiffer para os próximos 50 anos. A agregação de valor a esses alimentos, como resistência a pragas e a doenças, também são diretrizes que nortearão os trabalhos de pesquisa.

“Para o desenvolvimento de métodos mais eficientes, devemos padronizar também metodologias, apresentando-as aos parceiros”, revela ele, que coordena as ações do programa HarvestPlus na instituição de pesquisa da Colômbia. O pesquisador ainda defende a necessidade de desenvolvimento de novos métodos, mais eficientes, para a análise de micronutrientes nos produtos biofortificados, facilitando a identificação das melhores seleções para ferro e zinco, nutrientes que são foco das pesquisas no projeto de biofortificação. “Uma vez identificados, esses genótipos perpetuarão suas características, já que tais genes são incorporados a essas diversas cultivares. Devemos investir na melhoria das tecnologias utilizadas e avançar na produtividade desses produtos agrícolas”, conclui.

Feijão-caupi: ‘uma das principais culturas agrícolas do futuro’

Durante a manhã do terceiro dia da IV Reunião de Biofortificação no Brasil, o feijão-caupi foi tema da maioria das apresentações. Considerado pelo pesquisador B.B. Singh, da Texas A.M. University, como uma das culturas mais emergentes do mundo no século XXI, o legume, originário do sul da África, também vem sendo alvo de estudos para o desenvolvimento de maiores teores de ferro e zinco. Além do aspecto nutricional, pesquisadores também vêm tentando desenvolver cultivares mais produtivas e mais tolerantes à seca.

No Brasil, segundo o pesquisador Francisco Rodrigues Freire Filho, da Embrapa Meio-Norte (Teresina-PI), o principal desafio é o desenvolvimento de um programa que possibilite que sementes melhoradas cheguem ao agricultor. “Do contrário, nosso trabalho ficará limitado”, adianta. De acordo com ele, o cenário é promissor para os agricultores, mas o mercado ainda é bastante desorganizado. “No Brasil, a maior parte do feijão-caupi é produzido pela região Nordeste, mas vem se expandindo para regiões de Cerrado, no Centro-Oeste. O legume é uma cultura saudável e, se agregado a ele as características do programa de biofortificação, tem tudo para se mostrar como uma ótima opção sob os aspectos de mercado e nutricional”, aponta.

Entre os resultados dos programas de melhoramento do feijão-caupi desenvolvidos pela Embrapa, estão a busca de concentrações satisfatórias de teores de ferro e zinco e conseguir avanços nas características agronômicas, como resistência a pragas, a doenças, e o desenvolvimento de materiais mais produtivos. Quem apresentou essas diretrizes foi o pesquisador Maurisrael de Moura Rocha, da Embrapa Meio-Norte. “Em relação aos teores de ferro e zinco, as cultivares já lançadas BRS Xiquexique, BRS Tumucumaque e BRS Aracê são bastante promissoras”, diz. “Devemos intensificar os estudos relacionados à biodisponibilidade desses
nutrientes”, completa.

Arroz

Na região Nordeste brasileira, ele é cultivado por agricultores familiares. O objetivo principal do Projeto BioFORT é desenvolver cultivares com maiores teores de nutrientes. Segundo o pesquisador Péricles de Carvalho Ferreira Neves, da Embrapa Arroz e Feijão (Santo Antônio de Goiás-GO), o desafio enfrentado são as exigências de mercado. “O consumidor prefere um arroz polido, translúcido. No entanto, o polimento reduz em torno de 20% dos teores de zinco e até 50% das concentrações de ferro”, revela.

“Temos que ter certeza que os produtos em desenvolvimento terão seus nutrientes absorvidos. Daí a necessidade de se investir em biodisponibilidade”, completa. No caso do feijão comum, a pesquisadora Maria José Del Peloso, também da Embrapa Arroz e Feijão, mostra que vêm sendo identificados genótipos mais tolerantes à seca, característica pesquisada em conjunto com cultivares mais promissoras em relação à concentração de nutrientes.

Trigo

Pedro Scheeren, da Embrapa Trigo (Passo Fundo-RS), apresenta que, em relação à cultura proveniente do Sul do país, os resultados obtidos indicaram grande variabilidade genética para os teores de ferro e de zinco. E entre as conclusões, o pesquisador adianta que a BRS Guamirim e a Fundacep 51 foram as cultivares que mais se destacaram para elevados teores de ferro nos grãos, enquanto que a BRs Guamirim e a IPR 111 apresentaram elevados teores de zinco.

Milho

Desenvolvidas pela Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG), as pesquisas de bioforticação na cultura do milho se concentram no desenvolvimento de cultivares com maiores concentrações de pró-vitamina A. Segundo o pesquisador Robert Eugene Schaffert, as pesquisas têm mostrado que será bem viável chegar a concentrações de 15 microgramas/grama, sendo que cultivares comuns apresentam concentrações em torno de 3 microgramas/grama. “A próxima etapa será incluir técnicas do melhoramento molecular”, descreve o pesquisador.

A programação da IV Reunião de Biofortificação no Brasil inclui palestras, painéis, visitas técnicas, reuniões, debates e simpósios. A temática passa por questões ligadas à pesquisa em agricultura, saúde e nutrição, passando pelo papel da agricultura frente às tendências em alimentação e impacto na nutrição e saúde; até a pesquisa em biofortificação no mundo (http://www.biofort.com.br/IV_Reuniao_Biofortificacao_programacao.php). Até o último dia do evento, serão apresentados 53 trabalhos na forma de pôsteres e 54 resumos dos palestrantes. Os trabalhos serão publicados na
forma de resumos expandidos nos Anais da reunião. Eles ficarão disponibilizados em CD-ROM e no site do projeto BioFORT, no endereço www.biofort.com.br.

Acompanhe a cobertura do evento em http://www.biofort.com.br/ e nas redes sociais: Projeto Biofort (Facebook) e www.twitter.com/projetobiofort. Mais informações: Núcleo de Comunicação Organizacional (NCO) da Embrapa Milho e Sorgo, Unidade da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária),
vinculada ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento):

Por Guilherme Viana, da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG)

EcoDebate, 15/07/2011

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Alexa

One thought on “Desafio para os próximos 50 anos será produzir alimentos biofortificados em escala industrial

  • Caro Guilherme.
    Estou usando essa página para comentar que todas as informações passadas ou são oriundas de pesquisas com mutações genéticas ou, pelo sim – pelo não, parecem ser.

    Tais como já fizeram as grandes multinacionais com os OGM de soja, milho, arroz etc., patenteando o resultado e explorando-o comercialmente.

    Se for assim o povo precisa conhecer as razões, os fins, os meios e a ética que norteiam tais buscas por melhoramentos.

    Se for resultado de seleção natural em meio ambiente não agredido por fatores “tecnológicos (sic)” ainda aceitável.

    Se não, será preciso primeiro comprovar a não possibilidade de efeitos colaterais e a não disseminação de interferências danosas ao meio ambiente equilibrado e nativo.

    Tenho minhas preocupações.
    Hélcio Totino
    totinoh@hotmail.com

    Resposta do EcoDebate:

    Prezado Hélcio Totino, os processos de biofortificação não se confundem com transgenia. A biofortificação de alimentos pode ocorrer com a adição de nutrientes (como a adição de iodo ao sal) ou pelo melhoramento genético de um vegetal e este melhoramento, como ocorre desde o início da agricultura, ocorre por seleção.

    É, teoricamente, possível faze-lo pelo desenvolvimento de OGM, mas este não é o processo em discussão.

    Veja:
    Biofortificação: Produzindo alimentos mais saudáveis
    Embrapa desenvolve nova variedade de mandioca biofortificada
    biofortificação: O feijão-caupi combate a desnutrição, por Maurisrael de Moura Rocha

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