Porque torcer por Obama, artigo de Montserrat Martins
[Ecodebate] Quem mora no Vale dos Sinos, região de calçados, sabe na pele como é dura a concorrência desleal dos chineses (porque não pagam direitos trabalhistas) e não gosta da idéia de um monopólio econômico deles. Por isso, não é vantagem para nós a derrocada completa da economia dos Estados Unidos, melhor seria um mundo multilateral. Mesmo quem é anti-americano pode analisar todas as variáveis do imperialismo vendo (ou revendo) o sensacional filme “Alexandre”, de Oliver Stone. O “ponto de virada” da História é quando o macedônico se envolve com as regiões mais longínquas do império e casa com uma “nativa”, enquanto seus generais assustados tinham medo da reação dos seus compatriotas por essa “fusão” cultural com os dominados.
Uma espécie de “globalização” pode ser vista em “Alexandre”, a partir do ponto da expansão em que as influências passam a ser mais recíprocas e o próprio império também é afetado pelos problemas das demais culturas. Uma forma de consciência de fazer parte de um mundo mais amplo que apenas o de sua terra natal. Podemos observar isso, agora, no discurso de Obama à sua nação, neste final de janeiro de 2011, que inclui preocupações de interesse de todo o planeta. É o caso do investimento em energias renováveis, um dos temas centrais de sua proposta para a retomada do desenvolvimento econômico americano.
Mas as coisas não serão fáceis, nem por lá, nem por aqui. Truda Palazzo, consultor internacional em questões ambientais, desabafa: “O discurso de Obama (sobre energias renováveis) deve ter irritado republicanos e democratas juntos… E, como de hábito, ficaremos a reboque das lideranças globais. No tema, de maneiras distintas porém igualmente eficazes, os líderes serão EEUU e China, que está investindo bilhões em eólica e fotovoltaica pra se livrar do carvão no futuro. O problema daqui é que não há planejamento para a sustentabilidade, ficamos eternamente presos aos mesmos lobbies safados, atrasados, e francamente acho que isso não vai mudar nunca”.
Truda Palazzo, consultor de renome nessa área, sabe do que está falando; a verdade é que ainda não estamos (como nação) fazendo a nossa parte na modernização da nossa economia, haja visto o caso Belo Monte. Por esses motivos, acredito, devemos torcer por Obama. Já que, apesar de tudo que evoluímos, ainda estamos “a reboque” de outras líderanças no estabelecimento de rumos para o futuro, que frutifiquem as melhores propostas para o planeta como um todo.
Montserrat Martins, colunista do EcoDebate, é Psiquiatra.
EcoDebate, 31/01/2011
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