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Notícia

FCFRP/USP produz patente com o antimicrobiano alecrim pimenta

Os dois produtos obtidos com o óleo essencial da planta serão úteis nas indústrias farmacêutica e alimentícia

O alecrim pimenta (Lippia sidoides) é uma planta muito usada pela medicina popular como antimicrobiano e antifúngico e que já foi tema de diversas pesquisas científicas que comprovaram suas propriedades benéficas. Toda essa “riqueza natural” acaba de ser alvo de uma patente na Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto (FCFRP) da USP. Pesquisadores do Laboratório de Pesquisa & Desenvolvimento em Processos Farmacêuticos (LAPROFAR) patentearam dois produtos a base de alecrim pimenta obtidos a partir do encapsulamento do óleo essencial da planta em micropartículas. Um dos produtos poderá ser usados em formulações de medicamentos e cosméticos, e o outro, na conservação de alimentos processados.

Encapsulamento do óleo essencial da planta em micropartículas originou dois produtos

O trabalho foi realizado pela farmacêutica Luciana Pinto Fernandes. Ela explica que os dois produtos são apresentados em forma de pó – as micropartículas são visíveis apenas pelo microscópio eletrônico. “A diferença entre eles é a maneira como foram obtidos e o direcionamento de uso dado a cada um, devido aos custos dos processos de obtenção”, conta a pesquisadora, que estudou o alecrim pimenta durante seu doutorado, apresentado em janeiro de 2009 sob a orientação do professor Wanderley Pereira de Oliveira, coordenador do LAPROFAR.

Os dois produtos foram produzidos através da técnica de secagem por atomização (spray drying), experimentando-se um processo de encapsulamento físico e outro químico. No caso do processo químico, o óleo foi encapsulado dentro de uma molécula de ciclodextrina (polímero de glicose). “O óleo essencial é muito volátil, evapora facilmente, acaba oxidando e decompondo com o passar do tempo, e perde um pouco suas propriedades. Quando encapsulado, ele se torna mais resistente e mantêm suas propriedades por mais tempo”, explica a pesquisadora.

Segundo Luciana, com o encapsulamento, é possível ter mais controle sobre a liberação dos princípios ativos da Lippia sidoides, que podem ser liberados aos poucos ou continuamente. “O óleo essencial é irritante para a pele e mucosas. Porém, quando encapsulado dentro da molécula de ciclodextrina, conseguimos a redução da irritação local, permitindo ainda uma liberação prolongada do ativo a partir de formulações de aplicação tópica”, destaca. “Apesar de o processo químico de encapsulamento ser mais caro, encarecendo o produto final, ele apresenta mais eficácia, segurança e estabilidade. Por isso, seu uso seria mais indicado nas formulações de medicamentos e cosméticos.”

Já o produto obtido pelo processo físico de encapsulamento possui um custo inferior. Esse processo envolve o aprisionamento do óleo essencial na forma de gotas muito pequenas, no interior de uma matriz formada por dois agentes encapsulantes: misturas de maltodextrina (amido hidrolisado) e goma arábica em diferentes proporções. Segundo Luciana, a aplicação desse produto poderia estar ligada a indústria alimentícia. “Uma opção de uso seria para conservar alimentos processados, sem necessidade de usar conservantes artificiais, impactando em produtos alimentícios mais saudáveis. Pode-se ainda explorar esse produto como uma opção sensorial inovadora a ser usada na produção de temperos em pó para carne, além de uma infinidade de outras utilizações”, aponta.

A patente abrange ainda um terceiro produto, ainda mais barato que os dois anteriores, obtido a partir do extrato hidroalcoólico das folhas da planta. “Os produtos obtidos com o óleo essencial de alecrim pimenta apresentam uma maior concentração de substâncias ativas em comparação ao produto obtido a partir do extrato hidroalcoólico das folhas”, explica. “Apesar disso, o pó obtido a partir do extrato hidroalcoólico também poderia ser usado nas mesmas áreas”, pondera a pesquisadora.

Fotografia das micropartículas obtida com aumento de 2000X (microscópio eletrônico)

Farmácia popular
O alecrim pimenta é uma planta muito abundante no Nordeste. É usada popularmente na forma de chá das folhas em gargarejo e bochecho para tratamento de infecções da garganta ou em lavagens vaginais para tratamento de fungos. Também há relatos do seu uso para o tratamento de ferimentos e infecções na pele e no couro cabeludo, acne, sarna e do mau-cheiro nos pés e axilas. “Vários estudos científicos têm comprovado a eficácia farmacológica do alecrim primenta, demonstrando perspectivas de uso potencial como agente antimicrobiano natural”, conta a pesquisadora.

Um desses estudos foi realizado na FCFRP. A pesquisa, realizada recentemente, mostrou que o extrato vegetal do alecrim pimenta inibe o crescimento da bactéria Listeria monocytogenes, podendo ser usado na conservação de peixes. A Listeria está associada a listeriose, doença que pode causar várias síndromes como infecções, gastroenterites, sendo bastante prejudicial em pacientes imunodeprimidos, e em crianças, idosos e gestantes (podendo causar abortos). A transmissão ocorre, principalmente, por alimentos contaminados.

Luciana comenta que já existe uma reivindicação de patente referente a fitoterápicos antimicrobianos a partir da Lippia sidoides. No entanto, a invenção refere-se a preparações líquidas (infusos, colutórios, tinturas, extratos aquosos e por solventes) assim como o óleo essencial. “As preparações líquidas de produtos naturais apresentam alguns inconvenientes, sendo assim, os produtos obtidos na forma seca [em pó] são preferidos pelas indústrias farmacêutica, cosmética e de alimentos principalmente devido a sua maior estabilidade, facilidade de manuseio e de estocagem. No caso deste trabalho do LAPROFAR, a patente está associada ao método usado para obtenção dos produtos e aos produtos obtidos”, destaca.

Aplicações dos produtos
O próximo passo da pesquisa é testar as aplicações dos produtos. De acordo com a farmacêutica, alguns testes já foram realizados na FCFRP, entre eles o do estudo envolvendo a conservação do peixe contra a Listeria monocytogenes. Mas há outros que ainda estão em andamento como: análises sensoriais de alimentos submetidos aos dois produtos como conservantes, e o desenvolvimento e avaliação da eficácia de cremes dentais contendo formulações a base de alecrim pimenta.

“A médio prazo, os produtos desenvolvidos poderiam ser aplicados em formulações cosméticas, como desodorante ou pó antisséptico, em um ativo potente antimicrobiano para o combate das bactérias responsáveis pelos odores fétidos, ou na preparação de creme dental com finalidade de prevenção de problemas bucais causados por bactérias cariogênicas. A curto prazo, os produtos poderiam ser utilizados em formulações de sopas instantâneas e em outras aplicações dentro da indústria alimentícia”, finaliza a farmacêutica.

Imagens cedidas pela pesquisadora

Mais informações: e-mail lucianapinto29@hotmail.com, com a pesquisadora Luciana Pinto Fernandes

Reportagem de Valéria Dias, da Agência USP de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 06/01/2011

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