EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Comércio, desindustrialização e violência, artigo de Newton Figueiredo

[Ecodebate] Pesquisa produzida pela agência Voltage, recentemente divulgada, mostra que o consumidor brasileiro busca valores humanos nas marcas e tem a expectativa de construir um relacionamento pautado na transparência, honestidade, confiança, integridade, respeito e ética. De outro lado, a pesquisa mostra que 62% dos consumidores brasileiros entrevistados pela pesquisa afirmam estarem insatisfeitos com a falta de honestidade das marcas.

Muitas empresas parecem estar na contra mão destas expectativas. A cada dia que passa temos visto o nosso comércio cada vez mais inundado de produtos chineses, indianos e de outros países asiáticos menos desenvolvidos. Essa avalanche de importação de produtos que poderiam ser fabricados em nosso país, de forma honesta e competitiva, tem levado ao desemprego e estimulado a miséria e a violência em nossas cidades. Esse fenômeno pode ser identificado com conseqüência em três níveis: nas nossas populações mais carentes, nas pequenas indústrias e nas médias e grandes indústrias.

Temos no país um das mais rigorosas legislações trabalhistas e ambientais, que prezam pelo respeito aos cidadãos e pela preservação da biodiversidade. Mas, com esta transferência de local de produção, importamos não apenas produtos mais baratos, mas, principalmente, fome e violência. Ao dispensarmos mão de obra nacional, contribuímos para o aumento das taxas de desemprego, com isso, não é difícil imaginar o crescimento também da miséria e da violência.

Chega a ser desrespeitosa com a nossa sociedade a importação de artesanatos primários desses países ao invés de serem comprados de comunidades carentes aqui. Estamos importando, certamente, trabalho escravo, infantil, falta de compromisso com os direitos humanos…

Certamente, várias pequenas indústrias de cerâmica têm fechado suas portas haja vista a importação maciça de potes e artefatos que estavam sendo produzidos aqui gerando emprego e renda.

Um processo de desindustrialização também preocupante se dá nas médias e grandes indústrias. Já há, no momento, um importante contingente de empresas brasileiras que já fecharam linhas de produção para mandar produzir seus produtos em terras asiáticas. Tais produtos estão sendo comercializados, por exemplo, em lojas de material de construção, nem sempre com a atenção do comprador, pois a marca é a mesma tradicional que ele conhece.

O que imaginar para o futuro neste cenário? As indústrias se transformando em traders e reduzindo suas atuações à venda e à distribuição. Não é impossível imaginar que com o avanço desta prática, não tenhamos aqui no futuro, também varejistas chineses dominando a cadeia, da produção com baixos custos até a própria comercialização. Com certeza, este será um tiro no pé da indústria e do comércio brasileiros.

Precisamos interromper esse processo de desindustrialização, de lucro fácil pela importação de desrespeito às legislações brasileiras sociais e ambientais. Precisamos cobrar das lideranças empresariais medidas eficientes para inibir esse caminho predatório ao nosso desenvolvimento sustentável. É preciso neste momento um pacto entre indústria e comércio para re-estimular a compra de produtos nacionais e garantir um futuro mais consistente e responsável para todos.

Newton Figueiredo é fundador e presidente do Grupo SustentaX, que desenvolve, de forma integrada, o conceito de sustentabilidade ajudando as corporações a terem seus negócios mais competitivos e sustentáveis, identificando para os consumidores produtos e serviços sustentáveis e desenvolvendo projetos de sustentabilidade para empreendimentos imobiliários.

* Colaboração de Janaína S. e Silva para o EcoDebate, 23/12/2010


Compartilhar

[ O conteúdo do EcoDebate é “Copyleft”, podendo ser copiado, reproduzido e/ou distribuído, desde que seja dado crédito ao autor, ao Ecodebate e, se for o caso, à fonte primária da informação ]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta clicar no LINK e preencher o formulário de inscrição. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.