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Artigo

Comer, Rezar, Amar, artigo de Benedicto Ismael C. Dutra

[Este texto pode ser considerado Spoiler]

[EcoDebate] Conversando com um colega que exerce a função de gerente numa importante empresa de serviços, disse-me o mesmo que os jovens estão sem esperanças de que a vida possa melhorar, daí muitos deles desleixam nos estudos, demonstram falta de interesse pela vida, e não poucos acabam resvalando para o uso de drogas.

Na verdade, atualmente esse estado de coisas é mais amplo, atingindo jovens e adultos de ambos os sexos que necessitam de modelos que os levem a uma busca de sentido, e de uma forma de vida mais significativa. O filme “Comer, Rezar, Amar”, baseado no livro autobiográfico da escritora americana Elizabeth Gilbert, conta sua história em busca de sentido para a sua vida após um divórcio, quando sentiu-se vazia, desiludida e sem alegria de viver. Apesar de se tratar de situação semelhante à de muitas mulheres, o filme não chega a empolgar como modelo inspirador, devido à superficialidade dos personagens.

De fato, viajar e conhecer outras cidades e outras culturas é muito gratificante e enriquecedor. Mas, como ficam as pessoas que não podem viajar? Será que não conseguirão encontrar uma saída para as suas aflições e a falta de alegria de viver?

Comer é uma necessidade do corpo, como outras que precisam ser respeitadas e atendidas, e comer com satisfação, em boa companhia, com gratidão transbordante em alegria pelos frutos que a natureza nos oferece, é majestoso, mas não podemos nos esquecer que garimpar obsessivamente pelas cozinhas e adegas não é a principal finalidade da vida.

Amar é o fundamento da nossa essência humana. Mas amar não é só o relacionamento sexual entre o homem e a mulher. Por isso, merece destaque a cena do filme em que Elizabeth, interpretada por Julia Roberts, se afasta de um homem que tinha acabado de conhecer, o qual foi logo tirando a roupa na praia oferecendo sexo, mas ela, mesmo estando só e deprimida, rejeitou a proposta do desconhecido, que representaria apenas um ato paliativo, sem sentimentos ou significado. O amor é uma das características que faz o ser humano, incandescendo-o para atitudes de nobreza e heroísmo, elevando-o. No amor puro, há o desejo de poder fazer algo bem grande para o ser querido, sem ofendê-lo nem magoá-lo, mantendo viva a mais delicada consideração.

A trajetória da personagem no filme é inquietadora, originária da cultura em que “tempo é dinheiro”. Liz foi parar na Itália, onde em companhia de pessoas vazias, sem um querer definido, além de comer, dormir e se divertir, buscou experiências gastronômicas e diversão. Passou pela Índia e suas precariedades humanas, onde se esforçou para manter o silêncio. Indo a Bali, ela conversou sobre a vida com um simpático guru idoso e sem dentes, que recomendava a ela que sorrisse, com o rosto e todo o corpo, incluindo o importante fígado. Lá, ela se apaixonou e encontrou o seu atual marido brasileiro. No entanto, mesmo vivendo aventuras em diferentes países, a história não é contada de forma suficientemente envolvente, e o alongamento das cenas fez com que o público olhasse muito para o relógio e, no final, se levantasse rapidamente das cadeiras.

Apesar disso, observamos que Liz vivenciou boas experiências ao aprender a limpar a mente e reduzir os pensamentos inúteis, e procurar sentir com clareza o seu querer mais íntimo. Como esclareceu Abdruschin, na Mensagem do Graal, o querer interior é o grande poder inerente ao espírito. A força ou o movimento do querer é que exerce a atração da igual espécie.

Para fugir do desânimo e da depressão, os humanos precisam tornar suas vidas significativas, saberem o que querem ter, ser, fazer, enfim, ter propósitos. Quando isso não é cultivado, surge o produto de massa, inculto e sem muito preparo para a vida, que se submete a todo tipo de manipulação externa em suas motivações.

Enfim, rezar tem sido compreendido como ficar repetindo e repetindo frases pré-elaboradas. Já o orar é um querer que vem do íntimo, é a busca pela Luz verdadeira, a iluminação, que fortalece e dá a esperança de que a melhora está a caminho e logo vai nos encontrar para reduzir as aflitivas condições em que nos envolvemos devido as nossas decisões ou omissões. Então, com paz e alegria, preencherão o nosso coração aflito.

* Benedicto Ismael Camargo Dutra, graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, é articulista colaborador de jornais e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. Atualmente, é um dos coordenadores do www.library.com.br, site sem fins lucrativos, e autor dos livros Conversando com o Homem Sábio, O Segredo de Darwin e 2012… E Depois?. E-mail: bidutra@attglobal.net

** Colaboração de Ticiane Araújo para o EcoDebate, 09/12/2010


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