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Artigo

Sensibilidade não é sinônimo de fraqueza, artigo de Lélia Barbosa de Sousa Sá

[EcoDebate] Uma mulher está preparada para assumir a presidência do Brasil.

Durante a campanha eleitoral ouvi essa frase tanto na forma afirmativa como interrogativa e resolvi fazer uma reflexão sobre as mulheres nos cargos de poder.

Sou engenheira civil e assim que eu escolhi a engenharia como profissão, ouvi muitas pessoas afirmarem, como também perguntarem, se essa não seria uma “profissão de homem”. Vou completar 31 anos de formada e, embora não tenha sido fácil a minha caminhada até aqui, em momento algum deixei de fazer alguma coisa pelo fato de ser mulher e ter optado por uma “profissão de homem”.

Eu lembro que fiscalizei uma obra onde tinham aproximadamente 500 operários e, apenas três mulheres no canteiro de obras. Era um fato diferente para as minhas amigas, mas para mim completamente normal. Até hoje é muito normal caminhar nesse universo masculino que é a engenharia. Sofri discriminação, muitas vezes de forma velada, mas pra minha realização profissional tive a honra de presidir o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Distrito Federal, período 2006 a 2008. Em função disso, presidi, ainda, no ano de 2008, no Brasil, um congresso de Mulheres Engenheiras, com participantes de 19 países e tendo contado com o apoio da UNESCO.

Nesse congresso foram tratadas as questões de gênero, onde pudemos constatar que as desigualdades no mercado de trabalho, principalmente quanto ao fator salário, além de injusta, estava aquém do valor adequado ao trabalho desenvolvido pelas mulheres que, muitas vezes, em nada se diferenciam dos executados pelos homens. É importante ressaltar que a capacidade de realização das engenheiras, por exemplo, não está na força física, porém no conhecimento, na criatividade, na sensibilidade, na organização e na competência. Constatou-se, ainda, que a nossa realidade não é tão diferente das dos diversos países presentes, muitos considerados de primeiro mundo.

A participação das mulheres no poder, também, fez parte da temática do congresso. Nesse tópico verificamos que a nossa participação ainda é muito tímida. Acredito que alguns homens ainda nos vejam apenas como uma dona de casa, cujas discussões estão restritas a receitas de bolo, moda e filhos, ou então que não temos jogo de cintura para fazer acordos políticos. Talvez não tenhamos “estomago” para fazer acordos escusos, porém todos aqueles necessários e com objetivos que visem o bem comum, com certeza, independente da questão de gênero, serão plenamente acatados e firmados por nós mulheres.

Voltando ao fato de uma mulher assumir o mais alto posto do País, vejo essa questão normal, porém com 500 anos de atraso. Não sei se os brasileiros estão preparados para serem comandados por uma mulher, mas tenho certeza de que existem muitas mulheres preparadas para comandar o Brasil. Existem muitas mulheres preparadas para serem governadoras, prefeitas, deputadas, senadoras e até assumir a presidência do Congresso Nacional, basta que seja dada uma chance, o apoio necessário e que seja cumprida a legislação eleitoral.

Por isso, eu espero e desejo que a Presidente Dilma possa colocar em prática o discurso da vitória, com a postura de mulher decidida e determinada, sem deixar a sensibilidade de lado e quando tiver vontade de chorar que o faça, sem pudor ou sem vergonha.

Muito embora se costume dizer que quando um homem chora é porque “ele é humano” e quando as lágrimas provem de uma mulher é porque “ela é fraca”, não podemos , nem devemos esquecer que nós mulheres, também, somos humanas e que sensibilidade não é sinônimo de fraqueza.

Lélia Barbosa de Sousa Sá, paraense, engenheira civil e ex-presidente do CREA-DF.

EcoDebate, 05/11/2010


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3 thoughts on “Sensibilidade não é sinônimo de fraqueza, artigo de Lélia Barbosa de Sousa Sá

  • Alcelio Monteiro

    Parabéns Lelia pelo belo texto.
    Se o homem acha que mulher não presta para nada, deveria casar-se com um homem. Já pensou!
    Temos certeza de que o Brasil demorou e muito a fazer a escolha certa: uma mulher no poder maior do País.
    Abraços.
    Alcelio Monteiro

  • Concordo inteiramente com a Léia, por experiência própria o melhor chefe que já tive foi uma jovem mulher: Uma Delegada de Policia que agia estritamente dentro da legistaçâo e da lei, a ela não importava a quem. A sua honestidade e ética era contagiante, enfim me deixou saudades e uma grande admiração, aliás tive outras chefes mulheres e nenhuma me decepciou.

    No momento o meu chefe é homem e tenho dúvidas sobre sua honestidade, é pouco ético e imoral.Inclusive fui obrigado a adverti-lo sobre suas atitudes ou o denunciava a Promotoria Publica, face a face para que ele pudesse se defender. Graças a Deus parece que ele entrou nos trilhos…

    Quanto a Presidente Dilma, nâo votei nela, mas diante da postura que ela vem se colocando tudo indica promessas de uma boa Presidente.

    Vamos torcer porque agora somos todos iguais…

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