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A ‘Americalatinização’ da América? artigo de José Eustáquio Diniz Alves

[EcoDebate] As eleições parlamentares de 02 de novembro podem mudar a correlação de forças no Congresso dos Estados Unidos da América (ou simplesmente América). As disputas internas podem deixar o país paralisado politicamente. A deterioração da democracia americana tem acontecido paralelamente à deterioração das condições econômicas. Já existem análises apontando que os EUA estão ficando parecidos com seus vizinhos abaixo do rio Grande.

A América Latina foi considerada, por muito tempo, como uma região pouco séria, patrimonialista, desigual, economicamente incompetente, em constante crise política, com paralisação do Congresso e sempre perdendo oportunidades de ouro para avançar com o bem-estar e a qualidade de vida de sua população. Já os Estados Unidos eram vistos como o modelo oposto e como a grande referência de sucesso e progresso para o resto do continente.

Mas parece que as coisas estão mudando, de ambos os lados.

Os Estados Unidos são, atualmente, o país mais endividado do mundo, tanto no lado interno, quanto externo. O PIB americano foi de US$ 14,14 trilhões, em 2009, e sua dívida interna de US$ 7,5 trilhões, representava 52,9% do PIB. Nos primeiros oito meses do ano fiscal de 2010, iniciado em 1º de outubro passado, os EUA acumulam um déficit orçamentário de US$ 935,61 bilhões. A dívida externa estava em 13,5 trilhões de dólares, em 2009 e o déficit em transações correntes foi de US 420 bilhões. O déficit na balança comercial, que apresentou declinio na recessão de 2009, foi de US$ 520 bilhões, frente aos US$ 840 bilhões de 2008.

Dados divulgados recentemente mostam que a pobreza cresceu nos Estados Unidos pelo terceiro ano consecutivo, passando de 39,8 milhões de pessoas, em 2008, para 43,6 milhões em 2009, recorde absoluto desde os anos 1930. Cresce também a desigualdade de renda. O índice de Gini estava em 40,8, em 1997, e passou para 45, em 2007. As políticas de cortes de impostos para os ricos, feitas por George Bush, contribuiu para o aumento da pobreza e das desigualdades.

Além disto os EUA não conseguem aprovar uma lei para combater o aquecimento global e estão perdendo a corrida de tecnologias limpas e verdes para salvar o meio ambiente e para mudar o padrão, insustentável, de produção e consumo. A tão elogiada “democracia na América” também está em crise.

No artigo, “Downhill with the G.O.P.”, publicado no New York Times, de 23/09/2010, Paul Krugman, mostra que os partidos Democrata e Republicano (Grand Old Party – G.O.P) não se entendem e que o país está ficando muito parecido ao que tem de pior na América Latina e no caminho de se tornar uma República das Bananas:

Era uma vez, um partido político latino americano prometeu ajudar os motoristas a economizar dinheiro em gasolina. Como? Através da construção de rodovias, que só funcionou morro abaixo. Eu sempre gostei dessa história, mas a verdade é que o partido não recebeu voto algum. E isso significa que a piada funciona para nós. Atualmente, um dos dois grandes partidos políticos da América, rotineiramente, faz promessas igualmente absurdas. Não importa a guerra contra o terror, a principal preocupação do partido [Republicano] parece ser a guerra contra a aritmética. E esse partido tem uma grande oportunidade de retomar, pelo menos, uma das casas do Congresso em novembro. República das Bananas, aqui vamos nós”.

Como disse o artigo de Paul Krugman, os Estados Unidos estão em um caminho morro abaixo em termos de qualidade de vida e em relação à sua liderança isolada entre as principais economias do mundo. A política americana está em frangalhos e o congresso não consegue dar solução para os principais problemas econômicos e sociais do país.

O irônico é que a América Latina está no caminho inverso e apresentou redução da pobreza e das desigualdade nesta primeira década do século XXI. As projeções do FMI indicam que os EUA vão crescer, em média, apenas 2,5% entre 2010 e 2015, contra mais de 4% ao ano, em média, da América Latina e do mundo como um todo.

Desta forma, a América Latina e o Caribe estão passando por um momento especial e positivo, com crescimento econômico, redução da pobreza e da desigualdade e com o fortalecimento dos regimes democráticos na região. Evidentemente, a América Latina está muito longe de atingir os padrões de vida dos EUA. Mas enquanto um está descendo a ladeira (downhill) o outro está escalando melhores níveis de vida (uphill).

Será que nós, latinos, vamos ficar mais parecidos com os americanos? Será que estamos trocando de posições? Será que América Latina vai ficar mais parecida com a América ou toda a América será uma América Latina?

José Eustáquio Diniz Alves, colunista do EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE. As opiniões deste artigo são do autor e não refletem necessariamente aquelas da instituição. E-mail: jed_alves{at}yahoo.com.br

EcoDebate, 28/10/2010


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3 thoughts on “A ‘Americalatinização’ da América? artigo de José Eustáquio Diniz Alves

  • Cesário Simões

    Uma pequena correção: não é “individado”, é “endividado”… No mais, achei interessantes as considerações… É “O Declínio do Império Americano”…

    Caro Cesário,

    Você está absolutamente correto. A palavra foi grafada incorretamente por erro de transcrição do texto na edição. Graças à sua observação o texto foi adequadamente corrigido.

    Obrigado,

    Henrique Cortez,
    coordenador editorial do Portal EcoDebate

  • Suas observações massageiam meu ego. Espero viver o suficiente para vê a derrocada total.

    Parabéns pelo artigo.

Fechado para comentários.