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Pesquisa destaca relação entre hipotireoidismo e doenças coronarianas

Pesquisa destaca relação entre hipotireoidismo e doenças coronarianas

Estudo feito com participação brasileira avalia dados de 55 mil indivíduos acompanhados por até 20 anos em oito países e conclui que disfunção assintomática na tireoide aumenta risco de eventos coronarianos

Pacientes com hipotireoidismo subclínico – um distúrbio assintomático causado por níveis anormais de hormônio estimulador da glândula tireoide – têm maior risco de desenvolver doenças coronarianas.

A conclusão é de um estudo internacional produzido, com participação brasileira, a partir de dados extraídos de mais de 55 mil pacientes que foram acompanhados por diferentes períodos, entre 1972 e 2007, no Brasil, nos Estados Unidos, na Austrália, no Japão e na Europa.

O estudo foi publicado nas edições on-line e impressa da revista Journal of the American Medical Association (JAMA). O autor brasileiro do artigo, José Augusto Sgarbi, professor da Faculdade de Medicina de Marília (Famema), trabalhou em conjunto com a equipe do Laboratório de Endocrinologia Molecular da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), coordenado por Rui Maciel, professor titular da instituição.

Para viabilizar a parte brasileira do estudo, Maciel teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular, entre 2007 e 2009. O cientista possui atualmente mais dois apoios da Fundação, nas modalidades Auxílio à Pesquisa – Regular e Temático.

Sgarbi apresentou os resultados no Congresso Internacional de Tireoide, realizado em Paris (França), entre 11 e 16 de setembro. De acordo com ele, o estudo já causa rápida repercussão, tendo sido objeto de comentários em outras revistas científicas, como a Annals of Internal Medicine e a British Medical Journal.

Segundo Sgarbi, já existiam na literatura científica indícios de que as disfunções tireoidianas subclínicas poderiam estar associadas a doenças cardiovasculares e coronarianas. Mas os resultados dessas pesquisas eram muitas vezes conflitantes, uma vez que não haviam sido feitos ainda estudos de grande escala.

“Embora possa persistir por muito tempo, o hipotireoidismo subclínico geralmente causa alterações mínimas e assintomáticas da glândula tireoide, que só podem ser detectadas com exames laboratoriais. Por isso havia uma grande controvérsia na literatura: essas disfunções devem ser tratadas ou não?”, disse Sgarbi à Agência FAPESP.

A nova pesquisa indica que as disfunções tireoidianas subclínicas merecem mais atenção. “Pela primeira vez, temos uma revisão sistemática com meta-análise de estudos feitos em diversos países, o que aumenta muito o poder estatístico das conclusões”, afirmou.

A parte brasileira do estudo foi concebida como uma avaliação da epidemiologia de doenças tireoidianas em uma população de imigrantes japoneses residentes em Bauru (SP), considerando, entre outros aspectos, as disfunções tireoidianas subclínicas.

Os resultados foram publicados em março de 2010 no European Journal of Endocrinology, em artigo de Sgarbi, Maciel, Teresa Sayoko Kasamatsu e Luisa Matsumura – ambas pesquisadoras da Unifesp – e Sandra Roberta Gouvea Ferreira, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).

“Depois de termos feito uma análise populacional em Bauru, fizemos uma caracterização e acompanhamos as pessoas selecionadas por um período de sete anos e meio. A conclusão foi que os indivíduos com hipotireoidismo subclínico têm um risco maior de morte por todas as causas relacionadas a eventos coronarianos”, afirmou Sgarbi.

Mortalidade aumentada

Com a publicação do estudo, a equipe foi convidada a participar da formação de um grupo de pesquisa voltado especificamente para as disfunções tireoidianas subclínicas. O consórcio envolvia cientistas dos Estados Unidos, Suíça, Holanda, Itália, Austrália e Japão. Todos já haviam publicado estudos populacionais sobre o tema.

“Optamos por abrir os dados de todos os estudos, com diversas populações, e o resultado foi uma amostra de mais de 55 mil indivíduos. Dessa amostra, cerca de 6% – ou 3.450 – indivíduos, tinham hipotireoidismo subclínico. O período de acompanhamento dos pacientes variou entre dois anos e meio e 20 anos. Sintetizamos os dados, avaliando-os como se fosse uma só população”, disse.

De acordo com o cientista, os resultados mostraram que, entre os pacientes com hipotireoidismo, aqueles cujos níveis de hormônio estimulante da tireoide (TSH, na sigla em inglês) ultrapassavam 10 miliunidades por litro (mIU/L) apresentavam maior risco de eventos coronarianos.

“Mostramos que o risco foi aumentado em uma vez e meia em relação aos indivíduos que não possuíam a disfunção. A mortalidade por causa coronariana também foi aumentada nos pacientes com TSH acima de 7 mIU/L”, disse Sgarbi.

Em relação à idade, o risco se manifestou principalmente na faixa etária que vai dos 65 aos 79 anos. “A análise mostrou que na faixa etária acima dos 80 anos o risco não persistiu. Isso talvez sugira que o hipotireoidismo subclínico possa ser até mesmo um fator protetor para os indivíduos mais idosos”, disse o pesquisador.

O artigo Subclinical Hypothyroidism and the Risk of Coronary Heart Disease and Mortality (doi:10.1001/jama.2010.1361), de José Sgarbi e outros, pode ser lido por assinantes da Journal of the American Medical Association em http://jama.ama-assn.org.

Reportagem de Fábio de Castro, da Agência FAPESP, publicada pelo EcoDebate, 14/10/2010

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