Marina e a ‘onda verde’, artigo de Montserrat Martins

A senadora Marina Silva participa de reunião com representantes do PV. Foto ABr

[EcoDebate] A duas semanas do segundo turno, nesse final de semana Marina se reúne com convencionais do PV de todo o país para uma tomada de posição conjunta. A agenda “por um Brasil Justo e Sustentável” foi apresentada para Dilma e Serra desde o dia 8 de outubro, para que se posicionem sobre dez temas considerados fundamentais.

Analistas políticos tentam decifrar o “fenômeno Marina” e a chamada “onda verde” que representou a maior votação da história do país em uma “terceira via” política, até o momento. Causam perplexidade os quase 20 milhões de votos (e 20 % dos votos válidos) pelo fato de Marina concorrer por um partido com estrutura pequena, o Partido Verde, sem que haja no país uma tradição de votos ligada à sustentabilidade. Daí, passaram os analistas a buscar na candidata outras características pessoais, atribuindo sua votação a questões religiosas, que foram promovidas ao centro dos debates.

Esqueceram de perguntar aos seus eleitores os motivos da preferência por Marina (talvez pelo descrédito em que caíram os institutos de pesquisa). Se o fizessem, encontrariam aí outros valores que tem sido colocados em plano secundário na política tradicional, como é o caso de um forte compromisso com a ética – que inclui também uma nova forma de comunicação com o público, propositiva e sem ataques pessoais aos demais candidatos.

Sim, é verdade que a candidata é maior que o seu partido e que não segue algumas posições anteriores deste – mas é mais verdade, ainda, que a causa verde no mundo inteiro se caracteriza pelo respeito às diferenças (um conceito de “biodiversidade humana”) e uma nova forma de fazer política, repudiando práticas autoritárias de todas as matizes ideológicas. Quando o PV se diz “à frente”, está falando não só de novas relações da economia com os recursos naturais, como também de novos modelos de relações humanas – o chamado “ambiente humano”.

É curioso que a tantos analistas políticos tenham passado desapercebidas tais afinidades pessoais de Marina com os verdes (do mundo inteiro) e principalmente com a população brasileira, ávida de mudanças na conduta de seus políticos. É como se nossos intelectuais, já tão acostumados aos “jogos do poder”, tivessem perdido a sensibilidade para detectar condutas que fogem ao tradicional – o que, por sua vez, os eleitores parecem haver reconhecido em Marina.

* Candidato do PV ao Governo do Estado do RS

Montserrat Martins, Psiquiatra, é articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 15/10/2010

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