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Pré-eclâmpsia: Ameaça silenciosa à gravidez

Pré-eclâmpsia: Ameaça silenciosa à gravidez
Infográfico no Correio Braziliense. Para acessar o infográfico no tamanho original clique aqui.

Especialistas alertam: grávidas devem monitorar cuidadosamente a pressão arterial

A vendedora Julinda Ribeiro de Souza, 30 anos, não se recorda bem dos fatos que antecederam e acabaram culminando com o nascimento precoce de seu bebê, em 24 de maio passado. Aos seis meses de gestação, ela foi vítima da falta de diagnóstico da pré-eclâmpsia, problema que ainda está entre as principais causas diretas de mortalidade materna no Brasil.

Embora dados do Ministério da Saúde indiquem que o número de mortes em decorrência do mal tenha caído ao longo das últimas décadas, estudos sugerem que pelo menos três mulheres morrem diariamente devido ao problema — especialistas o definem como um quadro hipertensivo, associado à perda de proteínas na urina após a 20ª semana da gravidez. Os relatórios oficiais revelam que, em 1990, a cada 100 mil nascidos vivos, 140 mortes maternas eram registradas, 40,6% delas devido à hipertensão na gravidez. Em 2007, o número de fatalidades baixou para 75/100 mil e a porcentagem das mães que morreram por conta da pré-eclâmpsia e suas complicações foi reduzida para 15,1%. Reportagem de Márcia Neri, no Correio Braziliense.

Julinda é uma sobrevivente. Somente na semana passada, com lágrimas nos olhos, foi autorizada a segurar a filha pela primeira vez nos braços. “Um dia antes de Isabela precisar ser retirada do meu ventre, passei mal de repente. Senti uma dor horrível no estômago e vomitei muito. Já tinha passado da fase de azias e enjoos e desconfiei que algo poderia estar errado. Fui a um hospital em Luziânia, onde moro. Acordei quatro dias depois, na UTI de um hospital em Brasília. Minha pressão foi a 20/12”, relata. A pré-eclâmpsia é um processo inflamatório que geralmente surge no início da gestação e vai aumentando gradualmente. Os sinais mais evidentes, além da dor de cabeça frontal, são os vômitos e o inchaço nas mãos, nas pernas e nos pés.

A eclâmpsia é a pré-eclâmpsia acrescida de crises convulsivas. O obstetra Ricardo Cavalli, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), explica que, na mãe, os dois quadros podem comprometer rins, fígado, placenta, visão, coagulação sanguínea e todos os sistemas do corpo. A pré-eclâmpsia deixa o feto vulnerável à falta de oxigenação e nutrição. Quando ocorrem as crises convulsivas, há risco de lesões neurológicas irreversíveis na mãe e na criança. “Nosso país ainda ostenta o título de campeão de mortes maternas. Os quadros hipertensivos são a segunda causa de óbito materno (29% dos casos), perdendo apenas para o sangramento (30% dos casos). Tais índices serão reduzidos apenas quando houver a ampliação do acesso ao pré-natal e a melhora da estrutura hospitalar, de norte a sul do país”, pontua Cavalli.

O obstetra Petrus Sanchez, coordenador do plantão de ginecologia e obstetrícia do Hospital Brasília, alerta que, quanto mais cedo a pré-eclâmpsia se manifesta, mais grave e intensamente ela afeta as mulheres. “Em geral, a pressão arterial sobe gradativamente. Quando a gestante chega a 14/9, é um sinal de alerta. O problema é que muitas mulheres não sentem mal-estar e, acima desse nível, o quadro se agrava rapidamente, podendo evoluir para a eclâmpsia ou Síndrome de Hellp — falência das funções hepáticas, dos rins e diminuição do número de plaquetas —, situações muito graves”, pontua.

Com Julinda, a sequência ocorreu em questão de horas, chegando à Síndrome de Hellp. Depois de ter várias convulsões, quando chegou ao hospital em Brasília o coração já batia lentamente, o fígado e os rins não funcionavam e a função cerebral estava comprometida. Ela expelia sangue pelos poros, pelo nariz e por outros orifícios. Uma cesariana de urgência foi feita e os médicos deram 1% de chance de sobrevivência para as duas.

O estado de mãe e filha era crítico. As convulsões comprometeram o bebê, que precisou ser reanimado e, três meses depois, ainda está na UTI. “Julinda ficou em coma, correu risco de ficar cega e paralítica. Foi necessário fazer transfusão de sangue e hemodiálise. Graças a Deus, depois de 15 dias entre a vida e a morte, ela conseguiu dar a volta por cima e não ficou com nenhuma sequela”, conta o comerciário Lécio de Souza, marido de Julinda. Isabela nasceu com apenas 760g. Ao longo dos últimos 90 dias, engordou 1kg. “Infelizmente, não sabemos a dimensão das lesões neurológicas, mas temos esperança de que a alta ocorra em 15 dias. Diante do que presenciei, se minha mulher sobreviveu e está bem, pode acontecer o mesmo com a minha filha”, espera Lécio.

Como controlar
De acordo com Sanchez, não há como prevenir a pré-eclâmpsia e seus desdobramentos. O tratamento definitivo é o parto. Quando é possível, o controle da hipertensão pode ser feito com medicamentos e monitoramento atencioso. “Muitas gestantes ficam internadas para receberem esses cuidados. Quando a pré-eclâmpsia surge muito precocemente, o grande desafio dos médicos é avaliar o melhor momento para interromper a gestação sem colocar em risco a vida da mãe e da criança”, pondera. Mulheres muito jovens (abaixo de 19 anos), acima de 40, hipertensas e diabéticas, obesas, grávidas de gêmeos e com casos da doença na família estão mais suscetíveis ao problema. “Ainda não conseguimos trabalhar a prevenção porque não sabemos a causa da doença. Alguns autores acreditam que a pré-eclâmpsia é originária de uma placentação inadequada, ou seja, de um processo de adesão da placenta ao útero de forma imprópria”, completa o obstetra Ricardo Cavalli.

Pouco frequente, mas possível, a pré-eclâmpsia, a eclâmpsia e a Síndrome de Hellp podem ocorrer depois do parto. A engenheira agrônoma Denize Maria Martins, 32 anos, passou recentemente por essa situação. Ela conseguiu controlar a hipertensão com medicamentos até o último mês de gestação. O bebê nasceu em Brasília em 6 de agosto, o parto foi tranquilo e as duas receberam alta depois de três dias. Moradora de Formosa (GO), ao chegar em casa Denize sentiu dor de cabeça leve, seguida de mal-estar. “Fui ao hospital aferir a pressão, que já estava 15/10. Fiquei internada e, mesmo medicada, tive picos de 18/10. Acabei perdendo a consciência e tendo convulsões. Acordei algumas horas depois na UTI de um hospital em Brasília. Fiquei internada mais uma semana. Foi um susto, mas graças a Deus não tive sequelas”, diz aliviada.

EcoDebate, 01/09/2010

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2 thoughts on “Pré-eclâmpsia: Ameaça silenciosa à gravidez

  • Alô Alô Ministério da Saúde. É necessário uma campanha incentivando o pré-natal para as mamães. Elas precisam ser mais alertadas sobre os sintomas da Eclâmpsia!
    Lembre-se de que as crianças de hoje, serão os adultos de amanhã!

Fechado para comentários.