EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Crendices e superstições relacionadas à gravidez não passam de mitos e podem ser prejudiciais à mãe e ao bebê


Foto: Med Imagem

É preciso cuidado: alguns deles chegam a ser potencialmente prejudiciais à mãe e ao bebê

Basta o exame dar positivo para surgir uma enxurrada de sugestões, superstições e crendices. “Enjoo com doce é menino. Com salgado, menina.” “Tá com azia? Xi, então, o bebê vai nascer cabeludo.” “Nada de dormir de bruço, porque o bebê pode nascer com os pés tortos.” Centenas de mitos envolvem este período tão importante na vida de uma mulher. Além de passarem por uma transformação física, as grávidas enfrentam uma série de questionamentos e dúvidas. E, durante os longos nove meses, todo mundo — a mãe, a avó, a sogra, a vizinha, o porteiro, a manicure e até mesmo um desconhecido —vira especialista. A informação certa parece ser a grande arma da ciência para esses casos. O primeiro passo para se livrar dos mitos é simples: surgiu alguma dúvida? Consulte o médico, sempre.

Depois de ouvir tantas perguntas e dúvidas relacionadas à gravidez no consultório, o pediatra Ricardo Lopes Pontes resolveu reuni-las no livro Barriga redonda, barriga pontuda – Derrubando mitos, crendices e superstições sobre a gravidez (Casa da Palavra Editora), com a ajuda da jornalista Ana Paula Brasil. “Já me perguntaram muita coisa, algumas engraçadas e outras perigosas. Por exemplo, dizer que durante a amamentação não pode tomar líquido nenhum. Isso pode prejudicar a saúde, porque hidratação é importante para a mãe conseguir produzir o leite. É preciso ter bom senso e confiar ao médico todas as dúvidas”, afirma o especialista. Reportagem de Tatiana Sabadini, no Correio Braziliense.

É exatamente isso que Roziane Maria de Aquino, 33 anos, grávida de quatro meses e à espera de gêmeos, tenta fazer. Em qualquer lugar que ela vá, alguém tem um conselho ou uma sentença. “Ainda mais eu que vou ter dois, já escutei até que por isso não vou poder amamentar. Mas eu escuto educadamente e depois deleto. Só tenho duas fontes para a minha gravidez: minha médica e uma amiga que é enfermeira”, comenta. Para a recepcionista, a melhor dica da médica foi o picolé de limão (1) para combater o enjoo. “Esse não é mito, funciona”, diz.

A segunda vez pode ser mais fácil, porém não menos emocionante. Para Jacqueline Dias Rodrigues, 35 anos, quatro meses de gestação, à espera de um menino, ainda há dúvidas e uma certa ansiedade. “Minha filha tem 11 anos. Faz tanto tempo que me esqueci de muita coisa. Mas sempre que aparece alguma pergunta, principalmente sobre o que eu posso e não posso comer, recorro à minha médica”, conta a atendente.

Na hora de comer
O cardápio ideal durante a gestação gera incerteza para muitas mulheres. O primeiro passo, no entanto, deve ser deixar de lado a história de que é preciso “comer por dois”. “Ganhar muito peso durante a gravidez pode prejudicar tanto a mãe quanto a criança. Isso pode desenvolver um problema de obesidade, hipertensão e diabetes”, explica Ricardo. Duas recomendações, no entanto, podem ser levadas a sério: beber leite e comer mais folhas verde-escuras. São duas fontes de cálcio e ferro que ajudam na formação do feto.

Outro mito que também pode prejudicar a saúde da futura mãe é de que “muita ginástica durante a gravidez pode prejudicar o bebê”. De acordo com Daniela Rico, professora especialista em atividade física na gestação e no pós-parto da academia Companhia Athlética, muitas grávidas têm dúvidas se devem ou não se render ao exercício. “O maior medo é que o neném possa sofrer durante a malhação, mas esse risco não existe. Atividades leves e moderadas são super-recomendadas e ajudam muito na gestação. As mais intensas sim, podem prejudicar, porque diminuem os nutrientes da mãe”, comenta.

Para Délcio Rodrigues, ginecologista do Hospital Anchieta, que criou um curso para gestantes há quase 30 anos, muita coisa mudou. As mulheres estão mais confiantes e têm mais acesso à informação, mas a cultura popular ainda é muito forte. “Precisamos deixá-las manifestarem esse instinto nato de ser mãe, sem bloqueios. Percebemos que algumas questões são básicas para gestantes, geram muito ansiedade e são muito arraigadas culturalmente por mais que a gente dê elementos objetivos para comprovar o contrário. Porém, quando a pessoa está preparada, ela supera esses medos com muita facilidade”, analisa o médico.

Com uma lista de mitos sobre a gravidez nas mãos, Roziane e Jacqueline se surpreenderam. Conheciam quase todas as mentiras, a única dúvida era sobre como “banho quente é bom para desempedrar o leite”. Elas tinham certeza de que era verdade. O banho relaxa e aumenta a produção de leite, mas, se ele empedrar, a água quente pode piorar a situação. “Eu cheguei a fazer isso na minha primeira gravidez, meu leite empedrou, e ainda me recomendaram uma simpatia: fazer massagem com um pente embaixo do chuveiro”, relembra Jacqueline.

A amamentação é uma das fases que mais trazem dúvidas para as mulheres, segundo Maria Elizabeth Correa Santos, fisoterapeuta neonatal e coordenadora do curso de gestantes da Unimed Brasília. “Muitas não querem nem tentar, porque acham que o peito vai cair, mas é justamente o contrário: quanto mais você amamenta, mais bonita fica. As mães também costumam acreditar que, se a criança arrotar no peito, ele pode inflamar. Pura mentira, é completamente natural que isso aconteça. Outra coisa: não existe leite (2) fraco, toda mãe tem suficiente para alimentar e sustentar seu filho”, confirma a especialista.

As únicas simpatias válidas são as que servem para adivinhar o sexo do bebê, porque não causam perigo à saúde da futura mãe. Nenhuma tem comprovação científica, mas são divertidas. “Tem muita gente que carrega essas histórias desde a época da avó. E não importa qual for o método, as chances de acertar são de 50%”, aponta Maria Elizabeth. Entre as mais usadas pela atendente estão colocar um garfo e uma colher enrolados no guardanapo na mesa: se a grávida escolher o primeiro, é menino; se for a segunda, menina. Outra tática é cozinhar um coração de galinha (só serve se for caipira) e cortar no meio. Se ele abrir, é mulher; se ficar fechado, homem. “Fiz todas e deu certo e ainda dei boas risadas”, garante Jacqueline.

1 – Sintoma passageiro
Os enjoos são causados pelo hormônio produzido para garantir o desenvolvimento do bebê até que a placenta esteja pronta para assumir essa função. Alguns alimentos aliviam a náusea, principalmente os ácidos, como tomate, tangerina e picolé de limão. O médico obstetra também pode dar orientações e sugerir alguma medicação, se necessário.

2 – Essencial para o bebê
O leite materno tem um aspecto mais ralo, porém é rico em nutrientes, não precisa ser substituído ou complementado. É a melhor alimentação para o bebê, porque reforça o sistema imunológico. Nos primeiros seis meses de vida, os pediatras recomendam apenas o aleitamento materno. Ele é suficiente para manter um ótimo nível de hidratação, não havendo necessidade de dar água ou chás ao bebê nessa fase.

Mitos sobre gravidez

“A mãe vai sentir o bebê se mexer quando comer doce”
Na crença popular, ainda na barriga, os bebês gostam de chocolate e chutam loucamente quando ganham sorvete. Mas não existe relação do movimento fetal com o que você come. Eles ainda não têm preferências alimentares quando estão na sua barriga.

“Ginástica durante a gravidez prejudica o bebê”
Não é verdade. Exercício faz bem à gestação. Mas o médico deve ser consultado sobre o tipo de atividade física. Hidroginástica e natação são bem populares entre as grávidas.

“Grávida não pode viajar de avião”
Depende da fase da gestação. Se ela estiver bem pode viajar até o fim do sexto mês. A partir daí é desaconselhado. E a empresa aérea só vai permitir o embarque com autorização do médico.

“Grávida sente mais calor”
Não obrigatoriamente, mas é comum. O metabolismo da gestante trabalha acima do normal. E ela passa por mudanças hormonais que podem aumentar a sensação de calor e a transpiração.

EcoDebate, 19/05/2010

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta utilizar o formulário abaixo. O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.

O EcoDebate não pratica SPAM e a exigência de confirmação do e-mail de origem visa evitar que seu e-mail seja incluído indevidamente por terceiros.

Participe do grupo Boletim diário EcoDebate
E-mail:
Visitar este grupo

Fechado para comentários.