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(Envenenamento por mercúrio) Mal de Minamata, artigo de Roberto Naime

 

(Envenenamento por mercúrio) Mal de Minamata, artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] A preocupação com o meio ambiente nasceu na década de 50, na pequena cidade de Minamata no litoral do Japão, um lugar pequeno e tranquilo, em que boa parte da população vivia da pesca.

Em 1932 se instalou nesta localidade japonesa, a indústria Chisso, que fabricava acetaldeído, que é usado na produção de plásticos. Seus resíduos eram despejados no mar, sem qualquer tratamento e continham grande carga de mercúrio.

O mercúrio é um metal pesado, teratogênico (quer dizer causa problemas na formação dos fetos durante a gravidez). Em 1953, depois de várias observações de animais com comportamento estranho (espécies domésticas realizando estranhos movimentos), também começaram a se identificar vários problemas de coordenação motora na população humana, além dos problemas dos nascituros.

Na cidade japonesa de Minamata houve mais um desdobramento trágico que hoje se repete de uma forma muito comum. A indústria Chisso empregava boa parte da população e se fechasse as pessoas ficariam sem trabalho. Foi o primeiro e clássico caso de conflito entre a sobrevivência e a qualidade de vida. Ainda hoje é esta a discussão que frequentemente se torna hegemônica, ainda que de forma imprópria, na avaliação de impacto ambiental de qualquer empreendimento.

Com o tempo se tornou um consenso que para solucionar os problemas ambientais é necessário antes resolver o problema da sustentabilidade econômica das populações humanas. Não tem como pedir para uma pessoa remediada, que sustenta sua família através da renda de uma atividade predatória que pare de fazer isto por consciência ambiental, sem que se dê uma alternativa econômica para estas pessoas.

Isto não é o caso de grandes empreendedores, que por desconhecimento, ou alegado desconhecimento, causam impactos ambientais de relevância e não se conscientizam para elaborar um planejamento que compatibilize suas atividades com os meios físico, biológico e antrópico, sem causar impactos ambientais.

Em Minamata houve um confronto amargo entre empregados da fábrica e parentes das vítimas, que somente cessou quando a organização mudou seu ramo de atividade.

A doença de Minamata, como veio a ser conhecida, chamou a atenção do mundo todo para os problemas ambientais. Foi possível ver que não era viável continuar agredindo a natureza sem pagar um alto preço por isto. Não era possível produzir e descartar inadequadamente efluentes industriais, resíduos sólidos ou emissões atmosféricas.

Particularmente houve uma consciência que os metais pesados são um grande perigo. O mercúrio, por exemplo, é cumulativo nos tecidos animais, se torna teratogênico no gênero feminino durante a gestação, causa problemas de toxidez e psicomotricidade dentre outros e pode levar a morte.

No ser humano é ingerido, do fígado passa para a corrente sanguínea e acaba se alojando de forma definitiva no cérebro onde pode gerar lesões irreversíveis, dependendo das quantidades e da reação específica do organismo considerado.

O simples recondicionamento de baterias, feito por pequenas indústrias de fundo de quintal produzem vapores de chumbo altamente tóxicos que se desprendem do processo. Agora que não se comece a moralização do setor ambiental pelas pequenas indústrias de recondicionamento de baterias, pois existem questões bem mais graves em natureza e intensidade, envolvendo interesses de grandes empreendedores ou até grandes grupos econômicos.

Metais pesados são um risco constante para a saúde humana, constituindo um perigo ao qual devemos sempre estar atentos.

Não são os únicos poluentes relevantes ou os únicos problemas ambientais do mundo, mas talvez constituam um dos mais graves, assim como o desmatamento e a perda de biodiversidade.

Quando estamos diante de problemas de avaliação de impactos ambientais, antes de interesses econômicos do empreendedor ou de organizações que possam se vincular a estratégias econômicas divergentes, deveríamos com certeza, pensar que não queremos sofrer como os habitantes de Minamata.

Roberto Naime, Professor no Programa de pós-graduação em Qualidade Ambiental, Universidade FEEVALE, Novo Hamburgo – RS, é articulista do EcoDebate.

EcoDebate, 05/05/2010

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