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Nova direita americana possui o caráter intolerante e racista do fascismo

Passeata durante o Tea Party. Foto de Jesse Russell, Madison, WI, no HuffingtonPost.com
Passeata durante o Tea Party. Foto de Jesse Russell, Madison, WI, no HuffingtonPost.com

Nova direita cresce nos EUA - O movimento conservador em ascensão rompeu os moldes do republicanismo e lembra o caráter racista e fanático do fascismo

Se alguém acredita que a dupla Bush-Cheney é a versão mais extrema do conservadorismo americano, é possível que logo comprove que está errado. O movimento conservador em desenvolvimento nos últimos meses nos EUA, alimentado pelo rancor de uma classe média empobrecida e pela ambição de uma nova classe política pós-partidária, rompeu os moldes do republicanismo tradicional e lembra o caráter racista, nacionalista e fanático do fascismo. Por enquanto só lhe falta o ingrediente da violência.

O último sinal de alarme foi a recente reunião do movimento Tea Party em Nashville (Tennessee), e o discurso de seu líder mais visível, Sarah Palin, que levou o populismo ao grau de elogiar a ignorância como mostra de autenticidade e de destacar como maior qualidade política de Scott Brown, o recém-eleito senador por Massachusetts, o fato de ser “simplesmente um homem com uma camionete”. Reportagem de Antonio Caño, no El País.

Palin é aclamada por seus seguidores pela simplicidade de seu expediente acadêmico, uma simples graduação em jornalismo pela modesta Universidade de Wyoming, contra os títulos da Ivy League que Barack Obama acumula em Columbia e Harvard. O próprio Brown ganhou adeptos pela virilidade abertamente exibida na revista “Cosmopolitan”, contra o refinamento pudico dos políticos tradicionais.

A nação dos Tea Party se mostra, com efeito, convencida de ter implementado uma revolução contra a oligarquia de Washington semelhante à que no século 18 expulsou os colonialistas britânicos. De repente, os republicanos com mais “pedigree” estão em perigo diante dessa onda. O governador da Flórida, Charlie Crist, um moderado que no ano passado gozava de 70% de popularidade, hoje se vê superado nas pesquisas por um jovem desconhecido ultrarreligioso chamado Marco Rubio. Até John McCain, o indiscutível vice-rei do Arizona, hoje está seriamente ameaçado por J. D. Hayworth, um charlatão de uma rádio local que, na definição do “New York Times”, “todo dia ataca, e nem sempre nesta ordem, a imigração ilegal, a perda de patriotismo no país e tudo o que Obama faz”.

Todas as manhãs surge entre as fileiras do Tea Party algum desconhecido que em meia hora da demagogia mais radical ganha 10 pontos nas pesquisas. “O movimento está amadurecendo”, afirma Judson Phillips, um dos fundadores desse fenômeno. “As manifestações estavam bem para o ano passado, mas este ano é preciso mudar as coisas, este ano temos de ganhar.”

Ganhar o quê? Para conduzir o país aonde? Alguns conservadores moderados e cultos, como Peggy Noonan ou David Brooks, afirmam que não há nada a temer, que esses grupos são enraizados nas tradições libertárias dos EUA e que sua contribuição servirá para dinamizar a vida política do país.

É possível. Certamente, a hostilidade que este movimento manifesta em relação a Obama não se afasta muito da que a esquerda exibiu contra Bush – devem-se lembrar as menções a seu vício em álcool ou sua suposta indigência intelectual – e cabe perfeitamente, portanto, no jogo da democracia.

Mas de um ponto de vista europeu, no que está acontecendo hoje nos EUA, se observa algo mais que isso. Um dos oradores em Nashville afirmou com convicção que “o nascimento de Cristo está melhor documentado que o de Obama”. “É africano”, gritou uma mulher da platéia. Por trás dessa campanha que nega ao presidente sua cidadania norte-americana, parece esconder-se tanto um sentimento ultranacionalista quanto uma rejeição a sua raça.

Ninguém fala nos EUA sobre esse último fator. Para os que apoiam Obama, pode parecer vantagismo recorrer ao grito de racismo cada vez que se critica o presidente. Seus inimigos, é claro, não admitem esse pecado, por mais que na reunião de Nashville se escutasse só uma voz negra, obviamente exibida para ocultar o caráter puramente branco do movimento. Esse novo conservadorismo reúne muito da frustração do homem branco acumulada desde a liberação feminina, os direitos civis, de todas as leis para a igualdade que foram reduzindo o poder do setor social eternamente dominante. Esse homem branco que tampouco se viu favorecido pelos bons contatos, as amizades úteis, o dinheiro fácil, e que foi engrossando nas últimas décadas uma classe média que foi o orgulho da nação nos anos 1950, mas que foi impiedosamente maltratada pela última revolução tecnológica e a recente crise econômica.

Essa classe média branca ferida dispara contra o que está mais perto: os imigrantes, as minorias raciais, os dirigentes políticos. Tenta reduzir a concorrência, que considera injusta, e pretende que os EUA sejam só para os verdadeiros americanos. Busca a salvação em novas doutrinas, e atende à voz maternal de Palin e aos alaridos patrióticos dos locutores de rádio. Glenn Beck ou Rush Limbaugh se transformam assim nos Walter Conkrite dos novos tempos.

Os conservadores americanos não creem que haja qualquer perigo. Confiam cegamente na força integradora dessa democracia e em sua capacidade indestrutível de conter qualquer ameaça. Mas, de uma óptica europeia, essa combinação de demagogia, racismo, nacionalismo e xenofobia, assumida por uma classe média ferida e agitada, é uma receita muito conhecida e ainda temida. É verdade que o novo movimento conservador americano se orgulha sua defesa da liberdade e ainda não parece compatível com um governo que não garantisse o respeito ao indivíduo. Mas o aroma de Nashville semeia dúvidas, traz más sensações, assusta.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Reportagem do El País, no UOL Notícias.

EcoDebate, 18/02/2010

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