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Artigo

A Suzano no Maranhão, artigo de Josué Almeida Moura

Os impactos ambientais e socioeconômicos da construção de uma fábrica de celulose

A construção da unidade de produção de celulose do Grupo Suzano, na região sul do Maranhão, deve ser iniciada em 2011, com previsão de entrar em operação em 2013. A confirmação foi feita pelo executivo do grupo Luiz Antônio Cornacchioni, em meados do mês de outubro, ao secretário estadual de Indústria e Comércio, Maurício Macedo, durante reunião realizada na sede daquela secretaria.

Logo em seguida o governo Roseana tem feito dessa confirmação um verdadeiro libelo na chamada propaganda institucional, apontando para os maranhenses com um futuro de emprego e conseqüente riqueza com a instalação desse e de outros grandes empreendimentos no estado.

Embalados pela esperança de milhares de empregos, os municípios de Porto Franco e Imperatriz disputam para ter em suas jurisdições a instalação da Fábrica, um projeto orçado em aproximadamente R$ 3 bilhões, com capacidade de produção da ordem de 1,3 milhão de toneladas por ano, podendo alcançar 1,5 milhão de toneladas/ano. Segundo a Suzano, só a obra vai gerar cerca de 11 mil empregos, entre diretos e indiretos, durante a fase de construção.

Uma das maiores produtoras de papel e celulose da América Latina, a Suzano Papel e Celulose já anunciou este ano investimentos da ordem de US$ 100 milhões na composição de base florestal para suprir as demandas das duas novas unidades industriais, sendo uma no Maranhão e outra no Piauí. A meta da empresa é plantar 220 mil árvores por dia.

Embevecidos pela propaganda desenvolvimentista da Suzano e do governo do Maranhão, os municípios que lutam pela instalação da fábrica em seu solo nem se dão conta do que poderá vir depois com crescentes impactos ambientais e socioeconômicos do referido empreendimento.

Atualmente, os países ricos, que são os grandes consumidores, já não produzem sua própria celulose. Nos últimos 15 anos começaram a definir-se zonas de consumo e outras que se perfilam como enormes produtoras de papel e pasta. Em sua busca de áreas com melhores condições climáticas e econômicas, a indústria se expandiu para a Ásia e América Latina. E as Américas Latina e do Sul tornaram-se espaços “prioritários”.

De acordo com o Movimento Mundial pelos Bosques Tropicais, esse consumo excessivo “gera graves impactos sobre a vida de milhões de pessoas”: o papel precisa de madeira, que provém de enormes monoculturas, instaladas em terra fértil e barata com mão-de-obra menos custosa, subsídios e apoios estatais e um escasso controle ambiental.

O resultado é o mesmo para cada país. “Latifundização e estrangeirização da terra, concentração do poder, expulsão da população rural que acabam migrando para a s cidades com as conseqüências que todos já conhecem, perda neta de empregos locais, esgotamento de solos e recursos hídricos, perda de biodiversidade”. E o problema “se agrava ainda mais com a instalação de fábricas de celulose para exportação nas imediações das áreas plantadas, com os conseqüentes impactos socioambientais”.

“A Botnia no Uruguai, a Celco no Chile e a Aracruz no Brasil não são mais do que a ponta do iceberg. Deve-se também prestar atenção no que for feito sobre o rio Paraná, onde o abundante volume ‘dilui’ ardilosamente a poluição. Uma vez instaladas as megaindústrias de celulose, inevitavelmente criar-se-á um pólo de indústrias sujas na região, expulsar-se-ão as indústrias e serviços amigáveis com o meio ambiente e as que precisam de água e solos de alta qualidade, gerando uma onda de migração e desemprego”, asseverou Jorge Cappato, diretor geral da Fundação Proteger e coordenador nacional do Comitê Argentino da União Mundial para a natureza (UICN).

Segundo o especialista de Proteger, com a desculpa de que “o rio já está contaminado”, e com a luz verde de controles políticos débeis, “as indústrias sujas – e de produção em massa e barata, porque comparativamente geram pouco emprego e porque pouco lhes importa o ambiente–, virão como moscas ao mel. Entraremos num espiral com mais contaminação, mais pobreza e menos qualidade de vida. Esta é a encruzilhada e o ponto de inflexão em que nos encontramos no Cone Sul, precisamente neste momento”.

Segundo o trabalho, a demanda mundial de pasta de celulose alvejada no mercado crescerá de 45 milhões de toneladas em 2005 a 74 milhões de toneladas em 2020. Esse incremento de 29 milhões de toneladas implicará uma ampliação do mercado em 1,9 milhões anual, até 2020, equivalente a duas usinas por ano como as do maranhão e Piauí até 2020.

Esse consumo excessivo, acrescenta, gera graves impactos sobre a vida de milhões de pessoas no sul. “Esse papel e papelão é produzido a partir de celulose, em cuja elaboração se requer madeira, que crescentemente prove de enormes monoculturas de árvores, em particular eucaliptos, pinheiros e acácias”.

Essas monoculturas se instalam em regiões que reúnem várias condições: rápido crescimento das árvores, acesso a amplas áreas de terra fértil e barata, mão-de-obra barata, disponibilidade de subsídios e apoios estatais, escasso controle ambiental.

“Apesar das promessas de “desenvolvimento” que acompanham as plantações, os impactos se agravam à medida que se incrementa a área plantada, como é facilmente percebido em países com milhões de hectares de plantações como a África do Sul, o Brasil, o Chile e a Indonésia”.

A Aracruz e a Veracel no Brasil, a Arauco no Chile e na Argentina, Sappi e Mondi na África do Sul e na Suazilândia, a Advance Agro na Tailândia, a Ásia Pulp and Paper na Indonésia são exemplos conhecidos dos graves impactos desta indústria”.

E tudo para quê? “Para que a indústria do papel possa dispor de celulose abundante e barata para continuar ampliando seus mercados e aumentando seus lucros, mediante a permanente invenção de novas ‘necessidades’”, responde o World Rainforest Movement.

O que Fazer

Em seu trabalho apresentado em agosto do ano passado, a organização se refere à escalada da produção de celulose na América Latina e à possibilidade que as empresas e os governos têm de transformar essa indústria contaminante em outra limpa, ao fixar critérios ambientais que se sustentem no tempo e promover a reciclagem nos países do norte, que são os maiores consumidores.

Durante as próximas décadas haverá uma importante pressão para ampliar as zonas de plantações e a instalação de fábricas de pasta de celulose em grande escala.

O documento propõe, como alternativa para um desenvolvimento sustentável da indústria numa região na qual avançam os investimentos estrangeiros, um Plano de Produção Limpa, com um conjunto de critérios para que os países incluam limites à escala produtiva, certificação para as plantações florestais e sistemas de produção livre de cloro e poluente.

O relatório do Greenpeace segue a linha do documento europeu “Uma visão comum para transformar a indústria européia do papel”, acordado na reunião do Movimento Florestal Europeu (FME,) em 2 de outubro de 2005.

O documento, assinado por 48 organizações, estabelece: “queremos ver uma Europa que reduza radicalmente seu consumo de papel, que este seja fabricado por uma indústria que dependa menos da fibra virgem de árvores, maximize o uso dos materiais reciclados, respeite os direitos territoriais da população local, ofereça emprego e tenha impactos sociais que sejam benéficos, sem conflitos e que sejam justos”.

“Queremos que todo o papel da Europa seja fabricado com fibras de fontes responsáveis e sustentáveis, utilizando energia completamente renovável, com água também limpa antes e depois da produção do papel e que não produza nenhum refugo nem emissão”, acrescenta o texto.

É preciso reduzir o Consumo de Papel

“Existe um consumo desmedido de papel. Os exemplos abundam. Há uma quantidade impressionante de artigos descartáveis de papel e papelão como copos, pratos, bandejas, guardanapos e até toalhas de mesa que estão substituindo –em nível massivo– seus similares permanentes”.

Observa-se essa realidade, por exemplo, quando uma pessoa adquire um par de sapatos. Este vem envolvido em papel, dentro de uma caixa de papelão e é entregue ao comprador numa bolsa de papel. Ou na publicidade por correspondência não solicitada que cada manhã invade as casas “Definitivamente, toda pessoa é forçada a consumir uma dose diária de papel e papelão que nunca pediu nem quis consumir”.

“O tema ultrapassa então a responsabilidade do consumidor individual e se encaixa no plano mais amplo da sociedade de consumo. Portanto, não se resolve simplesmente culpabilizando o indivíduo, senão que se trata de um tema que deve ser resolvido no plano da sociedade em seu conjunto”.

Nesse plano, “as sociedades do Norte devem compreender que seu estilo de vida-no qual o consumo ocupa um lugar exagerado – está afetando as possibilidades de sobrevivência de pessoas com seus mesmos direitos, em outras partes do mundo. Ao mesmo tempo, devem entender que esse consumo desmedido está levando o planeta ao desastre ambiental, o que já se torna evidente na mudança climática, no esgotamento e contaminação da água e na perda da biodiversidade, entre outros”.

Quanto a nós, pobres do Maranhão, ávidos por emprego e renda, devemos colocar as barbas de molho e não nos deixarmos levar assim tão lânguidos pelo “canto da sereia”.

Diz o adágio que “quando a esmola é grande o cego desconfia”. Devemos desde já questionar tantas “facilidades”, colocar na pauta a discussão dos impactos e o que deve ser feito para evitá-los ou reduzi-los. A Folha da Chapada das Mesas abre o debate.

Artigo do jornalista Josué Almeida Moura publicado na Folha da Chapada das Mesas e no Blog do Josué Moura.

Colaboração de Mayron Régis, Fórum Carajás, para o EcoDebate, 30/01/2010

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