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Pesquisa de enfermeira da USP constata que futuras mães se submetem ao parto inseguras

Pesquisa de enfermeira da USP constata que futuras mães se submetem ao parto inseguras
Infográfico do Correio Braziliense. Para acessar o infográfico no tamanho original clique aqui.

O resultado positivo no exame de sangue é motivo de comemoração, mas também de muitas dúvidas para as mulheres. Mães de primeira viagem e até mesmo as que já passaram por uma gestação costumam se sentir inseguras, e nem sempre o médico tem tempo para esclarecer os questionamentos sobre todas as etapas da gravidez. O que já era uma desconfiança virou certeza para a enfermeira obstetra Luciana Magnoni Reberte, da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP). A partir de uma pesquisa patrocinada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ela constatou que, da fase pré-natal ao puerpério, as mulheres recebem pouca orientação sobre as mudanças que vão acontecer na vida delas.

As dúvidas das gestantes estimularam a enfermeira a escrever uma cartilha, vencedora da oitava edição do Prêmio de Incentivo em Ciência e Tecnologia para o Sistema Único de Saúde, promovido pelo Ministério da Saúde. Disponível gratuitamente pela internet, a publicação tem como objetivo desmistificar as principais dúvidas acerca da gravidez e, assim, garantir um parto seguro para a gestante. Reportagem de Paloma Oliveto, no Correio Braziliense.

A cartilha foi elaborada com a ajuda das próprias grávidas. Luciana montou um grupo formado por oito gestantes e quatro futuros pais no Hospital Universitário da USP. “No começo, a proposta era fazer um trabalho sobre os desconfortos corporais e emocionais, mas abrindo espaço para saber quais as dúvidas mais comuns”, conta. Em nove sessões, surgiram diversos questionamentos: desde perguntas sobre alimentação a preocupações com a saúde do bebê. Depois de fazer uma pesquisa em São Paulo, a enfermeira obstetra constatou que não havia nenhuma publicação gratuita totalmente voltada para o esclarecimento de questões práticas. Na segunda fase da pesquisa, ela construiu o texto, que foi aprovado por profissionais da área da saúde e por um grupo de outras nove gestantes.

“Muitas vezes, vi que as mulheres chegavam até mesmo à fase da amamentação sem ter tido nenhuma informação prévia sobre isso. Nem todas as gestantes têm acesso a informações e possuem alta escolaridade. Mas mesmo as que têm costumam ficar cheias de dúvidas”, diz Luciana. Ela afirma que, no geral, as consultas com o obstetra são muito rápidas, e o profissional tende a se concentrar em aspectos mais técnicos, como auferir a pressão da grávida, verificar o colo uterino e auscultar o coração do bebê. “A gestante acaba não tendo abertura para fazer perguntas e, às vezes, o médico acha que ela já sabe tudo”, conta.

A cartilha de Luciana é a prova de que os profissionais muitas vezes desconhecem o grau de informação de seus pacientes. As mulheres que participaram da pesquisa não sabiam, por exemplo, se o pai poderia acompanhar o parto. Outra dúvida foi com relação ao corpo. Uma das gestantes queria saber se a barriga nunca mais voltaria ao normal e também perguntou em quanto tempo poderia voltar a praticar exercícios físicos. A amamentação foi mais um motivo de questionamento: “Se a mãe não amamentar na hora porque está trabalhando, o bebê ainda vai aceitar mamar no peito?”, perguntou uma grávida.

Ansiedade
Há dois anos, a enfermeira Luana Fernandes Souza Belfort coordena os cursos para gestantes oferecidos gratuitamente pelo Hospital Brasília. Por três dias, mães e pais participam de aulas que vão do pré-natal aos primeiros cuidados com o bebê. As grávidas e os parceiros têm palestras sobre psicologia, enfermagem, pediatria, obstetrícia e anestesiologia. Luana conta que todas chegam muito ansiosas, com dúvidas, principalmente, sobre a saúde da criança. “Os pais, agora, também querem saber de tudo, perguntam bastante e querem ajudar”, diz.

De acordo com Luana, para os pais, tudo é novidade; por isso, surgem diversas perguntas. Uma gestante já chegou a questionar se poderia tomar banho de piscina, pois tinha medo de a água fazer mal ao bebê. “Mesmo as que estão na segunda gestação têm muitas dúvidas. É difícil encontrar uma mulher que esteja bem tranquila”, afirma. Mãe de Rafael, recém-nascido, a própria enfermeira, de 27 anos, se tornou ouvinte durante a gravidez. Ao lado de outras mães, ela fez o curso como participante. “Foi bem legal, é uma outra visão. Eu também tinha preocupação com o trabalho de parto prematuro e de o meu filho precisar ir para a UTI (Unidade de Tratamento Intensivo)”, conta. “Eu ficava ansiosa porque tinha muita cobrança. As pessoas achavam que eu não podia ter nenhuma dúvida, mas a gente sabe que a teoria é bem diferente da prática”, admite.

Para a psicóloga Fátima Franco, coordenadora da Clínica Florescer, que oferece cursos para gestantes, a falta de esclarecimento pode comprometer a saúde da mulher e do bebê. “Com o medo e a ansiedade, a pressão sobe, a glicose desregula e há ameaça de parto prematuro”, conta. “Todas essas questões são psicossomáticas”, afirma Fátima, que há 27 anos presta orientação a gestantes e, como doula — acompanhante de partos — , já acompanhou de perto 657 procedimentos.

Segundo ela, o primeiro e o último trimestre são os que mais trazem dúvidas e medos às mulheres. “Nos três primeiros meses, abordamos o medo do desconhecido. As grávidas têm receio de contar para as amigas e sofrerem um aborto espontâneo. Também é preciso falar sobre as mudanças, como o ganho de peso e a falta de desejo sexual”, diz. Já quando o parto se aproxima, elas temem a dor e pela saúde do bebê. “Preparação com exercícios, massagens e respiração correta levam a grávida a ter maior consciência do processo do parto. Dessa forma, o parto fica mais rápido e menos doloroso”, diz. Para Fátima, é fundamental que as gestantes tenham acesso a uma cartilha, na qual possam tirar suas dúvidas.

A enfermeira obstetra Luciana Magnoni Reberte gostaria de ver a sua cartilha sendo distribuída pelo Sistema Único de Saúde. Apesar de o trabalho ter vencido um prêmio do SUS, o ministério ainda não se manifestou sobre a publicação do livro em grande escala. “Tem ocorrido uma procura voluntária, de enfermeiros ou empresários que querem doar para os seus clientes. Mas meu interesse principal é o de socializar a informação”, diz Luciana.

Leia a cartilha Celebrando a Vida, de Luciana Reberte

EcoDebate, 27/01/2010

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