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Depois de Haiti e Sichuan, onde será a próxima tragédia?

Haiti, Sichuan, amanhã…

Como poderíamos, aqui e agora, não pensar no Haiti? E não buscar, para além da comoção, o sentido que um acontecimento como esse traz, e que permite um preparo para o futuro? Mas, saturada de emoção, a tragédia ainda foge da discussão. “Analisar enquanto todas essas pessoas sofrem! Não tem vergonha?” Não. Analisemos, para não permanecermos em silêncio, alheios a este sofrimento.

Poderíamos lembrar que, na sociedade do espetáculo, a própria comoção é um espetáculo, que a organização da caridade e da “mobilização” forma uma terna imagem de união na “solidariedade”, que remete à unanimidade no sofrimento das vítimas. “Nós, bons ricos ocidentais, temos um bom coração e ajudamos os pobres infelizes do Haiti, vítimas da fatalidade”. A sequência lógica seria retomar a história das relações da França e dos Estados Unidos com o Haiti, para identificar as responsabilidades pela fragilidade desse Estado. Mas essa abordagem, legítima, é seca demais para realmente ressoar com a tragédia de Porto Príncipe. Reportagem de Hervé Kempf, no Le Monde.

Sigamos duas outras linhas de questionamento, no passado próximo, e depois em um futuro indeterminado. O passado próximo é o terrível terremoto que atingiu Sichuan, no sudoeste da China, em 12 de maio de 2008: 90 mil mortos, 400 mil feridos, 370 mil prédios destruídos. Um drama tão grande quanto o do Haiti. Mas uma dramaturgia totalmente diferente: uma comoção mundial bem menor, e uma reação rápida e bastante eficaz do governo de Pequim. E, como observa Laurent Hou, doutorando da Universidade Paris IV (Sorbonne), que apresentou suas pesquisas sobre a catástrofe durante o seminário “História ambiental do comunismo e do pós-comunismo” em 15 de janeiro em Paris, uma verdadeira responsabilidade pela reconstrução nos meses que se seguiram.

Ainda que nem todas as feridas tenham se cicatrizado, a economia voltou a crescer, fortemente sustentada por Pequim: um quarto do plano de retomada de 2009 foi dedicado a Sichuan!

Daí a questão: os ocidentais, cujos aviões cargueiros levam suas bandeiras até o aeroporto de Porto Príncipe, estarão lá dentro de um ano para realmente auxiliarem na reconstrução do Haiti, e na sua condução sobre um caminho para sair da miséria que dependeria, prioritariamente, da agricultura e do reflorestamento?

Segunda linha: o que aconteceria em um mundo tão desigual quanto o de hoje, e onde as catástrofes ligadas à mudança climática se multiplicariam? Um mundo desigual, no qual países muito frágeis, como o Haiti, seriam atingidos repetidamente por inundações, secas e outros ciclones? Poderíamos suportar “auxílios de emergência” cada vez mais frequentes e as desordens geopolíticas que isso causaria? Não seria melhor, a partir de hoje, prevenir a catástrofe global em vez de esperar para ter de aliviar os efeitos? Para que o sofrimento do Haiti não tenha sido em vão…

Tradução: Lana Lim

Reportagem [Haïti, Sichuan, demain…] do Le Monde, no UOL Notícias.

EcoDebate, 22/01/2010

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