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COP 15: Cúpula do Clima de Copenhague pode ser a última oportunidade para salvar o clima

COP 15

O desafio da Cúpula do Clima de Copenhague é descomunal: conseguir uma nova forma de usar a energia para estabilizar o clima do planeta, substituir o petróleo por energias renováveis, salvar as florestas tropicais… Mais de dois séculos depois, o mundo busca uma nova revolução industrial. Por isso, 100 chefes de Estado e de governo – o presidente dos EUA, o primeiro-ministro chinês, o da Índia, os 27 da União Europeia – acorrerão à capital dinamarquesa para as complexas negociações do clima que começaram nesta segunda-feira e que se prolongarão até o último segundo do próximo dia 18.

A reportagem é de Rafael Méndez, publicada no jornal El País, 07-12-2009. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

O otimismo se instalou em Copenhague depois que Obama anunciou que chegará nos últimos dias para fechar um acordo. Como resumiu ontem o secretário das Nações Unidas para as mudanças climáticas, Yvo de Boer: “Os chefes de Estado vêm para celebrar êxitos, não para firmar fracassos”.

“Nunca nos 17 anos das negociações do clima, os países haviam feito tantos anúncios”, declarou De Boer na apresentação da cúpula. Nas últimas semanas, os EUA se comprometeram a reduzir suas emissões de gases do efeito estufa em cerca de 17% até 2020 com relação a 2005. A China anunciou que irá frear o aumento de suas emissões e que, dentro de 10 anos, para cada ponto do PIB, irá emitir 40%, e que, em 2050, um terço de sua energia será renovável. Algo parecido foi anunciado pela Índia.

A UE, que já estava comprometida a reduzir suas emissões em 20% com relação a 1990, avalia agora ir a 30%. Japão, Austrália, Brasil, México, todo o mundo chega a Copenhague com compromissos, com deveres quase feitos. Por sua vez, todos admitem que não haverá um tratado vinculante que substitua o de Kyoto, algo que se deixa para a metade de 2010 ou para o próximo novembro, no México.

A presença de todos os chefes de Estado (sem precedentes para um assunto ambiental desde a Cúpula do Rio, em 1992) augura que haverá um acordo político com conteúdo. Os presidentes são os únicos que podem tomar decisões tão complexas. São os que não têm que levantar o telefone para pedir autorização. A ONU considera que Copenhague será “um ponto de inflexão na luta para prevenir o desastre climático”.

A expectativa é tão alta que a ONU suspendeu o cadastramento de jornalistas ao chegar a cinco mil. Isso, somado aos 20 mil delegados e observadores (ONGs, ecologistas, sindicatos…) e as comitivas dos principais líderes mundiais, porá à prova uma cidade pouco acostumada a sobressaltos. Em outubro, quando Obama, Lula e Zapatero chegaram a Copenhague para duelar pelos Jogos Olímpicos de 2016, Copenhague se viu paralisada. Neste domingo, a organização deu as primeiras mostras de estar transbordando.

“A redução de emissões anunciadas pelos países em desenvolvimento se situa entre 17% e 20%”, explica a secretária de Estado de Mudanças Climáticas, Teresa Ribera. Aproxima-se do mínimo de 25% que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) pede para eles. As grandes potências emergentes, postas como exemplos pelos ecologistas e pela Agência Internacional de Energia, também estão na categoria que o IPCC pede para eles, mesmo que seus números não estejam tão claros.

As questões se centram agora no financiamento e na transparência. Os países em desenvolvimento exigem quantidades ingentes de dinheiro para se adaptar às mudanças climáticas – e muitos deles, como os EUA, ainda não disseram quanto estão dispostos a pôr. Por sua parte, os países ricos pedem que a ONU possa auditar as emissões da China, da Índia, do Brasil ou da África do Sul. No entanto, na sexta-feira passada, os quatro anunciaram conjuntamente que não permitirão que isso ocorra. A China, especialmente, considera isso como uma intromissão em sua soberania (por meio das emissões de CO2 pode-se inferir a política econômica de um país).

Os negociadores de Obama e da UE declararam que esse ponto é chave e que, sem transparência, não haverá financiamento. Os EUA – com Clinton, Bush e Obama – sempre condicionaram seu apoio à luta internacional contra as mudanças climáticas ao fato de Pequim estar nela. Obama só mudou sua agenda quando a China anunciou que aceitava limitar suas emissões.

Mesmo que o momento político é propício, o social nem tanto. Desde 2007, não se batem recordes de degelo, e os últimos anos não foram tão quentes. O escândalo do Climagate – os e-mails pirateados nos quais um grupo de cientistas aparentemente manipulam os dados para exagerar o aquecimento – fez o resto em favor dos céticos. Uma pesquisa da empresa Nielsen e da Universidade de Oxford afirma que 37% dos 27 mil internautas de 54 países questionados se mostraram “muito preocupados” com o aquecimento. Há dois anos, o número era de 41%. Nos EUA, o número de cidadãos conscientizados baixou ainda mais. Em outubro, antes do Climagate, 57% dos norte-americanos acreditavam que “o planeta está esquentando”, com 71% em abril de 2008, segundo uma pesquisa do Pew Center.

Os cientistas veem com preocupação o fato de a opinião pública acreditar ou não nas mudanças climáticas em função de um dado concreto e insistem que o aquecimento é uma tendência, que cada onda de calor não pode ser atribuída ao CO2, nem que um ano frio signifique que suas previsões estejam falhando.

Jens Hesselbjerg Christensen, do instituto meteorológico dinamarquês e um dos autores do IPCC, resume em um e-mail: “Aí temos um problema! O degelo do Ártico foi muito publicitado por alguns cientistas. Muitos indícios sugerem que a extrema redução recente se deve a mudanças na circulação oceânica e atmosférica. É possível que essa tendência se reverta nos próximos anos. Isso não é contraditório com o fato de que o planeta está se esquentando e que o aumento tenha sido maior no Ártico”.

(Ecodebate, 09/12/2009) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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