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Notícia

Intoxicações: prevenção começa em casa

veneno

A carioca Márcia Maria Cabral, 53 anos, resolveu tratar da saúde de seu cachorro (que estava cheio de carrapatos) com um produto agrotóxico próprio para esse fim. Sem olhar devidamente as instruções, ela excedeu a quantidade do produto e utilizou as mãos para espalhá-lo no animal. Pouco tempo depois, a dona de casa sentiu a garganta dolorida e imaginou que poderia se tratar de uma inflamação. Sem consultar um médico, tomou um antiinflamatório, que aliviou o incômodo.

Como os carrapatos persistiam, ela fez uma segunda aplicação do veneno no cachorro. Dessa vez, os sintomas voltaram mais fortes, incluindo a dor de garganta e uma vermelhidão no nariz. Somente diante desse quadro, a dona de casa resolveu procurar o médico. “Agora aprendi a lição, vou ler todas as vezes os rótulos dos produtos”, garante a dona de casa.

Márcia está entre as milhares de pessoas que se intoxicam diariamente pela falta de conhecimento e má manipulação de produtos tóxicos. O uso indiscriminado de agrotóxicos aparece como um problema considerável no Brasil.

O número de mortes por intoxicação cresceu 18%, em 2005, em relação ao ano anterior. Foram 477 óbitos do total de 84.456 casos de intoxicação humana registrados. A estatística foi divulgada, no último mês de setembro, pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox).

De acordo com o sistema, o uso inadequado de agrotóxicos provocou, em 2005, 159 mortes das 477 registradas pelo Sinitox. Em segundo lugar, estão os medicamentos, com 84 casos fatais. Os demais óbitos ocorreram em decorrência do uso inadequado de raticidas, acidentes com animais peçonhentos e outros agentes tóxicos.

O Sinitox, vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), utilizou dados repassados por 82,4% das unidades de registro de informações que compõem a Rede Nacional de Centros de Informação e Assistência Toxicológica (Renaciat). A rede, que reúne 37 centros do país, é coordenada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As estatísticas são anuais. Os dados de 2006 deverão ser apresentados no próximo ano.

(Carolina Rangel, Ascom/Assessoria de Imprensa da Anvisa)

Intoxicações

Já 28% das mais de 84 mil intoxicações tiveram como principal responsável os animais peçonhentos, como o escorpião. Em segundo lugar, com 26%, ficaram as intoxicações por medicamentos. Por fim, foram identificadas 8% por saneantes (que são substâncias ou preparações para higienização, desinfecção ou desinfestação domiciliar) e 7% por agrotóxicos de uso agrícola. O Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas classifica

as intoxicações em três categorias: acidental (que inclui os tipos de acidentes individual, coletivo e ambiental); ocupacional (no ambiente do trabalho) e intencional (uso do produto a fim de gerar algum efeito nocivo).

Para as crianças menores de cinco anos, os medicamentos apareceram como o líder entre os agentes tóxicos mais perigosos. Os números indicam mais de 6,5 mil acidentes com esses produtos em 2005. De acordo a coordenadora do Sinitox, Rosany Bochner, o colorido das embalagens e o cheiro adocicado dos produtos influenciam para esse tipo de intoxicação acidental. “Medidas simples como a implantação obrigatória de embalagens de segurança contribuem para reduzir os acidentes com crianças”, afirma.

Para o diretor-presidente da Anvisa, Dirceu Raposo de Mello, o registro de informações toxicológicas feitos pelo Sinitox – além de mostrar uma importante realidade em saúde – fornece subsídios para o constante aprimoramento de ações que estimulem ao uso racional (adequado) de medicamentos e outros produtos. “Comprar apenas a quantidade de medicamentos necessária para o tratamento do problema de saúde e não armazenar sobras são medidas simples que podem evitar riscos à saúde”, observa Raposo.

Neste sentido, a Anvisa, juntamente com o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), realiza o II Congresso Brasileiro sobre o Uso Racional de Medicamentos para discutir, entre os dias 15 e 18 deste mês, a incorporação do uso racional de medicamentos nas práticas de saúde. O encontro deve contar com 1,5 mil participantes, entre docentes, pesquisadores, profissionais de saúde e estudantes.

O Sinitox e a Anvisa recomendam o descarte de restos de medicamentos vencidos nos vasos sanitários ou na pia, sem as embalagens. Os medicamentos ainda dentro do prazo de validade, mas que não serão mais usados pelo paciente, podem ser devidamente doados a instituições filantrópicas (embalados e contendo a bula).

Prevenção

A Anvisa disponibiliza a cartilha “Orientações para os consumidores de saneantes” com o objetivo de favorecer o uso seguro destes produtos e evitar intoxicações com clandestinos. Dentre as informações estão:

– Não comprar saneantes sem o registro da Anvisa e sem informações sobre a composição nos rótulos, o que pode dificultar o tratamento de intoxicações;

– Não guardar produtos tóxicos em embalagens de refrigerantes ou similares, pois isso pode induzir crianças à confusão e conseqüente consumo;

– Guardar os saneantes longe de bebidas, alimentos, medicamentos e cosméticos. Inutilizar as embalagens vazias, pois elas sempre ficam com algum resíduo. Manter os produtos fora do alcance de crianças e animais, de preferência em locais altos, de difícil acesso; e

– Não usar utensílios domésticos como medida para dosagem de saneantes.

As atitudes citadas podem diminuir o risco de intoxicação dentro de casa e no trabalho. Assim, a Agência também atua em diversas áreas como medicamentos, insumos farmacêuticos, produtos para a saúde (aparelhos, materiais ou acessórios relacionados à defesa e proteção da saúde ou a diagnósticos e análises) e agrotóxicos, sobre os quais a Agência faz constantemente avaliações toxicológicas.

Essa é uma das ações de segurança para reduzir o impacto negativo que os agrotóxicos possam ocasionar à saúde da população e ao meio ambiente. Além disso, a Anvisa orienta, regulamenta e fiscaliza a adoção de medidas de proteção necessárias.

Projetos de Anvisa
Rede Sentinela

O Projeto Hospitais Sentinela, criado em 2002, foi a primeira estratégia adotada pela Anvisa para obter informações sobre o desempenho e segurança de produtos de saúde, ao mesmo tempo em que estimula ao uso racional (adequado) de medicamentos e tecnologias em saúde. A Rede Nacional de Hospitais Sentinela é composta, atualmente, por 104 hospitais sentinelas e 89 colaboradores, com destaque para unidades de saúde públicas e de ensino. Esses hospitais

são sensibilizados para a notificação de eventos adversos e queixas técnicas relacionados a produtos para a saúde. São também capacitados para o gerenciamento de tecnologias e controle de riscos.

Farmácias Notificadoras

As farmácias notificadoras são aquelas capacitadas para comunicar às autoridades sanitárias as reclamações dos consumidores sobre reações adversas e queixas técnicas relacionadas a medicamentos. Os estabelecimentos que preencherem os requisitos exigidos recebem um selo ou certificado de habilitação. O selo indica que aquela farmácia faz parte da rede. Atualmente, 13 estados (MT, TO, CE, PI, BA, DF, GO, MG, MS, SP, PR, PA, SC) já participam do programa da Anvisa.

Educação Sanitária

O projeto “Educação e Promoção da Saúde no contexto escolar: o contributo da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para o uso racional de Medicamentos” está capacitando professores das séries iniciais do ensino fundamental como multiplicadores do assunto. Para isso, a Agência desenvolve ações de capacitação e incentiva a realização de atividades sobre o uso racional de medicamentos dentro da sala de aula. O projeto já qualificou professores de quatro regiões brasileiras e termina o cronograma de capacitação pelo estado de São Paulo, nos próximos dias 10 e 11 de outubro.

Fiscalização de Propaganda

A Anvisa está na terceira fase do Projeto de Monitoração de Propaganda de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária. O projeto é uma parceria da Anvisa com instituições de ensino superior (IES) de todas as regiões do país. Até dezembro deste ano, essas instituições ficarão responsáveis pela monitoração das propagandas de medicamentos, alimentos e produtos para saúde feitas por 250 diferentes veículos de comunicação.

Controle sanitário

Produtos controlados

As farmácias e drogarias deverão informar, semanalmente, por meio eletrônico, a comercialização e o consumo de produtos controlados, como os anorexígenos (medicamentos usados para emagrecimento). O objetivo do Sistema Nacional de Gerenciamento de Produtos Controlados (SNGPC) é atualizar e monitorar a movimentação desses produtos no Brasil.

A partir do próximo dia 2 de novembro, o sistema já estará habilitado nas farmácias e drogarias das Regiões Sul e Sudeste e do Distrito Federal, além de todas as farmácias de manipulação do país. Na Região Nordeste, o uso obrigatório do sistema começa em 2 de fevereiro de 2008. Nas Regiões Norte e Centro-Oeste, até 2 de maio. O SNGPC é uma parceria da Anvisa com a Secretaria Nacional Antidrogas (Senad) da Presidência da República.

Resíduos de agrotóxicos

O Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) é outra importante iniciativa da Anvisa para garantir a segurança dos produtos. O objetivo do PARA é monitorar, com a colaboração das vigilâncias sanitárias locais, a qualidade e a segurança dos alimentos consumidos pela população como também caracterizar as fontes de contaminação. O programa busca, ainda, realizar avaliações sobre o uso inadequado de agrotóxicos.

Na área de Toxicologia dentro do site da Agência, é possível obter informações médicas de urgência para casos de intoxicação.

::: Disque-Intoxicação
Para prestar informações de urgência, a Anvisa criou o Disque-Intoxicação: 0800-722-6001. A ligação é gratuita e o usuário é atendido por uma das 36 unidades da Renaciat. Este telefone é informado em rótulos e bulas dos produtos regulados pela Agência e em avisos indicativos em hospitais, laboratórios e clínicas.

A Ouvidoria da Anvisa e as Vigilâncias Sanitárias estaduais e municipais também podem ser acionadas em casos de denúncias sobre problemas nos rótulos ou venda de produtos irregulares.

* Informações da Anvisa, publicadas pelo EcoDebate, 28/10/2009

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