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Estudos nos EUA revelam que enfartes crescem entre as mulheres

Estudos nos EUA revelam que enfartes crescem entre as mulheres
Infográfico do Correio Braziliense. Para acessar o infográfico no tamanho original clique aqui.

Dois estudos inéditos publicados nos EUA revelam que ocorrência de ataques cardíacos subiu 0,7% entre elas e caiu 0,3% entre os homens. Chances de sobrevivência, contudo, são maiores

Geralmente associado a pessoas do sexo masculino, o número de enfartes aumentou entre as mulheres nas duas últimas décadas. Porém, ao mesmo tempo, elas têm mais chances de sobreviver após a ocorrência da lesão no músculo cardíaco, em comparação com os homens (leia abaixo). As conclusões são de dois estudos inéditos que começam a circular hoje no Archives of Internal Medicine, da Associação Médica Norte-Americana. Os trabalhos analisaram o risco e as taxas de mortalidade decorrentes de problemas coronarianos, levando em conta a idade e o sexo. Reportagem de Paloma Oliveto, no Correio Braziliense.

Autora principal do estudo Tendências de riscos e prevalência de doenças coronárias na meia idade entre cada sexo, a neurologista e professora da University of Southern California Amystis Towfighi conta que os enfartes do miocárdio aumentaram entre as mulheres de meia idade, enquanto, entre os homens, a taxa vem caindo. “Historicamente, mulheres nessa faixa etária apresentam baixos riscos de desenvolverem problemas vasculares, comparado a homens da mesma idade. Recentemente, porém, uma pesquisa nacional mostrou que, em mulheres de 45 a 54 anos, a prevalência de ataques cardíacos corresponde ao dobro da verificada entre os homens”, diz.

O estudo da neurologista também avaliou os riscos futuros de desenvolvimento de doenças do coração. Para isso, ela estudou os casos de adultos entre 35 a 54 anos que participaram da National Health and Nutrition Examination Surveys, uma pesquisa sobre saúde e nutrição feita periodicamente nos Estados Unidos, que analisa dados de brancos, negros, hispânicos, jovens e idosos e calcula a prevalência de males entre cada grupo. Ela comparou estatísticas de 1988 a 1994 e de 1999 a 2004 para verificar se, durante esse tempo, houve mudança nas tendências de problemas coronários. O resultado foi que a ocorrência de enfartes entre as mulheres aumentou de 0,7% para 1%, enquanto, entre os homens, houve um declínio de 0,3%.

A médica observa que as diferenças não foram muito significativas. Porém, elas se tornam mais evidentes quando comparados indivíduos que não sofreram enfartes, mas são candidatos a desenvolverem problemas cardíacos de acordo com o Escore de Risco Coronário de Framingham (FRCS, sigla em inglês), uma metodologia que permite prever se uma pessoa poderá sofrer de males coronários no prazo de 10 anos. Com a idade, em ambos os sexos, a média de FRCS aumentou. Mas a análise por faixas etárias específicas revelou que, enquanto em homens o risco permaneceu estável nos dois períodos estudados, entre mulheres da mesma idade, ele aumentou 20% ou mais.

Mais riscos
De acordo com o cardiologista Renault Ribeiro Jr., da clínica Cardiovita e do Hospital Santa Lucia, o aumento da incidência de doenças coronarianas entre mulheres não é um fenômeno exclusivo dos Estados Unidos, mas vem ocorrendo em todo o mundo. Ele explica que resultados como os da pesquisa de Amystis Towfighi são reflexo da mudança de comportamento feminino. “As mulheres estão mais expostas a fatores de risco, como fumo, colesterol alto, estresse, sobrepeso, diabetes e hipertensão. Isso se acentua com a menopausa, quando elas perdem os hormônios de proteção e ficam mais vulneráveis”, diz. Segundo Renault, o desafio dos médicos é identificar as pessoas com riscos intermediários que, por não apresentarem problemas muito graves, podem deixar de receber o tratamento adequado.

Os fatores de risco que integram o Escore de Framingham foram analisados pela neurologista Amystis Towfighi. Ela constatou que, entre os homens, o nível de colesterol manteve-se estável no período analisado, a pressão aumentou e o fumo diminuiu. Houve também um grande aumento da prevalência de diabetes mellitus, caracterizada pelo aumento anormal da glicose no sangue. Entre as mulheres, a pressão arterial, a taxa de colesterol e o fumo permaneceram estáveis, mas houve aumento de obesidade e de diabetes.

Towfighi acredita que a melhoria no estado de saúde dos homens pode ser reflexo das campanhas educativas que se intensificaram nos últimos anos. Ela defende que o mesmo seja feito em relação às mulheres. “No passado, mulheres com fatores de risco cardiovasculares não eram diagnosticadas nem tratadas. Por exemplo, estudos já mostraram que os homens têm o nível de colesterol mais medido que as mulheres, que também tendem a controlar menos a hipertensão. Algumas razões para essas disparidades entre os sexos podem incluir fatores relacionados aos pacientes, ao sistema de saúde e aos médicos”, diz a médica. “É preciso dar mais atenção à prevenção dos fatores de risco nas mulheres de meia idade. Em particular, são necessários esforços para reduzir o crescimento da obesidade e da diabetes”, acredita.

Homens têm mais riscos de morte

Se as mulheres estão se tornando mais vulneráveis a enfartes, elas correm menos riscos do que os homens depois de sofrerem o ataque. A cardiologista Viola Vaccarino, da Emory University School of Medicine, em Atlanta, coletou dados de 916.380 pacientes do Registro Nacional de Enfarte do Miocárdio, num período de 12 anos, entre 1994 e 2006. As taxas de mortalidade decorrentes do enfarte diminuíram entre homens e mulheres ao longo do tempo analisado, mas o decréscimo foi mais significativo entre pessoas do sexo feminino.

As mulheres com menos de 55 anos foram as que apresentaram maiores reduções no risco de morte: 52,9%. Já entre os homens da mesma faixa etária, a queda foi bem menor, de 33,3%. Dos quase 1 milhão de pacientes analisados, 10% das mulheres e 25% dos homens tinham menos de 65 anos. Independentemente da idade, as pessoas do sexo feminino tinham um histórico maior de hipertensão, mas os fatores de risco não apresentaram diferenças significativas.

“O resultado pode ser atribuído ao melhor diagnóstico e tratamento de doenças coronarianas e seus fatores de risco, antes do enfarte agudo do miocárdio ocorrer”, sugere Viola Vaccarino. Ela admite, entretanto, que as causas do decréscimo maior da mortalidade entre mulheres não estão completamente esclarecidas. O cardiologista Renault Ribeiro Jr., da clínica Cardiovita e do Hospital Santa Lucia, lembra que, além de um melhor preparo dos profissionais de saúde, os avanços tecnológicos possibilitam diagnósticos mais precisos e tratamentos avançados, o que beneficia todos os pacientes. Ele também ressalta, contudo, que as mulheres costumam procurar mais o médico do que os homens. (PO)

O número
916 mil: Número de pacientes do Registro Nacional de Enfarte do Miocárdio dos EUA analisados no estudo

EcoDebate, 28/10/2009

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