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Artigo

Engenharia do Clima: Experiências físicas na natureza, artigo de Carol Salsa

Antídoto ou veneno ? A resposta pode estar na dose.

Ilustração de como seriam os navios 'produtores de nuvens'. Imagem de John MacNeill
Ilustração de como seriam os navios ‘produtores de nuvens’. Imagem de John MacNeill

Na perspectiva da criação de um mercado mundial de direitos de emissão de gases com efeito estufa, surgiu, nos últimos anos, uma ciência bastante controvertida, a Engenharia do Clima com técnicas como o armazenamento de gás carbônico, entre outros ”.

[Ecodebate] Diante de tantos perigos e ameaças climáticas que pairam no ar, buscamos um bálsamo nas respostas que os cientistas nos trazem. Segundo Larry Lohmann, da WRM Campaign Material, as mudanças no clima da Terra, por menores que sejam, têm sido sempre muito significativas para as sociedades humanas. Quando, no ano 535 d.C. uma erupção vulcânica fez com que o clima se tornasse levemente mais fresco e seco, produziram-se migrações, fome, pragas, mudanças na agricultura e, possivelmente, o colapso de uma civilização nativa de alguns continentes . Quinhentos anos depois, tendo o clima se tornado mais temperado, os vikings puderam estabelecer colônias na Groenlândia. Quando o clima se tornou novamente mais frio, ferozes tempestades acabaram com muitos povoados e aldeias nas proximidades do Mar do Norte.

A “habilidade” do planeta em permitir maior ou menor existência de seres vivos no Planeta vai depender dos níveis de dióxido de carbono presentes na atmosfera. Sem a presença do CO2, a temperatura cairia para -6º, segundo Larry. Com o aumento cada vez maior de dióxido de carbono , a água dos oceanos se aquecerá, provocando danos irreversíveis. A conservação do nível aceitável de CO2 dentro dos padrões normais implica na adoção de mecanismos de controle e balanceamentos nos sistemas terrestres, aéreos e marítimos.

Semear soluções ou ilusões são possibilidades que os cientistas têm tido livre trânsito para testar formas de reduzir a degradação ambiental. Embora os danos já estejam sendo tratados para uma melhoria no índice de sustentabilidade, muitas pesquisas precisam de robustos investimentos em ciência e tecnologia, e muitas comprovações de sucesso para lançar um nova tecnologia.

Os ecossistemas atendem à demanda do homem na biosfera, no entanto, obedecem a certos limites. Uma característica chamada resiliência pode tornar um ambiente inabitável. No estágio inicial, o ecossistema tem a habilidade natural, intrínseca, de voltar à situação original após um evento em que seu equilíbrio foi modificado ou perturbado. Se a freqüência de ocorrência desse acontecimento for muito grande, o ecossistema entra em colapso e atinge o break point. A partir daí, as perdas são irreparáveis.

Diante de um quadro nefasto como o que tem sido divulgado na mídia, alguns cientistas propõem soluções radicais para o problema que aflige a humanidade: as tragédias ambientais. Todas as soluções são extremamente caras, mas, existem. Os estudiosos vêm tentando tornar seus inventos em algo accessível à utilização pelo homem. Neste aspecto, há uma revolução nas ciências consideradas do futuro: a bioengenharia, geoengenharia, engenharia do clima, biotecnologia, nanotecnologia, entre outras. Uma série de perguntas e respostas a seguir, estimulam as mentes humanas a uma solução do ponto de vista ambiental para a continuidade da vida na Terra.

Experiências realizadas ou a realizar suscitam perguntas.

1-Devemos colocar refletores de calor em órbita?

Patrocinado pela Nasa, o astrônomo Roger Angel concebeu o projeto de colocar no espaço trilhões de pequenos discos espelhados de 60 centímetros de diâmetro cada um, para desviar parte dos raios solares que atingem a Terra. Os discos, equipados com painéis solares, seriam transportados por 20 milhões de pequenas espaçonaves. As naves seriam lançadas de pontos elevados da Terra e levariam 1 milhão de discos em cada nuvem de 100.000 quilômetros de extensão e permaneceriam em órbita no ponto conhecido pelos astrônomos como L1, em que a gravidade do Sol e da Terra se encontram equilibradas. A nuvem de discos reduziria em 2% a quantidade de raios solares que incidem sobre a Terra. Isso deteria o avanço do efeito estufa mesmo que a quantidade de CO2 produzida no planeta dobre, nas próximas décadas;

2-Devemos por um guarda-sol no espaço ?

Físicos americanos do Lawrence Livermore National Laboratory propõem colocar em órbita um gigantesco escudo redondo para bloquear parte dos raios solares que chegam à Terra.

O escudo conseguiria desviar de 1% a 3% dos raios solares que atingem a Terra, eliminando o efeito estufa por várias décadas. Segundo os idealizadores do projeto, a diminuição da incidência de raios solares ainda geraria para o planeta uma economia de 1 trilhão de dólares por ano. Essa economia seria conseqüência do aumento da produtividade na agricultura e da redução do número de casos de câncer causados por raios ultravioleta.

3-Devemos espalhar enxofre na atmosfera ?

O meteorologista holandês Paul Crutzen, vencedor do Prêmio Nobel em 1995, por demonstrar como a camada de ozônio vinha sendo destruída pela ação humana, defende a idéia de bloquear parte dos raios solares que chegam à Terra espalhando dióxido de enxofre (SO2) na atmosfera. O SO2, em forma de gás, seria levado por balões até uma altitude de 25 quilômetros de solo terrestre. Na seqüência, o gás se oxidaria, gerando ácido sulfúrico, que se agruparia em partículas. Estas desceriam até a altitude de 11 quilômetros e se espalhariam pelas nuvens com a ajuda do vento. As partículas refleteriam parte da luz solar de volta ao espaço.
A temperatura média da Terra pode cair meio grau. Como o efeito estufa tornou o planeta 1 grau mais quente no último século, teoricamente, suas conseqüências – secas, enchentes e furacões – se fariam sentir em menor escala.

4- Devemos adicionar ferro aos oceanos?

A estratégia idealizada pelo Centro Americano de Pesquisas Marinhas Moss Landing Marine – e já testada com sucesso em uma pequena escala – é adicionar limalha de ferro nos oceanos para “fertiliza-los” estimulando o crescimento do fitoplâncton, conjunto de algas microscópicas que vivem na água. Essas algas absorvem parte do CO2 – o gás causador do efeito estufa – da atmosfera. Partindo da constatação de que em certas zonas do oceano há escassez de nutrientes, como o amoníaco e o ferro, fica limitado o desenvolvimento de algas.
Centenas de embarcações espalhariam ferro, em forma granulada, por vastas áreas dos oceanos. O fitoplâncton, assim como as plantas, usa a luz solar, o CO2 e a água para processar a fotossíntese e se desenvolver. Ao morrer, afunda até o solo do oceano, levando junto, parte desse CO2, que permanece submerso por séculos.

Nos testes realizados pelo Centro Moss Landing Marine em 2002, o ferro foi espalhado em duas áreas de 15 quilômetros de extensão, próximas ao Pólo Sul, e depois se dispersou com as correntes marítimas. Estudos posteriores mostraram que o fitoplâncton resultante da experiência proliferou por milhares de quilômetros e consumiu 30.000 toneladas de CO2, o equivalente à emissão de 6.000 automóveis em um ano. Para realizar o procedimento em escala global, bastaria espalhar o ferro por mais pontos nos oceanos.

5- Devemos colocar mais água nas nuvens ?

O Projeto do National Center of Atmospheric Research, dos Estados Unidos, em parceria com a Universidade de Edimburgo, na Escócia, consiste em pulverizar, sobre o oceano, gotículas de água salgada, para aumentar sua capacidade de refletir os raios solares. Dessa forma, menos calor do Sol alcançaria a Terra, atenuando o efeito estufa. Cerca de 500 embarcações se encarregariam da pulverização contínua das gotas de água salgada em nuvens do tipo estrato-cúmulo, que cobrem quase um terço da superfície dos oceanos. Para localizar as nuvens mais adequadas ao experimento, as embarcações contariam com a ajuda de satélites. O sistema de pulverização ainda não está definido, mas provavelmente seria semelhante ao dos nebulizadores usados em medicamentos.

A capacidade das nuvens de refletir a luz do sol de volta para o espaço seria aumentada em 1,5%. Isso provocaria um resfriamento na terra suficiente para anular o efeito estufa, mesmo que as emissões de CO2 continuem crescendo nas próximas décadas;

6-devemos trocar o carvão pelo átomo ?

A proposta é substituir 300 usinas termelétricas atualmente planejadas no mundo por usinas nucleares.
Para gerar energia elétrica para uma cadeia de 8 milhões de habitantes, uma termelétrica produz, por ano, 3,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono, o principal gás do efeito estufa. Uma usina nuclear produz a mesma quantidade de energia sem contribuir para o efeito estufa. Em compensação descarta 263 toneladas de lixo radiativo por ano. Ainda não se descobriu uma forma totalmente segura de descartar lixo radioativo. Diante da crise do aquecimento global, cada vez mais cientistas acham melhor optar pelo lixo nuclear e pesquisar formas de processar seus resíduos.

Numa cidade de 5 milhões de habitantes, substituir energia de termelétricas por energia nuclear representaria uma diminuição de 22% nas emissões de CO2. O lixo radiativo por sua vez, não afeta o clima do planeta.

7- Devemos enterrar os gases tóxicos ?

A proposta é armazenar sob o solo todo o dióxido de carbono (CO2) o gás que gera o efeito estufa, produzido por indústrias e usinas termelétricas. Numa metrópole como Nova York, isso significaria deixar de lançar na atmosfera 32 milhões de toneladas de CO2, ou 36% das emissões anuais na cidade. O aterramento de CO2 já está em fase de testes nos Estados Unidos e na Noruega. Os estágios são os seguintes:

1º) o CO2 é separado de outros gases por filtros;
2º) o CO2 é comprimido e levado por canalizações até um local de estocagem;
3º) o gás é injetado a 2 quilômetros de profundidade, em formações geológicas, poços de petróleo ou de gás natural já esgotado.

A capacidade da crosta terrestre de armazenar CO2 é de 10 trilhões de toneladas, o equivalente a 400 anos de emissões nos níveis atuais.

8- Devemos utilizar plantas geneticamente modificadas ?

Para absorver o gás carbônico pelas plantas, o Departamento de Energia Norte-americano, em 1999, encarregou a Universidade de Berkeley e o Laboratório Lawrencw Livermore National de realizar pesquisas técnicas neste sentido.

O objetivo era aumentar consideravelmente a produtividade vegetal plantando vastas florestas. A Conferência de Marrakech aprovou esse princípio. As empresas viam nele uma oportunidade de melhorar sua imagem. O estudo, porém, não excluiu algumas incoerências.
A empresa japonesa RITE (Research Institute of Innovative Technology for the Earth) trabalha com plantas geneticamente modificadas, capazes de resistir à falta de água e a situações climáticas extremas, para tornar verdes os desertos.

9- Devemos defender o uso de árvores artificiais para reduzir carbono?

Cientistas britânicos afirmam que o método mais prático e barato de reduzir as emissões de dióxido na atmosfera é o uso de árvores artificiais. A Instituição Britânica de Engenheiros Mecânicos, em relatório publicado este mês (agosto/2009), afirma que por US$ 20 mil ( R$ 37 mil), uma única árvore artificial poderia remover o CO2 emitido por 20 carros. As árvores medem 12 metros de altura, dizem os engenheiros, e ainda são um protótipo, mas quando finalizadas, poderiam ser instaladas ao longo das rodovias ou perto de turbinas de ar no mar. A equipe de engenheiros sugeriu instalação do que chamam de “ fotobiorreatores de alga “ nos prédios. Segundo os cientistas, os fotobiorreatores seriam recipientes transparentes que contêm algas que poderiam remover o carbono da atmosfera durante a fotossíntese.

Qual desses enfoques dará certo por muito tempo, desfrutando de mais vantagens do que desvantagens, sem colocar em risco o Planeta ?
As diferenças de caráter político certamente existirão. No entanto, o que importa é saber qual o nível de eficácia de cada um, no que diz respeito à mitigação do aquecimento global.

Antídoto ou veneno ?

Fontes:

Movimento Mundial pelas Florestas Tropicais
Monde diplomatique
ECO-Escola de Educação Comunitária

Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais.

EcoDebate, 31/08/2009

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