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Pirarucu manejado será beneficiado em indústrias do Amazonas

Pirarucu, foto Wikipédia
Pirarucu, foto Wikipédia

O comércio de carne de pirarucu no Amazonas e estados mais próximos deve aumentar consideravelmente em 2010, fortalecido pela queda do preço do produto. Essa é a aposta do governo estadual que no último dia 30 autorizou a construção de duas indústrias de beneficiamento do peixe nos municípios de Marrã e Fonte Boa, localizados no oeste amazonense. As indústrias serão as primeiras do gênero na América Latina.

Em entrevista à Agência Brasil, o governador em exercício do Amazonas, Omar Aziz, informou que, com as novas indústrias, a população de Manaus – que será inicialmente o maior alvo consumidor do produto – poderá comprar peixe, conehcido como bacalhau do Amazonas por cerca de R$ 30 o quilo. Atualmente, o peixe chega a ser comercializado na capital por até R$ 60 o quilo.

Como até o momento não havia nenhuma indústria coordenando o beneficiamento dessa espécie, o valor do produto acabava sofrendo grande variação de preços até chegar aos maiores centros urbanos. Na maioria dos municípios do interior do Amazonas, por exemplo, o pirarucu é vendido a R$ 3,50 o quilo.

“A construção dessas indústrias representa um grande avanço e um novo momento para a economia do Amazonas. Não restam dúvidas sobre a excelência da carne do pirarucu, equivalente a de um bacalhau”, avaliou Aziz.

Os peixes a serem beneficiados nas fábricas de Maraã e Fonte Boa são de origem sustentável. Virão das áreas preservadas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, localizada próximo aos dois municípios.

No Brasil, a pesca do pirarucu é proibida de dezembro a maio (período de defeso), de acordo com normas do Instituto Nacional de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

No Amazonas, contudo, a pesca é proibida durante os 12 meses do ano e autorizada somente em áreas de unidades de conservação e de uso sustentável e áreas com acordo de pesca. Nessas localidades, a captura do peixe pode ser feita entre agosto e novembro e realizada sob supervisão do Ibama e da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável (SDS).

Na opinião do engenheiro de pesca e o especialista em manejo de recurso pesqueiro, Gelson Batista, a implantação das indústrias valoriza o trabalho de pesca manejada e estimula o comércio de uma carne tão apreciada pela culinária, sem desprestigiar os cuidados ambientais. Do couro do pirarucu podem ser feitos sapatos e bolsas e a língua é transformada em ralador de guaraná. Pelas variadas vantagens que oferece, explicou Batista, a sobrevivência da espécie ficou ameaçada.

“Desde 1999, o Ibama apóia Mamirauá com autorizações para a comercialização do pirarucu. O trabalho na reserva mostra resultados promissores, tanto na recuperação dos estoques desse tipo de peixe, quanto na melhoria da comercialização do pescado em geral”, considerou.

Em Mamirauá, pescadores artesanais experientes contam o número de pirarucus no momento de sua respiração aérea. Com isso, eles sabem quantos animais em média vivem na área observada, quantos são adultos, quantos são filhotes e, com esses dados, recebem do Ibama o número de peixes que eles poderão capturar.

“Durante o processo, é observa-se quantas vezes o peixe subiu à superfície para respirar. Um pirarucu adulto respira uma única vez em 20 minutos, ao contrário de um jovem que vem à superfície duas vezes”, finalizou Batista.

O pirarucu é um dos maiores peixes de água doce do mundo. A palavra pirarucu é de origem indígena, onde pira significa peixe e urucu, vermelho. Para respirar, o pirarucu precisa subir à superfície dos rios. A espécie pode atingir 3 metros de comprimento e 200 quilos de peso.

Diferentemente de outras espécies tradicionais de peixes na Amazônia, capazes de trazer ao meio ambiente 1 milhão de filhotes a cada desova, o pirarucu só tem mil filhotes de cada vez. Alguns tipos de peixe atingem a idade adulta em um ano, mas o pirarucu leva cinco anos.

Indústrias de benefiamento do pirarucu serão as primeiras da América Latina

Localizados a cerca de 680 quilômetros de Manaus, no oeste do Amazonas, os municípios de Maraã e Fonte Boa serão os primeiros da América Latina a contar com indústrias de beneficiamento (salga) de pirarucu. A construção das unidades tem início na próxima semana e a inauguração está prevista para novembro deste ano.

As fábricas terão capacidade para produzir 10 toneladas diárias e até 3 mil toneladas por ano. A expectativa é criar 5 mil postos de trabalho indiretos, além dos 150 funcionários que atuarão diretamente em cada uma delas. O pirarucu é um dos peixes mais famosos da região e conhecido como o “bacalhau da Amazônia”.

A construção das duas fábricas está orçada em cerca de R$ 3 milhões. Os investimentos são da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia.

O pirarucu será integralmente aproveitado. O fígado e o coração serão transformados em patê; as escamas serão destinadas ao artesanato e a cabeça será transformada na ensilada – um composto de alto valor protéico utilizado na produção de ração animal. Do total de peixes processados, 60% serão transformados em filé, dos quais 65% serão aproveitados pelo processo de salga.

O secretário de Produção Rural do Amazonas, Eron Bezerra, explicou que a escolha desses dois municípios se deu pela proximidade com a Reserva de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá, única área no estado onde é permitida a pesca do pirarucu.

“A piscicultura no Amazonas conta naturalmente com lagos e rios abundantes e que pode ser aprimorada com o manejo das espécies, sem prejudicar o meio ambiente. Com as vocações naturais e medidas como as das novas indústrias, poderemos consolidar um pólo para processar peixe o ano inteiro no estado”, disse o titular da Secretaria de Produção Rural do Amazonas (Sepror).

O projeto também prevê a instalação de creches para as funcionárias que tiverem filhos, a construção de uma área de lazer nos municípios e até mesmo mini-postos de saúde para atender à população em torno das fábricas.

O prefeito de Fonte Boa, Antônio Gomes Ferreira, disse em entrevista à Agência Brasil que a indústria profissionalizar o trabalho da comunidade, e agregar a isso qualidade, mais renda e mais empregos. “Esperamos que tudo isso ajude o município crescer e que a população tenha melhores condições de vida”.

Com a venda do pescado beneficiado, o faturamento anual de Maraã e Fonte Boa será de, aproximadamente, R$ 70 milhões. Atualmente a soma dos orçamentos, por ano, dos dois municípios é inferior a R$ 30 milhões.

Reportagem de Amanda Mota, da Agência Brasil, publicada pelo EcoDebate, 03/08/2009

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