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Estudo discute fatores de vulnerabilidade no uso dos métodos contraceptivos entre jovens

A maioria dos homens não pensou na possibilidade de engravidar sua parceira no primeiro ato sexual. Já as mulheres lembraram do preservativo, porém não utilizaram
A maioria dos homens não pensou na possibilidade de engravidar sua parceira no primeiro ato sexual. Já as mulheres lembraram do preservativo, porém não utilizaram

Apesar da crescente difusão de informações a respeito da sexualidade, o uso dos métodos contraceptivos entre os jovens e adolescentes ainda deixa muito a desejar. De fato, é possível perceber a precoce iniciação das relações sexuais na vida dos adolescentes. Devido à vulnerabilidade em relação ao uso dos métodos contraceptivos entre os jovens, a sanitarista e mestre em ciências da saúde pelo Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) Camila Alves alerta em artigo, publicado recentemente pela revista Ciência & Saúde Coletiva, sobre a necessidade do uso para a prevenção de doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez indesejada desde a primeira relação e destaca a importância de profissionais de saúde sobre o tema, no âmbito do Programa de Atenção Integral à Saúde da Mulher, Criança e Adolescente.

A pesquisa teve como base 17 entrevistas realizadas com jovens de 18 a 24 anos de classes populares do Rio de Janeiro, que haviam vivenciado pelo menos um episódio de gravidez na adolescência, sendo nove do sexo feminino e oito do sexo masculino. Foram abordadas questões como a influência do discurso religioso na regulação das práticas sexuais e as mudanças sociais nos laços familiares, nas quais os jovens passam a ter liberdade mais cedo, o que inclui a sexualidade realizada fora dos marcos de uma relação conjugal bem estruturada.

A pesquisadora explica que entre os homens analisados o uso da camisinha está associado somente às relações isoladas ou esporádicas, e quando possuem parceiras fixas e aparentemente sem doenças, não percebem razão para utilizá-la. A maioria dos homens não pensou na possibilidade de engravidar sua parceira no primeiro ato sexual. Já as mulheres lembraram do preservativo, porém não utilizaram. “Observamos que a sexualidade não passa pelo conhecimento dos riscos e dos problemas de saúde que tal prática envolve, mas sim pela confiança na parceira e pelo desejo masculino, sobrepondo-se à prevenção”, revela Camila.

Uma pesquisa feita entre 1999 e 2002 nos municípios do Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador, intitulada Pesquisa de Gravad – gravidez na adolescência: estudo multicêntrico sobre jovens, sexualidade e reprodução no Brasil – constatou que 70% das mulheres e 74% dos homens justificaram a não utilização de métodos contraceptivos durante a primeira relação por falta de atenção, alegando não ter pensado muito no assunto.

A pesquisa mostra que a primeira experiência sexual é fator importante para delinear o comportamento sexual e reprodutivo no futuro, uma vez que as decisões sobre as práticas contraceptivas são tomadas no início da vida sexual. Neste sentido, a autora mostra que a reflexão anterior ao início da atividade sexual é crucial para evitar práticas sexuais desprotegidas. “A mudança dessas práticas requer um trabalho que amplie a reflexão sobre o exercício da vida sexual pelo jovem, preparando-o para encarar os desafios próprios das relações afetivo-sexuais. É um trabalho para toda a sociedade, envolvendo diferentes segmentos, como educação, saúde e a própria família”, esclarece Camila.

A pesquisadora explica que os serviços de saúde precisam estar preparados para acolher a demanda dos jovens, reservando um horário e espaços adequados, trabalhando com dinâmicas que procurem estreitar os vínculos entre as partes, aumentando o diálogo na perspectiva de construir um conhecimento sobre os assuntos tratados, que considere tanto as experiências dos jovens, quanto os saberes trazidos pelos profissionais. “É necessário romper com as barreiras culturais existentes na sociedade para que a sexualidade seja trabalhada com uma maneira menos preconceituosa e a iniciação sexual entre os jovens e adolescentes não seja considerado um processo repleto de silêncios e reprovação moral”, ressalta a pesquisadora.

Matéria de Isabella Germano, da Agência Fiocruz de Notícias, publicada pelo EcoDebate, 02/07/2009.

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