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Energia oceânica está na crista da onda, artigo de Carol Salsa

Turbina para produção de energia pelas ondas, sendo instalada em East River. Foto: The New York Times
Turbina para produção de energia pelas ondas, sendo instalada em East River. Foto: The New York Times

[EcoDebate] O mar enquanto espaço de afirmação estratégica tem várias facetas. Como vetor estratégico e cultural, como via de comunicação e lazer, como fonte de proteínas, como um oceano de oportunidades e também de responsabilidades, deve ser explorado de forma ambientalmente sustentável. Para tanto, é necessário conhecer todo esse potencial através de um inventário que contemple outros vetores, como o seu leito e o subsolo marinho e o que eles têm a nos oferecer. Nesta exploração há que se considerar o âmbito das pesquisas a realizar tendo-se exatamente a noção do contorno ou delimitação da área a ser estudada. Há três áreas a serem consideradas que são: 1- a plataforma continental; 2- a exploração de hidrocarbonetos ;3- captação de energias renováveis no mar. Nossa exposição girará em torno dos itens 1 e 3.

O termo plataforma continental encerra dois significados distintos: o geológico relacionado a morfologia submarina, e o jurídico. O conceito jurídico encontra-se contemplado na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, que estatui que a Plataforma Continental compreende o leito e o subsolo das áreas submarinas que se estendem para além do Mar Territorial, como uma extensão ou prolongamento natural do território terrestre, até o bordo exterior da margem continental, ou até uma distância de 200 milhas, no caso de não se atingir essa distância.

O estado costeiro exerce direitos de soberania e exclusividade sobre a Plataforma Continental, para efeitos de exploração e aproveitamento dos seus recursos minerais, de outros recursos não vivos do seu leito e subsolo, e de organismos pertencentes às espécies sedentárias.

Quanto a captação de energias renováveis no mar, só nas duas décadas do século XXI, está previsto um acréscimo na demanda de energia da ordem de 60%. Passada a fase experimental para a de produção industrial continuada, ela adquirira o reconhecimento da sua necessidade e indispensabilidade, pois se constitui numa oportunidade múltipla de produção de energia renovável contribuindo para a redução de gases de efeito estufa e dependência dos combustíveis fósseis; de desenvolvimento tecnológico, susceptível de ser exportado e integrável num cluster industrial voltado para o oceano.

Segundo pesquisadores britânicos, os oceanos do planeta contam com uma capacidade de produção de 4.000 terawatts horas por ano de energia- o que equivale a dez vezes à necessidade do Reino Unido. Alguns analistas acreditam que até 2020 a Europa contará com uma capacidade instalada de usinas para produção de energia elétrica a partir das ondas e marés de 2.000 a 5.000 megawatts. Isso equivale de quatro a dez usinas termoelétricas movidas a carvão com a desvantagem destas na poluição do ar por emissão de GEE-gases de efeito estufa.

Há décadas são feitas experiências com a energia marinha. A primeira usina no mundo a explorar a energia das marés fica situada em território francês , em La Rance, em 1966. Construída na foz de um estuário onde as marés são poderosas, a usina de 240 megawatts produz eletricidade quando a água deslocada pelas marés passam pelas turbinas instaladas na barreira.

A indústria escocesa Pelamis Wave Power, da Escócia, criou uma “ fazenda de ondas “ amiga do meio ambiente na costa de Portugal em parceria com a Enersis (ENI). A instalação produz 2,23 megawatts de eletricidade.

A incerteza do mercado, os altos custos da geração de energia têm prorrogado a constatação da hipótese pelos riscos que vêm sendo citados para as companhias de energia marinha.

Apesar de todos os maus presságios, ou seja, ambientalistas se declarando contrários a existência de instalações e bóias no mar, os investidores e as empresas de eletricidade não deixaram de inundar o setor com verbas em busca de tecnologias pioneiras. A Boeckmann, da StrateEye, prevê que a energia oceânica poderá se constitui em 20% dos recursos renováveis da Europa em 2020, comparados com os 40% previstos para a energia eólica. Nos Estados Unidos foi anunciado um investimento da ordem de USS 15 milhões em energia oceânica. Para os americanos a energia oceânica é a menos desenvolvida, mas seu potencial é tão grande que atrai empresas do mundo todo. Um projeto tem chamado a atenção de especialistas por envolve a instalação de um moinho sub-aquático em que as pás giram com a correnteza produzindo eletricidade. A expectativa é que o custo fique em torno de 7 a 18 centavos de dólar o quilowatt-hora. Atualmente o preço nos Estados Unidos é de 11 centavos de dólar sujeito às flutuações de mercado.

Observa-se que embora a energia solar e eólica tenham absorvido grande parte das verbas destinadas ao desenvolvimento de tecnologias nestas áreas, a maré está mudando a favor da energia oceânica, colocando-a numa situação auspiciosa em termos de exploração energética, e por isso mesmo, está na crista da onda.

Carol Salsa, colaboradora e articulista do EcoDebate, é engenheira civil, pós-graduada em Mecânica dos Solos pela COPPE/UFRJ, Gestão Ambiental e Ecologia pela UFMG, Educação Ambiental pela FUBRA, Analista Ambiental concursada da FEAM ; Perita Ambiental da Promotoria da Comarca de Santa Luzia / Minas Gerais.

[EcoDebate, 24/04/2009]

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