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Pesquisa utiliza o boto-cinza para avaliar a saúde de ecossistemas marinhos

boto-cinza

O boto-cinza é um mamífero marinho que está no topo da cadeia alimentar e, por isso, tende a acumular em seu organismo contaminantes encontrados no ambiente e nos demais seres vivos do ecossistema

Como saber se um ecossistema marinho está saudável ou contaminado por mercúrio? A resposta pode estar no boto-cinza (Sotalia guianensis), um pequeno cetáceo encontrado desde Santa Catarina até a América Central. Em sua dissertação de mestrado, defendida em fevereiro na Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), o biólogo Jailson Fulgencio de Moura concluiu que o animal pode funcionar como um indicador da saúde dos ambientes costeiros a partir da análise do teor de mercúrio em seu tecido muscular.

O mercúrio é um metal tóxico que representa risco, principalmente, para mulheres grávidas, já que ele atravessa a placenta e pode causar danos neurológicos e hepáticos ao feto. Se um boto-cinza apresenta acúmulo de mercúrio no tecido muscular, é sinal de que esse elemento está presente no meio ambiente e pode ter contaminado também peixes usados para consumo humano que habitam o mesmo ecossistema.

Vários fatores foram levados em conta na hora de eleger o boto-cinza como alvo do estudo. “Ele é um mamífero marinho que está no topo da cadeia alimentar e, por isso, tende a acumular em seu organismo contaminantes encontrados no ambiente e nos demais seres vivos do ecossistema que habita. Dessa forma, os agravos se tornam mais visíveis no boto-cinza”, explica Jailson, que realizou o estudo sob orientação do pesquisador Salvatore Siciliano. Além disso, por viver em regiões costeiras, este cetáceo está próximo do homem e mais diretamente exposto aos efeitos das atividades humanas. Ao mesmo tempo, trata-se de um animal que não costuma realizar grandes migrações, de modo que os agravos a sua saúde estão associados às condições do ambiente onde vive.

Estudo analisou botos do Rio de Janeiro e Amapá

O projeto analisou 47 botos-cinzas, sendo 20 da costa norte do Estado do Rio de Janeiro e 27 no estuário amazônico. No Rio, foram usadas carcaças que o Grupo de Estudos de Mamíferos Marinhos da Região dos Lagos (Gemm-Lagos) coletou na praia enquanto monitorava o litoral desde Saquarema até Barra do Itabapoana. Na Amazônia, com a supervisão de um técnico da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), foram utilizados animais acidentalmente capturados por embarcações de pesca que atuavam em vários pontos da costa do Amapá, em áreas de grande influência do Rio Amazonas.

As amostras de tecido muscular foram analisadas nos laboratórios da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio). Nos botos-cinzas coletados no Amapá, o teor de mercúrio variou de 0,07 a 0,79 micrograma por grama (µg/g) de músculo, em peso úmido, com média de 0,38 µg/g. Já nos animais do Rio de Janeiro, a variação foi de 0,2 a 1,66 µg/g, com média de 1,07 µg/g. “Os valores relativos ao Amapá foram bem menores, o que sugere que, naquele estado, o mercúrio estaria naturalmente presente nos sedimentos marinhos e não estaria associado à atividade de garimpo, ao contrário do que se imagina”, considera Jailson.

O biólogo explica que a costa norte fluminense sofre bastante influência do Rio Paraíba do Sul, onde é lançado grande volume de dejetos de atividades industrial e agrícola, o que explicaria o maior teor de mercúrio nos botos-cinzas. Jaílson, que é morador de Cabo Frio, uma cidade de veraneio na costa do Rio de Janeiro, alerta também para o problema da poluição decorrente do turismo. “Em algumas cidades, a população chega a ficar quatro vezes maior durante o verão, o que representa um grande desafio em relação ao gerenciamento do esgoto”, sinaliza.

Embora os níveis de contaminação verificados no Rio de Janeiro tenham sido bem maiores que os do Amapá, os valores detectados na costa norte fluminense permanecem distantes daqueles observados em alguns países da Europa e da Ásia. “Na região do Mediterrâneo, já foram encontrados índices alarmantes, superiores a 60 µg/g”, comenta Jailson, que integra o Gemm-Lagos e hoje cursa o doutorado no Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública e Meio Ambiente na Ensp.

Matéria de Fernanda Marques, da Agência Fiocruz de Notícias.

[EcoDebate, 01/04/2009]

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