EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Notícia

Meta do Plano Nacional de Mudanças Climáticas depende de queda brusca no desmate

Desmatamento na Amazônia, em foto de arquivo MMA
Desmatamento na Amazônia, em foto de arquivo MMA

Desmatamento em 2009 terá de ser o menor da história para cumprir meta. Plano lançado ontem pelo governo federal estipula uma queda de 40% na devastação da Amazônia até 2010

O governo federal lançou ontem o seu Plano Nacional de Mudanças Climáticas, que traz como meta principal uma redução progressiva do desmatamento na Amazônia nos próximos dez anos. A primeira etapa é reduzir em 40% a média anual de desmate no período 2006-2009, em relação à média dos dez anos anteriores (1996-2005), que foi de 19.500 km2 de floresta derrubada. Ambientalistas classificaram a meta como “tímida”. Mas nem tanto. Para cumprir o plano, segundo cálculos do Estado, o desmatamento em 2009 terá de ser o menor da história – 9.200 km2, no máximo. Do O Estado de S.Paulo, 02/12/2008.

Mais informações

Em 20 anos de monitoramento e fiscalização, o desmatamento na Amazônia jamais caiu abaixo de 11.000 km2. A taxa anual mais baixa foi a de 1991, quando 11.030 km2 de floresta desapareceram do mapa. Este ano, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) estima que o índice ficará em torno de 12.000 km2 – o que já é visto como um resultado muito positivo.

Pela meta do governo, a média do desmatamento no período 2006-2009 não poderá passar de 11.700 km2, o que significa que o total de área desmatada nos quatro anos não poderá ser maior do que 46.800 km2. Nos últimos três anos, incluindo 2008, já foram derrubados 37.600 km2 de floresta, o que deixa um “saldo” de apenas 9.200 km2 para desmatar em 2009 sem estourar o limite do plano.

Nos quadriênios seguintes (2010-2013 e 2014-2017), segundo o plano, o desmatamento deverá ser reduzido em mais 30% cada, comparado à média dos quatro anos anteriores. A expectativa, com isso, é que em 2017 a taxa anual de desmate seja de 5.000 km2. Até lá, mesmo se todas as metas forem cumpridas, outros 70 mil km2 de florestas vão desaparecer – uma área maior do que a dos Estados do Rio e Sergipe juntos.

Estima-se que de 80% a 90% dos desmatamentos praticados na Amazônia são ilegais. “Ora, se é ilegal, a meta deveria ser zero”, criticou o diretor de políticas públicas do Greenpeace, Sérgio Leitão. “O que o governo está dizendo é que vai conviver com a ilegalidade até 2017.”

“Estamos longe de ter um plano que atenda à dimensão do problema que enfrentamos”, disse o diretor da organização Amigos da Terra – Amazônia Brasileira, Roberto Smeraldi, que discursou na cerimônia de lançamento do plano. Segundo ele, a falta de metas mais rígidas contra a destruição da floresta “é uma forma de o governo respaldar e legitimar um fato”.

FLORESTA QUENTE

O desmatamento é a principal fonte de emissão de gases-estufa do Brasil, por causa do dióxido de carbono (CO2) que é liberado na queima e na decomposição da matéria orgânica da floresta. Cerca de 75% do CO2 lançado pelo País na atmosfera é produzido dessa forma.

Por isso, há anos, o governo brasileiro vem sendo pressionado – externamente e internamente – a assumir metas mensuráveis de redução do desmatamento, como forma de reduzir também suas emissões de CO2 e sua contribuição para o aquecimento global. O anúncio do plano ontem, em Brasília, coincidiu com a abertura da conferência das Nações Unidas sobre mudanças climáticas em Poznan, na Polônia (mais informações nesta pág.).

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, disse que a realização do plano evitará a emissão de 4,8 bilhões de toneladas de CO2. Com isso, o País ganha uma base de cálculo para quantificar e valorizar seus estoques de carbono. “A gente tinha objetivos, mas não tinha procedimentos e cronogramas”, disse Minc. “Não podíamos cobrar dos setores redução do desmatamento, pois não havia um plano nem uma meta.”

Ambientalistas elogiaram a mudança de postura do governo, que até muito recentemente não aceitava discutir nenhum tipo de meta. “Só o fato de estarmos falando sobre metas já é um avanço enorme”, disse o pesquisador Paulo Moutinho, do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam).

Ao mesmo tempo, porém, criticaram a falta de metas rígidas – não só sobre desmatamento, mas sobre energias renováveis, medidas de adaptação às mudanças climáticas e outros temas. O plano incentiva o plantio de pinus e eucalipto como forma de “zerar a perda líquida de cobertura florestal” até 2015. E não traz metas para a conservação do cerrado. “É tudo muito insuficiente”, disse o diretor da ONG Vitae Civilis, Rubens Born.

METAS ANUNCIADAS ONTEM

Reflorestamento: Previsão de plantio de 5,5 milhões de hectares de florestas, sendo 3,5 milhões de hectares com pinhos e eucaliptos e apenas 2 milhões referentes a espécies nativas, até 2020

Limite: Entre 2009 e 2017, o desmatamento na Amazônia poderá ser de, no máximo, 70 mil km2 de floresta. Essa área é maior que os territórios dos Estados de Sergipe e do Rio juntos

Legalização: Aumentar no mercado a oferta de madeira legalizada, ou seja, aquela retirada da floresta com a permissão do governo

Recursos: Arrecadar US$ 1 bilhão em doações do exterior para o Fundo Amazônia, criado neste ano e que já recebeu doação da Noruega

Outros setores: Troca de 1 milhão de geladeiras antigas por ano, em um período de dez anos

Energia: Aumento do consumo de carvão vegetal “sustentável” em substituição ao carvão mineral

Combustível: Fomento à indústria do etanol para alcançar aumento médio anual de consumo de 11% nos próximos dez anos

Ausência: O plano não traz metas de limite de desmatamento no cerrado, um dos biomas mais vulneráveis. Neste ano, o cerrado deve perder cerca de 20 mil km2 de cobertura natural, contribuindo para o aquecimento global

NÚMEROS

9,2 mil km quadrados é o máximo que o País poderá desmatar no ano que vem para cumprir a primeira etapa da redução progressiva do desmatamento na Amazônia

70 mil km quadrados é a área total de desmatamento da floresta amazônica que o governo vai tolerar entre 2009 e 2017, uma extensão de matas superior ao território dos Estados do Rio e de Sergipe, somados

5 mil km quadrados é a taxa de desmate anual esperada para 2017, caso o plano do governo seja bem-sucedido

[EcoDebate, 03/12/2008]

Inclusão na lista de distribuição do Boletim Diário do Portal EcoDebate
Caso queira ser incluído(a) na lista de distribuição de nosso boletim diário, basta que envie um e-mail para newsletter_ecodebate-subscribe@googlegroups.com . O seu e-mail será incluído e você receberá uma mensagem solicitando que confirme a inscrição.