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Gabeira: O belo exemplo dos 1.640.970 do Rio, artigo de Augusto Nunes


(12 de Setembro de 2007) O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) fala aos jornalistas após a votação em que o plenário absolveu o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), em processo por quebra de decoro parlamentar Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

[Jornal do Brasil] Convidado a disputar a prefeitura do Rio pela coligação que juntou o PV, o PSDB e o PPS, o deputado federal Fernando Gabeira condicionou a aceitação a cinco precondições. Primeira: a campanha deveria ser limpa em todos os sentidos. Sem faixas e galhardetes pendurados em postes, sem panfletos e outras velharias que poluem a paisagem urbana. E sem ataques pessoais, truques eleitoreiros e outras espertezas que poluem a paisagem eleitoral.

Segunda: o programa do candidato passaria ao largo de questões nacionais para restringir a propostas e idéias vinculadas aos problemas da cidade. Terceira: tanto as quantias arrecadadas quanto os gastos de campanha seriam divulgados diariamente pela internet, com a especificação da origem e do destino do dinheiro. Quarta: se chegasse ao segundo turno, a coligação não negociaria alianças nem adesões.

Quinta: alcançada a vitória, a montagem do secretariado não obedeceria a imposições partidárias ou conveniências políticas. Em vez do indecoroso loteamento de cargos, o prefeito utilizaria o critério do mérito para a montagem do primeiro escalão: seriam secretários municipais os melhores e mais brilhantes. Alguns camuflando o espanto, os líderes dos três partidos toparam. Parece mentira, decerto pensaram. Parece mentira, concordaram os eleitores.

Segundo todas as pesquisas, Gabeira largou com menos de 5% e entrou na reta final da campanha com índices pouco animadores. Faz sentido. Exauridos por bandalheiras protagonizadas pelas quadrilhas de pais da pátria, afrontados pela descoberta de que a imunidade parlamentar virou salvo-conduto forjado para livrar da cadeia bandidos homiziados no Congresso, os brasileiros desistiram da esperança como profissão e decidiram que os políticos eram todos iguais.

Só a duas semanas da eleição centenas de milhares de cariocas compreenderam que havia mesmo um candidato a prefeito honesto, coerente, sincero, inventivo, preocupado não com o próprio futuro, mas com os destinos de uma cidade humilhada pela procissão de governantes ineptos. E que cumpria o prometido: a campanha avançava sem zonas de sombra nem espertezas, com pouco dinheiro, sem comitês nem papelório, com programas na TV comandados pelo próprio Gabeira.

Os 839.994 votos obtidos por Gabeira no primeiro turno escancararam duas constatações espantosas. As três primeiras precondições haviam sido plenamente atendidas. Mais importante ainda, o Rio avisara ao Brasil que, apesar de tudo, a tribo dos decentes é bem maior do que se imaginava.

A passagem para o segundo turno permitiu a Gabeira mostrar que, como estabelecera a quarta cláusula do contrato verbal, não negociaria adesões. Até domingo passado, o candidato foi visto ao lado de Oscar Niemeyer, Caetano Veloso ou Marina Silva. Paes submergiu em conversas clandestinas com o porteiro do céu Marcelo Crivella, a comunista domesticada Jandira Feghali, o estafeta petista Vladimir Palmeira ou com os fora-da-lei do PTdoB.

Na etapa final do duelo, Paes foi amparado pela nada santa aliança que incluiu um balaio multipartidário, o governador, o presidente da República e um pelotão de especialistas em guerra suja. Os candidatos barrados no primeiro turno embarcaram no iate de Paes. O resultado final demonstra que os eleitores preferiram a onda Gabeira. Juntos, Jandira e Crivella conseguiram quase 1 milhão de votos. Entre uma rodada e outra, o crescimento de Paes não chegou a 650 mil votos. O de Gabeira passou de 800 mil.

Tudo somado, os 1.640.970 eleitores do candidato que há três meses parecia um sonho impossível protagonizaram o mais belo, abrangente e empolgante fenômeno da temporada eleitoral – e transformaram Gabeira numa evidência de que o Brasil decente está pronto para resistir. Faltou platéia para comemorar a vitória de quem será prefeito. O povo festejou nas ruas o desempenho de quem por pouco não foi. No restante do País, nenhum eleitor comum se interessou pela sorte de Paes. Em contrapartida, milhões de brasileiros juntaram-se à distância ao combate liderado por Gabeira. Graças aos 1.640.970 do Rio de Janeiro, o que foi uma onda transformou-se em movimento popular.

O movimento só começou.

Augusto Nunes – O autor escreve nesta seção às segundas e quartas E-mail: augusto@jb.com.br

Artigo originalmente publicado no Jornal do Brasil, 29/10/2008.

[EcoDebate, 30/10/2008]

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