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Artigo

Por que a terra seca? artigo de Edézio Teixeira de Carvalho

Erosão, transporte, deposição. É este o clássico trinômio da mudança de fisionomia da terra sob a erosão hídrica, glacial e eólica. O Velhas-São Francisco está assoreado da nascente a Sobradinho. Deste a Paulo Afonso, na carência de sedimento, deve estar devolvendo ao fluxo terras imobilizadas por assoreamento antes da construção do lago. Outras paradas e chega ao mar sem torrão para entregar-lhe e o mar, aproveitando a sonolência do rio, avança em Cabeço. Se não contássemos com a geodinâmica interna, dos terremotos, vulcões, soerguimentos de montanhas (orogênese) e de continentes (epirogênese) não estaríamos aqui porque as massas continentais já estariam submersas a 2 mil metros no mar universal. A erosão destrói um fato geológico para gerar outros, como a do Colorado, que destrói um grande planalto para fazer um Grand Canyon de policromias inigualáveis.

No curto prazo das civilizações a erosão é mal a ser neutralizado ou mitigado. Muitos pensam que o maior mal dela proveniente é o assoreamento (aqueles que com tristeza se lembram das curvilíneas margens do belo lago que já foi e que me traz à memória poema meu antigo com os seguintes versos: “Pague o IPTU caladinho para remediar a erosão, /E também o assoreamento, aquele seu meio-irmão, /Para limpar a Pampulha, nesse transe de aflição, /E devolver-lhe a fundura de sua antiga feição. /Resgate seu compromisso co’a vindoura geração”). Não é este o mal maior. Outros pensam que o mal maior da erosão e do conseqüente assoreamento são inundações, como as de São Paulo. São terríveis, mas ainda não são o mal maior. O mal maior, invisível, é que essa erosão, esse assoreamento e aquela inundação estão sendo feitos com água que vai faltar porque está sendo devolvida precocemente ao mar pela drenagem direta e indireta das tecnologias e das leis do século 20 principalmente nos três maiores cenários de atividades territoriais – a agropecuária, a urbanização e as vias de transporte. Perceba o leitor que todo afloramento rochoso em alta encosta já foi recoberto por solo residual, levado por erosão natural e antrópica.

Está provado, por novidades que pipocam aqui e ali, que a agropecuária pode ser feita com resultado muito melhor, retendo, infiltrando e conservando a água; está provado, aqui e alhures, que a cidade pode ser melhor retendo água nas terras altas para que ela chegue filtrada e com regularidade às nascentes revitalizadas por infiltração estimulada, por assoreamento, sim senhor, mas nos altos vales, por diques, e nos pés de taludes com muretas bem feitas. Está provado também que as estradas têm todos os recursos desejáveis para controlar as águas, ao contrário do que fazem dissipando-as. Na erosão, a gravidade está contra nós e remove para baixo o solo erodido, aos bilhões de litros por ano, que não vai sozinho, mas levando consigo 20% do seu volume em reservatório de água. Assim a terra vai secando.

Belo Horizonte, 13 de outubro de 2008

Edézio Teixeira de Carvalho
Engenheiro Geólogo; edeziotc@gmail.com

Artigo enviado por Ruben Siqueira e Apolo Heringer e originalmente publicado no O Tempo; OPINIÃO; pg.19; 20/10/08

[EcoDebate, 21/10/2008]

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