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Como a economia está matando o planeta

Em plena crise global, com governos e mercados preocupados com uma possível recessão mundial, a revista especializada britânica “New Scientist” foi às bancas nesta semana com uma capa na qual defende que a busca por crescimento econômico está matando o planeta e precisa ser revista. Matéria da BBC Brasil.

Em uma série de entrevistas e artigos de especialistas em desenvolvimento sustentável, a revista pinta um quadro em que todos os esforços para desenvolver combustíveis limpos, reduzir as emissões de carbono e buscar fontes de energia renováveis podem ser inúteis enquanto nosso sistema econômico continuar em busca de crescimento.

“A Ciência nos diz que se for para levarmos a sério as tentativas de salvar o planeta, temos que remodelar nossa economia”, afirma a revista.

Segundo analistas consultados pela publicação, o grande problema na equação do crescimento econômico está no fato de que, enquanto a economia busca um crescimento infinito, os recursos naturais da Terra são limitados.

“Os economistas não perceberam um fato simples que para os cientistas é óbvio: o tamanho da Terra é fixo, nem sua massa nem a extensão da superfície variam. O mesmo vale para a energia, água, terra, ar, minerais e outros recursos presentes no planeta. A Terra já não está conseguindo sustentar a economia existente, muito menos uma que continue crescendo”, afirma em um artigo o economista Herman Daly, professor da Universidade de Maryland e ex-consultor do departamento para o meio ambiente do Banco Mundial.

Para Daly, o fato de o nosso sistema econômico ser baseado na busca do crescimento acima de tudo, faz com que o mundo esteja caminhando para um desastre ecológico e também econômico, dadas as limitações dos recursos.

“Para evitar este desastre, precisamos mudar nosso foco do crescimento quantitativo para um qualitativo e impor limites nas taxas de consumo dos recursos naturais da Terra”, escreve.

“Nesta economia de estado sólido, os valores das mercadorias ainda podem aumentar, por exemplo, por causa de inovações tecnológicas ou melhor distribuição. Mas o tamanho físico dessa economia deve ser mantido em um nível que o planeta consiga sustentar”, conclui Daly, que compara a atual economia a um avião em alta velocidade e a sua proposta a um helicóptero, capaz de voar sem se mover.

Reformar o capitalismo

Mas essas mudanças no sistema não serão fáceis. Em uma entrevista à revista, James Gustav Speth, ex-conselheiro do governo Jimmy Carter (1977-1981) e da ONU, afirma que o movimento ambiental nunca conseguirá vencer dentro do atual sistema capitalista.

“A única solução é reformarmos o capitalismo atual. Os Estados Unidos cresceram entre 3% e 3,5% por um bom tempo. Há algum dividendo deste crescimento sendo colocado em melhores condições sociais? Não. Os Estados Unidos têm que focar em indústrias sustentáveis, necessidades sociais, tecnologias e atendimento médico decente, e não sacrificar isso para fazer a economia crescer. Eu não defendo o socialismo, mas uma alternativa não-socialista para o capitalismo atual”, diz.

Ele também faz críticas ao atual movimento ambientalista.

“A comunidade ambientalista, pelo menos nos Estados Unidos, é muito fraca quando falamos sobre mudança de estilo de vida, consumo e sobre sua relutância em desafiar o crescimento ou o poder das corporações. Nós precisamos de um novo movimento político nos EUA. Cabe aos cidadãos injetarem valores que reflitam as aspirações humanas, e não apenas fazer mais dinheiro.

Obsessão pelo crescimento

A revista também traz um artigo que discute o argumento de que o crescimento econômico é necessário para erradicar a pobreza e que quanto mais ricos ficam alguns, a vida dos mais pobres também melhora. É a chamada Teoria do Gotejamento.

Segundo Andrew Simms, diretor da New Economics Foundation, em Londres, este argumento, além de “não ser sincero”, sob qualquer avaliação, é ” impossível”.

“Durante os anos 1980, para cada US$ 100 adicionados na economia global, cerca de US$ 2,20 eram repassados para aqueles que estavam abaixo da linha de pobreza. Durante a década de 1990, esse valor passou para US$ 0,60. Essa desigualdade significa que para que os pobres se tornem um pouco menos pobres, os ricos tem que ficar muito mais ricos”.

Segundo ele, isto pode até parecer justo para alguns, mas não é sustentável.

“A humanidade está indo além da capacidade da biosfera sustentar nossas atividades anuais desde meados dos anos 1980. Em 2008, nós ultrapassamos essa capacidade anual em 23 de setembro, cinco dias antes do ano anterior”.

Ele ainda afirma ser impossível que um dia toda a humanidade tenha o padrão de vida dos países desenvolvidos.

“Seriam necessários pelo menos três planetas Terra para sustentar essas necessidades se todos vivessem nos padrões da Grã-Bretanha. Cinco se vivêssemos como os americanos”.

Para Simms, a Terra estaria inabitável há muito tempo antes que o crescimento econômico pudesse erradicar a pobreza.

Para que o mundo possa ter uma economia ecologicamente sustentável, segundo Simms, é preciso acabar com o preconceito de alguns em relação ao conceito de “redistribuição”, que, para ele, é o único modo viável de acabar com a pobreza.

“Só foi preciso alguns dias para que os governos do Reino Unido e dos EUA abandonassem décadas de doutrinas econômicas para tentar resgatar o sistema financeiro de um colapso. Por que tem que demorar mais para introduzirem um plano para deter o colapso do planeta trazido por uma conduta irresponsável e ainda mais perigosa chamada obsessão pelo crescimento?”.

[EcoDebate, 20/10/2008]

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One thought on “Como a economia está matando o planeta

  • Missao Tanizaki

    A HUMANIDADE é MÍOPE ? ! ? ! ? ! ? ! ? ! ? ! ? ! ? !

    A maioria dos Seres Humanos, nisso inclui-se os Pesquisadores, Governantes e demais Autoridades, são Míopes, pois, praticamente, só enxergam os Biocambustíveis.

    O Brasil e o Mundo já precisam de Soluções para a SUBSTITUIÇÃO de todos os DERIVADOS do Petróleo.

    Os Resíduos Agrícolas e Agroindustriais, como o Bagaço da Cana de Açúcar pode ser empregado para Produção de Energia Elétrica, como, também, pode ser empregado para a Produção de uma série de Produtos Químicos, através da Pirólise e/ou Craqueamento, além disso, deixa com resíduo final Pellet’s de Carvão, equivalente ao Carvão Mineral e/ou Vegetal, amplamente utilizados nas Siderúrgicas.

    Parte dos Produtos Químicos resultantes da Pirólise dos Produtos de Origem Vegetal podem ser utilizados na Industrialização de Alimentos. Outras partes podem ser utilizadas em uma um bom Valor Agregado – será que tem sentido realizar Pesquisas para Produção de apenas nas áreas associadas ao Biodiesel e Etanol, como aproveitamentos dos seus resíduos industriais ? ? ? ? ? ? ? ? ? ? ?

    O Mundo deveria estar a procura de uma Grande Solução para Produção de BIOMASSA visando estabelecer os SUBSTITUTOS do PETRÓLEO – para isso o Brasil tem uma Planta Aquática a nossa disposição e com ela podemos Desenvolver um Projeto para atender a demanda MUNDIAL de BIOMASSA.

    Um Projeto para Desenvolvimento da referida Planta Aquática, em Fazendas Marinhas, já iniciamos, mas estamos precisado das contribuições dos nossos Pesquisadores das distintas Áreas para que possamos estabelecer um Modelo de Fazenda, de Fato SUSTENTÁVEL.

    Esse Projeto ainda engatinhando precisa de apoio dos Nossos Governantes e Parlamentares, mas requer URGÊNCIA, caso contrário esse Projeto pode ir para Esfera INTERNACIONAL, perdendo com isso o Brasil a oportunidade de se tornar Referência em Produção de Pesquisas / Tecnologia nessa Área, como, também, a chance de se tornar o maior Produtor Mundial de Planta Aquática – essa BIOMASSA poderá se tornar no mais importante SUBSTITUTO do PETRÓLEO.

    Muitos países, como o Japão, Alemanha, França, Inglaterra, Estados Unidos, entre outros, certamente, se interessarão e numa segunda etapa poderemos estabelecer um Consórcio Mundial para desenvolver um Modelo Mundial, dando direito aos países participantes utilizarem a Tecnologia do referido Modelo na Produção de BIOMASSA da Planta Aquática.

    MISSAO TANIZAKI
    Fiscal Federal Agropecuário
    Bacharel em Química
    missao.tanizaki@agricultura.gov.br
    Esplanada dos Ministérios, Bloco “D”, Sala 346-B, Brasíla/DF

    TUDO POR UM BRASIL / MUNDO MELHOR

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