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Governo negocia adesão ao consórcio internacional que desenvolve a fusão nuclear, tecnologia limpa, sem resíduo radioativo

Apadrinhado pela União Européia, o governo brasileiro decidiu negociar sua adesão plena ao consórcio internacional que desenvolve a chamada tecnologia do futuro na área energética – a geração de eletricidade por meio da fusão nuclear.

O objetivo dos participantes do projeto de Reator Experimental Termonuclear Internacional (na sigla em inglês, Iter) será comercializar, em meados do século, a instalação de usinas capazes de reproduzir as reações de fusão que acontecem em estrelas, como o Sol, para a produção de energia renovável, limpa e, em tese, barata. Por Denise Chrispim Marin, do Estado de S.Paulo, 15/09/2008.

Na negociação, o Brasil espera obter o aval dos atuais sócios do Iter para pagar a totalidade ou parte de sua cota de cerca de US$ 1 bilhão em remessas de nióbio, mineral usado obrigatoriamente no revestimento do reator. O passaporte para o ingresso do Brasil no Iter será a assinatura de um acordo de cooperação na área de fusão nuclear com a Comunidade Européia da Energia Atômica, a ser concluído em 21 de outubro, em Bruxelas.

O acordo permitirá o intercâmbio de cientistas brasileiros e europeus nos centros pesquisadores de ambos os lados. Seu papel essencial, entretanto, será o aval político para o ingresso do Brasil no Iter.

O presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen), Odair Dias Gonçalves, explicou que a ambição do Brasil de participar do consórcio “nunca foi abandonada”. O governo cogitou, em um primeiro momento, atuar como observador no Iter.

Mas, nesse caso, não compartilharia dos direitos de propriedade intelectual do projeto de reator. Para instalar reatores no País, no futuro, teria de pagar pesados royalties. Como sócio do projeto, terá acesso livre à aplicação e desenvolvimento da tecnologia e receberá parcelas de royalties.

Na perspectiva da Cnen, será um grande negócio em um período em que as fontes não-renováveis de energia estarão à míngua. Instituições brasileiras investem nesse campo desde os anos 90. Em 2006, o Ministério da Ciência e Tecnologia decidiu reunir as 16 instituições de pesquisa e os 80 cientistas dedicados ao tema na Rede Nacional e Fusão, coordenado pela Cnen, para estimular a cooperação no País.

Criado pela Agência Internacional de Energia Atômica, nos anos 80, o Iter prepara a montagem, para 2014, do primeiro reator termonuclear em Cadarache, no sul da França, ao custo de US$ 13 bilhões. Neste prazo, o acordo multinacional de execução do projeto deverá estar assinado, com a definição das cláusulas de propriedade intelectual, para que a usina comece a operar em 2016.

Com o reator experimental de Cadarache, capaz de produzir 500 megawatts, os parceiros do projeto terão melhor dimensão do seu potencial comercial. Atualmente, os sócios do Iter são os Estados Unidos, Rússia, Japão, China, Índia, Coréia do Sul e União Européia.

No processo de fusão nuclear, átomos mais leves são unidos entre si para formar outros mais pesados e, dessa forma, gerar grandes quantidades de energia, como acontece nas estrelas. Até o momento, esse modelo foi testado apenas em laboratórios. As vantagens da fusão estão concentradas principalmente nas áreas ambiental e de segurança. Na fusão nuclear, não há emissão de gases-estufa nem resíduos radioativos.

[EcoDebate, 16/09/2008]