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Maringá, PR: Uso de agrotóxicos dobra na região em quatro anos. Fiscalização encontra soja contaminada


A aplicação de fungicidas, herbicidas e pesticidas disparou nas lavouras de Maringá e outros 28 municípios da região, segundo levantamento da Secretaria da Agricultura do Paraná

Um levantamento feito pela Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab) mostra que em quatro anos dobrou o usou de herbicidas, inseticidas e fungicidas nas lavouras da região de Maringá. Por Fábio Linjardi, linjardi@odiariomaringa.com.br, do O Diário de Maringá, PR, 14/08/2008.

No mesmo período houve pequena variação na área de plantio. Para os especialistas da entidade, a disparada no uso dos agrotóxicos está relacionada ao aumento do plantio de soja transgênica e traz riscos ao meio ambiente e à saúde da população.

“Dobrou o consumo de agrotóxicos em quatro anos porque hoje temos 40% de soja transgênica no campo”, avalia o engenheiro agrônomo do Departamento da Fiscalização de Insumos (DFI) da Seab, Edson Belentani.

A vantagem vista pelos agricultores na soja transgênica é que ela é resistente ao herbicida glifosato, cuja função é acabar com o mato da lavoura. Essa resistência seria uma explicação para o aumento do consumo do produto. “A soja transgência é feita para resistir ao glifosato, mas sabemos que todo produto dessa natureza causa algum dano”, comenta o chefe do escritório regional da Seab, Renato Cardoso Machado.

Entre os produtos mais vendidos, as vendas de glifosato subiram 86% em relação a 2004 – de 212.821 litros saltou para 397.45 litros no primeiro trimestre de 2008. O consumo do inseticida metamidofós cresceu 54% no mesmo período, enquanto que o fungicida à base de piraclostrobina mais epoxiconaloze vendeu 18% a mais.

Outro engenheiro agrônomo do DFI, Paulo Bohm, acrescenta que o avanço dos agrotóxicos nos últimos quatro anos se deu por conta do relaxamento do Plano de Manejo de Pragas, projeto que usa produtos naturais para o combate de pragas. “O plano de manejo parece que foi esquecido”, comenta.

Belentani acrescenta à observação de Bohm uma reação do mercado diante do plano de manejo: “Quando os agricultores partiram para isso (plano de manejo), o mercado reagiu, baixando o preço do veneno”, diz.

“Com o preço do veneno baixo, por que o agricultor vai fazer o plano de manejo? Afinal de contas, tem que pegar lagarta na plantação, colocar na geladeira, dá muito trabalho”, complementa.

A área abrangida pelo levantamento sobre o uso de agrotóxicos, elaborado pelo escritório regional da Seab, reúne 29 municípios ? é praticamente a região da Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense (Amusep), estando de fora da regional apenas Paranacity.

O levantamento é feito pela Seab com base nas informações das 54 lojas autorizadas para a venda de agrotóxicos na região. Entre as funções da entidade está fiscalizar a comercialização do uso de agrotóxicos.Maringá é a cidade que mais concentra esses estabelecimento, sendo 12 no total. Marialva, em segundo lugar, tem dez lojas.

A exemplo de determinados medicamentos que só podem ser vendidos nas farmácias com receita médica, o mesmo se dá com os herbicidas, fungicidas e pesticidas: a venda só pode ocorrer mediante a prescrição de um engenheiro agrônomo. Além dessas obrigações, todos os agrotóxicos vendidos têm que estar registrados no Ministério da Agricultura e no governo do Estado. Ainda assim, são constatados exageros. “Algo está acontecendo. Tem produtor que não está seguindo a orientação do engenheiro agrônomo”, avalia Belentani.

Impactos

O professor doutor do Departamento de Geografia da Universidade Estadual de Maringá (UEM), Jorge Villalobos, coordenador do Observatório Ambiental – projeto de extenção da UEM – diz que os abusos do uso de agrotóxicos causam inúmeros danos à saúde e ao meio ambiente.

“O problema não se restringe ao local onde o veneno é aplicado”, comenta. “Só de inseticida foram usados 313 mil litros no primeiro trimestre”, lembra. “O inseticida é dissolvido na água — imagine quanta água não foi gasta e onde ela foi parar”, sugere.

Fiscalização encontra soja contaminada

O abuso no uso de agrotóxicos nas plantações da região de Maringá ficou evidente na safra de verão: de 20 amostras de grãos colhidas em diferentes propriedades, três (15%) estavam com quantidade de veneno acima do tolerado.

A fiscalização foi feita pelo Núcleo Regional da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento do Paraná (Seab). As amostras contaminadas poderão resultar em dor de cabeça para os agricultores. É que o caso será enviado para o Ministério Público do Meio Ambiente.

“Houve má utilização dos agrotóxicos”, afirma o chefe do escritório regional da Seab, Renato Cardoso Machado. A entidade não divulga, por enquanto, de quais plantações vieram as amostras com mais agrotóxicos que o tolerado.

Segundo a Seab, a produção de uva passará “imediatamente – a contar com análises de resíduos de substâncias tóxicas. A fiscalização é inédita. As amostras de uvas serão recolhidas periodicamente na região e enviadas para análise em um laboratório de Curitiba.

“Isso nunca foi feito antes porque é muito caro”, conta o engenheiro agrônomo do Departamento de Fiscalização de Insumos da Seab, Edson Belentani. “Só agora conseguimos verba do governo do Estado para a análise de resíduos nas uvas”, acrescenta.

O município de Marialva (a 20 quilômetros de Maringá) é o principal produtor de uvas da região. De 1,7 mil hectares de videiras na região de Maringá, 1,5 mil hectares (88%) são de Marialva.

[EcoDebate, 15/08/2008]