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Notícia

Empresa do Paraná devasta 13 mil hectares de mata nativa no sul do MA e até agora ninguém disse nada


Uma área de13 mil hectares de cerrado está sendo destruída para produção de carvão vegetal no município de Benedito Leite, no sul do Estado. A Chapada do Machado fica no povoado Olho d’Água na divisa com o estado do Piauí. A área foi adquirida pela mineradora Brascal, do Paraná. Até agora não se tem notícia de qualquer ação para impedir a devastação por parte da Secretaria do Meio Ambiente ou do Ibama. Por Décio Sá, no Imirante.com, Ter, 05/08/08.

A empresa paranaense usa tratores puxados por correntões para destruir toda vegetação nativa da chapada e transformar a madeira em carvão vegetal. A população lamenta que as árvores que fazem parte do complemento econômico dos sertanejos estejam virando carvão para alimentar guserias.


São pés de pequi, bacuri, cajuí, faveira, fava d’anta e tantas outra espécies que não têm valor econômico, mas são levadas pela força das máquinas. Todo carvão é transportado por caminhões e vendido à empresa Cosima, localizada no município de Pindaré-Mirim . O carvão vegetal é utilizado pelas usinas para o aquecimento dos fornos que derretem o minério de ferro e para a fixação do carbono no ferro-gusa.

No início da década de 80 migrantes sulistas chegaram ao sul do Maranhão, com incentivos fiscais e crédito à vontade. As terras devolutas foram vendidas a esses grupos, em detrimento dos apossamentos antigos das comunidades tradicionais. Esse novo modelo de desenvolvimento implantou a monocultura mecanizada da soja e praticamente dizimou o ecossistema da região.


Com a elevação do preço do grão no mercado internacional, a monocultura da soja, nos últimos dez anos, conheceu um crescimento vertiginoso. Expandiu-se sobre o cerrado presente em vários Estados (Mato Grosso, Goiás, Tocantis, Piauí e Maranhão) e consorciou-se com a produção do carvão vegetal para suprir a demanda energética das siderúrgicas. A monocultura da soja tem como método de expansão no Maranhão o desmatamento ilegal e a expulsão dos antigos posseiros.

A destruição causada pela produção de carvão atinge proporções alarmantes. Destinada principalmente a alimentar as 14 indústrias siderúrgicas situadas ao longo da Estrada de Ferro de Carajás, das quais oito estabelecidas em Marabá, no Pará, e seis em Açailândia, no Maranhão, a produção de carvão abastece hoje 37 fornos dessas siderúrgicas, e mais seis altos-fornos estão em fase de construção. Cada alto-forno produz mensalmente cerca de 10 mil toneladas de ferro-gusa, o que perfaz uma produção de 370 mil toneladas de gusa por mês.


Levando-se em conta que cada tonelada de ferro-gusa absorve, em média, 2,7 metros cúbicos de carvão vegetal, o consumo total durante um mês é de praticamente um milhão de metros cúbicos do produto. Considerando-se que são necessários 2 metros cúbicos de biomassa florestal para cada metro de carvão produzido, chega-se ao total de 2 milhões de metros cúbicos de biomassa florestal por mês para abastecer as indústrias de ferro-gusa, o que representa 24 milhões de metros cúbicos de consumo anual.

As três guseiras do Maranhão – Viena Siderúrgica do Maranhão S/A, Ferro Gusa do Maranhão Ltda, Nordeste S/A, Companhia Siderúrgica Vale do Pindaré, Siderúrgica do Maranhão (Simasa), Maranhão Gusa S/A (Margusa) e Companhia Siderúrgica do Maranhão (Cosima) – receberam multas de R$ 200 milhões nos últimos anos pelo Ibama. Estas empresas não conseguem explicar a origem do carvão vegetal consumido e qual a quantidade de ferro-gusa que produzem.

Fica aqui essa grave denúncia para ver se alguém toma alguma providência.

Matéria enviada pelo Fórum Carajás.

[EcoDebate, 07/08/2008]