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poluição atmosférica: Qualidade do ar em Pequim para os Jogos ainda preocupa


A notícia não podia ter vindo em momento pior – a três meses da abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, um estudo afirmava que a China é o país mais poluído do mundo.

Um outro estudo recente da Agência das Nações Unidas para o Ambiente e da Organização Mundial de Saúde mostra que respirar durante um dia na capital chinesa equivale a fumar 70 cigarros. Por Rui Boavida, da Agência Lusa, 30-07-2008 11:55:02.

São indícios que preocupam, naturalmente, os cerca de 10.000 atletas que se preparam para participar nos Jogos Olímpicos, entre 8 e 24 de agosto, já para não falar nos 300.000 chineses que, segundo o Banco Mundial, morrem de forma prematura todos os anos devido a doenças respiratórias.

Em março, o próprio Comitê Olímpico Internacional (COI) admitiu a existência de “alguns riscos” para os atletas que competem em provas ao ar livre que obriguem a mais de uma hora de altos índices de esforço contínuo, como o triatlo, em que a portuguesa Vanessa Fernandes é uma das favoritas, a marcha, o ciclismo e, sobretudo, a maratona.

“Nunca corri numa situação tão poluída e também nunca vi um céu tão poluído”, considerou recentemente Stefano Baldini, campeão olímpico da maratona nos Jogos de Atenas-2004, acrescentando que “a situação é grave e é normal que as pessoas se preocupem”.

“Acredito, no entanto, que é sobretudo um efeito psicológico, porque aqui a poluição vê-se e sente-se no ar. Noutras cidades em que o céu é azul, muitas vezes não se conhecem os reais níveis de contaminação”, disse o atleta italiano.

Baldini exclui a idéia de usar uma máscara para correr. “Seria muito incômodo”, disse. Mas outro dos nomes grandes da maratona, o recordista mundial Haile Gebrselassie, já avisou que não participará na maratona olímpica devido a preocupações com a saúde.

“Não tenho a intenção de me suicidar em Pequim”, disse o atleta etíope, que sofre de asma, em entrevista ao jornal espanhol El Pais.

Segundo um estudo do Ministério chinês do Ambiente, em junho de 2007 a concentração média por metro quadrado de substâncias poluentes nas maiores cidades chinesas, incluindo Pequim, era de 0,053 miligramas de dióxido de enxofre, 0,035 miligramas de dióxido de nitrogênio e 0,1 miligramas de partículas em suspensão, resultantes do trânsito automóvel e da atividade industrial.

Depois destes resultados, o governo municipal de Pequim deitou mãos à obra para tornar a cidade, se não totalmente verde, pelo menos muito menos cinzenta, num plano que atingiu o ponto mais alto a dois meses do início dos Jogos Olímpicos.

“Estamos no bom caminho para satisfazer as promessas que fizemos de assegurar uma boa qualidade do ar para os Jogos Olímpicos”, afirmou recentemente Du Xiaozhong, subdiretor do departamento de proteção ambiental de Pequim.

Na mesma conferência de imprensa, Du anunciou o fechamento de pelo menos 19 fábricas e das obras de construção civil na capital chinesa entre 20 de junho e o final dos Jogos.

De acordo com Du, a China gastou mais de US$ 20 bilhões desde 1998 para tornar Pequim menos agressiva para o ambiente, num plano que envolveu o fechamento de 200 das empresas mais poluentes da cidade.

Os resultados vêem-se hoje sobretudo, afirmou, nos níveis de dióxido de enxofre, dióxido de nitrogênio e monóxido de carbono.

“Não negamos que foi um sacrifício, mas estas medidas melhoraram a tecnologia e a gestão das empresas, aumentando a competitividade”, considerou Du, admitindo, porém, que ainda era necessário reduzir os níveis de partículas em suspensão, tendo para isso de se adotar duras medidas de limitação do trânsito automóvel.

Em meados de junho, o governo chinês anunciou a retirada de mais de um milhão de automóveis das ruas da capital chinesa durante os Jogos, com os de placa ímpar e par circulando em dias alternados.

A medida, que vigorará entre 20 de julho a 20 de setembro e visa reduzir a poluição atmosférica e os engarrafamentos crônicos na capital chinesa, proíbe também a circulação nas sete semanas anteriores à abertura dos Jogos a 70% de todos os veículos governamentais e detidos por empresas públicas.

O objetivo é reduzir para menos de metade os 3,3 milhões de veículos que todos os dias transformam as ruas da capital chinesa num caos de engarrafamentos.

Para complicar os planos de Pequim está, no entanto, o clima. Nos meses de verão da capital é comum um fenômeno conhecido como “inversão”, que coloca um capacete de poluição sobre a cidade, porque a atmosfera estagna devido à falta de vento.

Os atletas olímpicos terão assim de acreditar na capacidade chinesa para limpar a atmosfera e nos próprios dados da China.

É que desde novembro de 2006 que a Administração Meteorológica da China classificou como “segredo de estado” os dados sobre a poluição atmosférica no país. Desde então, as organizações e agências estrangeiras deixaram de poder ter acesso à informação.

[EcoDebate, 31/07/2008]