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Clima e Desmatamento: A Floresta e o Clima

Se a humanidade tivesse de pagar por serviços ambientais que as florestas tropicais prestam – seja pelo controle climático ou pelo ciclo de carbono -, logo descobriria o verdadeiro custo de sua devastação. Elas reciclam cerca de 8% do carbono global presente na atmosfera. Parece pouco, mas trata-se de um processo crucial para a vida na Terra. E fazem isso simplesmente ao existirem: por meio da fotossíntese, as plantas absorvem o CO2 presente na atmosfera e acumulam biomassa na forma de troncos, raízes e folhas. Tornam-se, assim “armazéns” gigantes de carbono. Qualquer distúrbio nesses “armazéns”, como os resultantes do desmatamento, tem efeitos no ciclo de carbono global e impactos negativos sobre a atmosfera do planeta. Do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM).

Existem também distúrbios menos visíveis. Um caso comum é o dos episódios de secas mais intensas do que o normal que se repetem com certa regularidade na Região Amazônica. A principal causa é a ocorrência do fenômeno climático conhecido como El Niño. O El Niño surge do aquecimento das águas de superfície do Oceano Pacífico na altura da costa do Peru. Durante os anos em que ocorre o El Niño, mais de 35% da Amazônia brasileira é afetada por uma estiagem intensa. Com o avanço do aquecimento do planeta, a tendência é que episódios de El Niño fiquem mais freqüentes e severos. Para se ter uma idéia do efeito de episódios severos de secas influenciados por este fenômeno climático, a redução de chuva num ano pode chegar a 60%, favorecendo os incêndios florestais. A contribuição estimada dos incêndios florestais para as emissões amazônicas de gases de efeito estufa, somente durante o El Niño de 1998, foi, em média, de 200 milhões de toneladas de carbono (o equivalente ao emitido derrubando por completo a floresta). Naquele ano, 30% das florestas da região estavam sob elevado risco de incêndio. O fogo atingiu neste mesmo ano, uma área de 1,3 milhões de hectares de floresta no Estado de Roraima e outros 2,5 milhões de hectares no sul do Pará e norte de Mato Grosso.

Cerca de 200 bilhões de toneladas de carbono estão estocadas na vegetação tropical que cobre o planeta. A fotossíntese realizada pela vegetação florestal absorve uma quantidade enorme de carbono da atmosfera a cada ano. Somente a Floresta Amazônica é capaz de absorver seis bilhões de toneladas, o equivalente a 10% da fotossíntese das terras do mundo.

A maior parte dessa absorção é compensada, contudo, pela liberação de carbono através da decomposição da matéria orgânica e a respiração da própria floresta. A parte restante pode estar sendo absorvida pela floresta, transformando-se em um sumidouro de carbono (estudos recentes demonstram que a floresta ainda está crescendo, ou seja, absorvendo carbono).

Apesar do papel de sumidouro das florestas tropicais ainda ser polêmico no meio científico, é a sua degradação e derrubada que gera grandes impactos sobre o clima. O desmatamento tropical tem resultado em grandes emissões de GEE, especialmente o gás carbônico (CO2).

Um experimento, chamado Seca Floresta, avaliou como o clima de seca e calor previsto para a Amazônia, em função do agravamento da mudança climática global, afetaria a floresta nativa. Realizado pelo IPAM, em parceria com a Embrapa, o Ibama e o The Woods Hole Research Center, o trabalho simulou uma seca artificial em um hectare (100 X 100 metros) da Floresta Nacional do Tapajós, no Pará. A principal conclusão do estudo foi que a Floresta Amazônica é extremamente resistente à seca. O motivo dessa resistência reside na capacidade das árvores em acessar a água que está estocada no solo profundo (mais de 20 metros).

No entanto, essa resistência tem um limite. Após três anos consecutivos de estiagens severas, há um declínio substancial na atividade de floração e frutificação e uma redução no crescimento das árvores. Um menor crescimento implica em menos absorção de gás carbônico da atmosfera, um dos principais gases de efeito estufa. As implicações de uma seca severa e prolongada sobre uma área maior – por exemplo, toda a Amazônia – são desconhecidas. Mas os resultados do Seca Floresta apontam para o colapso da floresta, mesmo que intacta, caso se concretizem as previsões de mudança do clima global. (Veja Projeto Seca Floresta)