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Notícia

Centro de Proteção de Primatas Brasileiros – A ciência aplicada à conservação

[CPB/ICM] O Centro de Proteção de Primatas Brasileiros, do Instituto Chico Mendes, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente, completou seis anos de existência. São quase 30 estudos científicos, distribuídos em seis projetos de pesquisa, voltados para conservação de seis das dez espécies de primatas brasileiros consideradas criticamente em perigo pela UICN.

Atualmente o CPB destaca-se como um centro de referência na pesquisa com primatas aplicada à conservação, graças ao trabalho de uma equipe bem escolhida, infra-estrutura moderna que inclui banco de material biológico, sede própria e um completo aparato difusor de imagens e informações na área da primatologia. Em 2005, o órgão foi o principal organizador do Workshop que serviu de base para criação do Comitê Internacional para Conservação e Manejo dos Primatas Amazônicos e, em 2003, foi o co-organizador do III Simpósio sobre Micos-Leões, realizado em Teresópolis, Rio de Janeiro.

Atuação

O Centro de Proteção de Primatas Brasileiros (CPB) foi criado em 18 de outubro de 2001, através da Portaria Nº 148 e referenciado no Decreto Nº 5.718, de 13 de março de 2003. Integrado aos objetivos macros da Instituição, atua na ampliação do conhecimento sobre biodiversidade da fauna primatológica brasileira, de forma a subsidiar o governo na tomada de decisões e na aplicação de medidas efetivas para a conservação e o manejo das espécies. Desta forma trabalha dentro dos seguintes objetivos institucionais:

– Desenvolve pesquisas e ações aplicadas à conservação da fauna primatológica brasileira, com ênfase nas espécies ameaçadas;
– Monitora e pesquisa a ocorrência de zoonoses e epizootias em populações selvagens e cativas de primatas no Brasil;
– Presta informações sobre os primatas brasileiros, difundindo
conhecimento qualificado sobre sua biologia, conservação e manejo;
– Apóia tecnicamente às unidades do Instituto Chico Mendes em todas as situações que requeiram assistência especializada no manejo de primatas.

Estudos Científicos

Na área da Pesquisa, o Centro vem desenvolvendo vários projetos voltados para conservação de seis das dez espécies de primatas brasileiros consideradas criticamente em perigo pela UICN, assim como para o conhecimento mais amplo e especializado de outros primatas de interesse para a conservação da biodiversidade brasileira. Os primatas em situação crítica de ameaça são espécies endêmicas às regiões Nordeste e Norte do país, praticamente desconhecidas para ciência, cujo conhecimento disponível até 2003 era insuficiente para definição de medidas efetivas de conservação. O CPB vem desenvolvendo seis projetos de pesquisa, manejo e conservação. São eles:

Projeto Guigó: Voltado para as espécies Callicebus coimbrai e Callicebus barbarabrownae, sua área de atuação abrange todo estado de Sergipe e Norte da Bahia. Desde 2004 foram realizadas várias expedições para inventário e mapeamento das populações remanescentes destas espécies, cobrindo mais de 10 mil km. Como resultado foram identificadas 65 populações além das 16 anteriormente conhecidas e selecionadas sete áreas para proposição de uma unidade de conservação.

Estão sendo realizados estudos em genética molecular e citogenética com ambas espécies, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ) e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

Projeto Ululata: Relacionado à conservação do Alouatta ululata, espécie de guariba (bugio) pouco conhecida, com distribuição geográfica abrangendo o noroeste do Ceará, centro-norte do Piauí e sul do Maranhão. A pesquisa em inventário e mapeamento das populações da espécie inicada em 2004 realizou oito expedições que percorreram mais de 30 mil Km em diversos tipos de ambientes como matas serranas, matas de cocais; cerradão, caatinga e manguezais. Até o momento foram identificados cerca de 99 populações, cujos resultados parciais já são suficientes para redefinir o status de ameaça da espécie e indicar medidas estratégicas para sua conservação.

Projeto Kaapori: Iniciado em 2005 e voltado para conservação do Cebus kaapori, rara espécie de caiarara (variedade de macaco-prego) descoberta em 1992, com distribuição restrita aos estados do Maranhão, Pará e Tocantins. Em menos de dois anos foram realizadas quatro expedições, investigando 110 áreas. Os resultados até o momento obtidos revelam uma grave situação de ameaça para espécie, com indicação de existência de apenas oito populações e vários relatos de extinções locais em conseqüência do desmatamento e da caça.

Projeto Cebus: Iniciado em 2005 com o objetivo de investigar variações fenotípicas encontradas nas populações nordestinas de macacos-prego.

Este projeto rendeu um extenso e criterioso estudo taxonômico em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e apoio do CNPq, que culminou com a redescoberta de Cebus flavius, espécie de macaco-prego registrada inicialmente por George Marcgrave em 1648 e descrita por Johann Schreber em 1774. Restrita à Mata Atlântica Nordestina, esta espécie permaneceu um mistério para ciência por mais de 300 anos, até a publicação do artigo científico com a sua redescoberta, em julho de 2006 no Boletim do Museu Nacional.

Está em curso também, o inventário e mapeamento das suas populações remanescentes, trabalho que já investigou 105 áreas, abrangendo 67 Municípios nos estados do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

Foram até o momento encontradas 10 populações, o que indica que Cebus flavius deve ser considerada uma espécie criticamente em perigo de extinção.

Outros dois trabalhos de pesquisa em andamento abordam a ecologia comportamental da espécie e realiza um estudo inédito em medicina da conservação, para definição dos parâmetros clínicos da espécie.

Projeto Primatas do São Francisco: Voltado para o diagnóstico do estado de conservação das populações de primatas existentes ao longo da Bacia do Rio São Francisco, este projeto trata da recuperação de toda a fauna primatológica inserida em um contexto regional, que atravessa diferentes biomas, e que envolve não apenas espécies reconhecidas como criticamente em perigo. Foram identificadas e mapeadas populações de nove espécies, entre primatas criticamente em perigo, não ameaçados e invasores.

Medicina da Conservação

O CPB tem em sua organização interna um setor de medicina da conservação, dedicado ao acompanhamento e estudo de casos de ocorrência de doenças (zoonoses e de epizootias) envolvendo primatas brasileiros. Duas pesquisas estão sendo realizadas pelo CPB. A primeira, em parceria com o Ministério da Saúde (MS), a Universidade de São Paulo (USP), o Laboratório Central de Pernambuco (LACEN-PE) e a Superintendência do IBAMA no Rio Grande do Norte (SUPES-RN), investiga a ocorrência de epizootias em populações de saguis (Callithrix jacchus) no Município de Natal (RN).

A segunda pesquisa estuda e monitora a ocorrência de mortes em populações selvagens e cativas de primatas brasileiros. Este trabalho está sendo feito em parceria com o Ministério da Saúde e tem por objetivo a identificação e controle de focos de febre amarela silvestre.

Banco de Material Biológico – A fim de atender os estudos em genética, clínica e patologia realizados pelo CPB, foi estruturado um banco de material biológico que conta atualmente com 195 exemplares de amostras de 18 espécies de primatas brasileiros, oriundos de diversas localidades brasileiras, credenciado pelo CGEN em 2005.

Apoio ao Ibama

O CPB também dá assistência especializada ao IBAMA, auxiliando o trabalho dos Centros de Triagem de Animais Silvestre (CETAS) que inclui identificação, exames clínicos e laboratoriais, o atendimento à distância através de imagens fotográficas enviadas eletronicamente; além do esclarecimento de dúvidas sobre conduta clínica, dieta, e outras informações para o manejo de primatas em cativeiro.

No apoio ao IBAMA inclui também o estudo para solução de conflitos entre populações humanas e populações de macacos-prego e de situações de espécies ameaçadas por outras espécies invasoras.

por Aldo Sergio Vasconcelos, Comunicação e Marketing/ CPB/ICM

publicado pelo EcoDebate.com.br – 24/10/2007