EcoDebate

Plataforma de informação, artigos e notícias sobre temas socioambientais

Artigo

Instalação de termelétrica (1), por Nelson Tembra

[EcoDebate] Ao longo do último século, principalmente após a Revolução Industrial, os países começaram uma vertiginosa escalada de crescimento econômico, o que gerou o aumento da demanda energética, não só em função das necessidades das indústrias em expansão, mas também por causa do crescimento da população mundial. A conseqüência mais direta é o aumento da temperatura média do planeta em função da concentração de CO2, numa média de 0,4% anuais. Este aumento se deve principalmente à utilização crescente de combustíveis fósseis e à destruição das florestas tropicais.

Encerrou, 28 de Setembro de 2007, rodada de audiências públicas convocadas pelo Ministério Público do Pará, para discutir o projeto da Companhia Vale do Rio Doce que pretende instalar uma Usina Termo Elétrica – UTE alimentada por carvão mineral em Barcarena.

As reuniões servirão de base na análise da Secretaria de Meio Ambiente – SEMA, que definirá se a obra receberá licença prévia. A aprovação desse projeto deve passar por uma rigorosa análise quanto a eficiência dos sistemas de tratamento propostos dos efluentes sólidos, líquidos e gasosos que serão gerados, bem como, os quantitativos que serão lançados no meio ambiente.

A aprovação do projeto poderá representar uma importante contribuição para aceleração do processo de aquecimento global, na medida em que, através da queima de combustíveis fósseis, no caso o carvão mineral, devolverá abruptamente à atmosfera aquilo que a natureza levou milhões de anos para retirar e acumular no sub-solo, sem mencionar os sérios casos prováveis de perturbação à saúde humana.

A opção pelo carvão mineral, certamente, é a alternativa mais econômica. É mais imediato, mais fácil e barato para a empresa importar o carvão mineral da Austrália ou da China, do que investir em alternativas ecologicamente corretas em larga escala de forma permanente, porém mais onerosas, tendo que enfrentar a legislação ambiental brasileira. Qual a razão para não terem planejado um forte programa de reflorestamento permanente para produção de carvão vegetal nas áreas já degradadas do Pará? Isso seria mais vantajoso, pois geraria menos poluição e teria um impacto social e econômico infinitamente maior, através da geração de emprego e renda e da inserção econômica das áreas de antropismo. Além disso, as áreas de reflorestamento, durante a fase de desenvolvimento das espécies cultivadas, gerariam importantes quantidades de créditos de carbono, contribuindo para a redução do aquecimento global.

Queimar significa desencadear reações poderosas, muitas delas irreversíveis; significa basicamente oxidar o carbono e alguns outros elementos (inorgânicos e metálicos), consumindo o ar, portanto consumindo o oxigênio e o nitrogênio do ar. Queimar não é somente esquentar muito, mas esquentar rapidamente, mudar pressões e densidades dos materiais, modificarem combinações químicas e moleculares, mantendo-se, entretanto, a soma total de massa e energia constante, conforme os princípios da termodinâmica.

Os estudiosos das ciências naturais consideram a queima como uma reintrodução dos elementos, de seus íons e compostos nos ciclos bioquímicos prevalecentes, uma reintrodução de origem antropogênica. A queima lança no ar e deixam no chão, nos locais da queima e nas instalações onde se deu a queima, três tipos principais de substâncias e de compostos: 1) os hidrocarbonetos – CxHy -, inclusive os aromáticos e os policíclicos aromáticos (P.C.A.), os óxidos (CO, CO2) e os fotos oxidantes, como o peroxi-acetil-nitrato (P.A.N.); 2) os elementos inorgânicos, (Enxofre – S -, o Nitrogênio -N -, o Potássio – K -, o Flúor – F – dentre outros) mais os seus compostos oxidados (SO2, NO, NO2, p.ex.) ou combinados com hidrogênio (p.ex.HF. HNO3) ou com metais (nitratos, sulfatos); 3) pequenas proporções de metais pesados, ou de íons, sais e óxidos destes metais (p.ex. Al, As, Cu, Hg, Pb, Cd, Cr, Sb).

Estas substâncias e compostos provêm da queima dos numerosos materiais há muito tempo utilizados pelos homens: lenha, carvão vegetal, turfa; óleos e tortas obtidos das carnes e vísceras animais, das sementes e dos grãos; bagaços, palhas, cascas e fibras dos gêneros alimentícios beneficiados ou processados. Mas os atuais coquetéis poluentes provêm principalmente da queima de carvão de pedra (mineral), (antracita, hulha, linhita), dos óleos minerais e dos gases do subsolo, e provém da queima de qualquer um dos seus derivados, inclusive das sucatas e resíduos destes produtos (p.ex. queima dos restos de plásticos e borrachas).

O resultado imediato de cada queima é, portanto a produção de outros compostos, gases, misturas de gases, vapores, líquidos e partículas em suspensão, cinzas e borras. Mas o resultado acumulado de todas as queimas é uma enorme desproporção entre as quantidades e as concentrações hoje emitidas – e aquelas quantidades e concentrações estimadas para a nossa era geológica, até um ou poucos séculos atrás. Isto vale para o CO, para o CO2, para os CxHy (destacando-se o metano e o benzeno), vale para os SOx e NOx, para a grande maioria dos compostos inorgânicos e para alguns dos compostos foto-oxidantes; esta desproporção é um verdadeiro salto qualitativo inédito.

São necessárias precauções antes de aprovar tais licenças ambientais, pois a concepção do projeto se choca aos procedimentos preconizados por Rio ECO – 92, o Protocolo de Kyoto e Convenção Quadro sobre mudanças do Clima (UNFCCC), que são adotados por países mais desenvolvidos e até por alguns menos desenvolvidos que o Brasil, os quais refugam e proíbem o emprego de tal alternativa em seus territórios. Enquanto políticos de diversas partes do mundo chegaram, em fevereiro de 2007, a um novo acordo para amenizar as mudanças no clima do planeta, pois vários países concordaram que as nações em desenvolvimento têm de reduzir emissões de carbono, assim como os países ricos, a Vale pede licença para trilhar o caminho inverso na Amazônia, apesar de seu tão propagado compromisso com o meio ambiente.

Instalação de termelétrica (2)
Pesquisando na internet sobre radioatividade, encontrei um exemplo que abrange muitos setores industriais, em especial a siderurgia, que é a queima do carvão mineral que contém elementos radioativos como urânio e tório. Uma avaliação do impacto radiológico resultante da queima do carvão para gerar energia elétrica vem sendo realizada no Reino Unido, pelo National Radiological Protection Board (NRPB), considerando várias formas de exposição: liberação de cinzas e radônio para atmosfera, descarte de cinzas, uso desse material como subproduto industrial e outras. Resultados preliminares indicam que as exposições mais elevadas resultam do emprego das cinzas na construção civil e que a liberação na atmosfera contamina a vegetação local.

Entre as indústrias em que os problemas de exposição à radiação podem ser mais significativos destacam-se as do ciclo de lavra e beneficiamento de minerais. Isso porque alguns minerais, ao se formarem, incorporaram urânio e tório em proporções superiores à média da crosta terrestre. A extração e o processamento industrial alteram as condições físico-químicas que esses materiais apresentam na natureza, o que pode levar ao lançamento de parcelas significativas dos elementos radioativos no meio ambiente. O aumento da radioatividade natural em resíduos sólidos da mineração, efluentes líquidos e emissões gasosas, e também em produtos e subprodutos que venham a ser usados por outros setores industriais, como as cinzas na construção civil, pode resultar em maior exposição de trabalhadores e da população em geral.

Por determinação da Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, o Instituto de Radioproteção e Dosimetria – IRD vem coordenando um programa de pesquisa bastante amplo para avaliar a extensão do problema no país, em especial no setor mineral, definir linhas de investigação prioritárias e propor estratégias de atuação em função dos resultados obtidos. Também é avaliada a exposição de operários nos locais de trabalho, incluindo determinação de elementos radioativos no organismo (em amostras de urina e fezes) e em aerossóis (partículas suspensas no ar), e do radônio acumulado nos locais de trabalho. Estuda-se ainda a viabilidade da alteração das rotas de processo e da recuperação econômica de resíduos, visando reduzir impactos ambientais.

Para estudar as implicações ambientais dessas atividades foi desenvolvida uma metodologia de trabalho que começa na análise detalhada do processo operacional da indústria. A seguir, a presença de elementos radioativos e não radioativos é identificada em amostras colhidas ao longo do circuito operacional.

Em função das exposições estimadas calculam se os riscos radiológicos à saúde humana. Em uma mineração de carvão investigada, o problema principal está no alto teor de urânio medido nas drenagens ácidas. A detecção de valores de radioatividade em torno de 100 becquerels por litro (Bq/l) nas águas resultantes dessas drenagens impede seu lançamento no ambiente sem qualquer tratamento, pois poderão expor a população a doses acima dos limites recomendados pela Comissão Internacional de Radioproteção (ICRP, sigla em Inglês).

Cabe destacar ainda dois trabalhos de pesquisadores do IRD sobre o emprego do fosfogesso, como material de construção e como fertilizante agrícola. O primeiro demonstrou que a inalação do isótopo 220 do radônio e de seus descendentes de vida curta emanados das paredes de um cômodo em cuja construção o fosfogesso tenha sido usado como componente da argamassa (e ainda com baixa ventilação e sem proteção – tinta – nas paredes) exporia um morador a até 80% do valor de dose total. O segundo estudo indicou que os valores de dose individual resultantes da ingestão de produtos cultivados com o fosfogesso como fertilizante não representam um aumento de risco que impeça esse uso, mesmo no caso de aplicações sucessivas durante 100 anos.

O aumento da radioatividade ambiental provocado por atividades humanas é um tema sujeito a intensa investigação. Para ampliar a discussão dessa questão no país, o IRD e a Sociedade Brasileira de Biociências Nucleares (SBBN) realizaram no Rio de Janeiro, no ano passado, o 2º Technological Enhanced Natural Radiation Symposium (Simpósio sobre Radiação Natural Tecnologicamente Intensificada). Foram abordados, no encontro, aspectos relacionados ao monitoramento desses materiais, às técnicas de medida, à avaliação das exposições de indivíduos do público e trabalhadores, à experiência dos setores industriais, à recuperação de áreas contaminadas e à legislação sobre o problema.

Nelson Tembra – Engenheiro Agrônomo e Consultor Ambiental, com 27 de experiência profissional. Assessor Especial Nível Superior da Prefeitura Municipal de Portel, Estado do Pará. Função: conduzir a implantação do Sistema Municipal de Meio Ambiente deste município da Meso Região do Marajó. Esta posição, aliada a sua formação educacional e vinte e sete anos de experiência profissional em assessoria, consultoria, planejamento e elaboração de projetos o habilitam a desenvolver trabalhos em diferentes áreas de atuação.

Originalmente dedicado a serviços de licenciamento ambiental, desde o ano 2000 intensificou atividades em pesquisas com projetos próprios de engenharia agronômica, destacando-se a produção de hortigranjeiros, piscicultura e avicultura, desde a escala familiar até a industrial, utilizando a técnica do cultivo protegido em estufas e ferti-irrigação.

Experiência profissional

Prestou serviços para a Organização dos Estados Americanos (OEA), sobre a perspectiva de expansão da oferta de frutas tropicais, reunindo técnicos, apresentando relatório da pesquisa efetuada, discutindo e apresentando propostas para avanço, sintetizando conclusões, elaborando programa de expansão da oferta de frutas tropicais, articulando entidades e técnicos, definindo subprojetos e atividades, atribuindo co-responsabilidades e quantificando meios e cronogramas do programa.

Dentre os mais recentes serviços técnicos prestados na área ambiental destacam-se a participação nos Diagnósticos Ambientais e nos Estudos de
Impactos Ambientais (EIA’s – RIMA’s), dos Projetos Bauxita de Paragominas, da Companhia Vale do Rio Doce, bem como do Projeto de Lavra e Beneficiamento de Níquel Laterítico, Projeto Onça-Puma, no Município de Ourilândia do Norte, Estado do Pará.

Escreve crônicas sobre temas técnicos, sócios econômicos, ambientais e fundiários na Amazônia, em sites nacionais e internacionais.

artigo publicado pelo EcoDebate – 16/10/2007